sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

4 - A Crise da Bossa Nova no Brasil - 10ª Parte


10ª parte

Em 1980, João Gilberto faz mais um disco maravilhoso: JOÃO GILBERTO PRADO PEREIRA DE OLIVEIRA, é um disco ao vivo tirado de um especial da TV Globo em homenagem a João Gilberto, as músicas do disco são: Menino do Rio, de Caetano Veloso, Curare, de Bororó, Retrato em branco e preto, uma gravação espetacular de Chega de Saudade, cantando ao lado da filha Bebel Gilberto, Desafinado, O Pato, a belíssima Eu e a brisa, de Johnny Alf, Jou Jou Balangadás, de Lamartine Babo, ao lado da cantora Rita Lee, num inesperado e sensacional dueto a bela Canta Brasil, a sempre emocionante Aquarela do Brasil, Bahia com H, de Denis Brean, Tim tim por tim tim, de Haroldo Barbosa e Geralgo Jacques e o belíssimo bolero Estate, de Bruno Martino e Bruno Brighetti, cantado em espanhol.


Também em 1980, com 12 anos de atraso, o Brasil finalmente conhece uma cantora e compositora maravilhosa: a legendária Joyce. Joyce gravou seu primeiro disco em 1968, mas o sucesso popular só veio com esse maravilhoso disco chamado FEMININA. Nesse disco, Joyce mostrou aos brasileiros, que é um país machista, que uma mulher poderia ser não só uma grande intérprete, mas uma extraordinária compositora como ela é. As faixas desse disco são: a esplendorosa Feminina, o manifesto feminista da Joyce, que acabaria depois sendo sua música mais famosa em todo mundo, Mistérios, a bela e simples Clareana, uma espécie de canção de ninar para as filhas: Clara Moreno e Ana Martins, a brasileiríssima Banana, Revendo amigos, a maravilhosa Essa mulher que foi gravada pela Elis Regina, Coração de criança, Da cor brasileira, a espetacular Aldeia de Ogum, uma música instrumental que tem o espírito dos afrosambas de Baden e Vinícius de Moraes e no final tem a música Compor. Apesar do grande sucesso desse disco, especialmente das músicas Feminina e Clareana, Joyce hoje em dia evita gravar músicas desse disco. Ela falou em uma entrevista que não gosta de gravar essas músicas hoje em dia, pois ela quer gravar músicas novas e hoje acha essas músicas meio ultrapassadas especialmente Clareana, ela falou que atualmente não compõe músicas como naquela época. Outro motivo que ela explicou, é que quando essas músicas Clareana e Feminina fizeram um grande sucesso no Brasil, o diretor da gravadora dela na época falou que queria mais músicas como essas a cada três meses, o que ela ficou brava e saiu da gravadora e alguns anos depois ela sairia do Brasil e iria fazer uma carreira internacional fazendo grande sucesso mundial, especialmente na Europa e no Japão.

No mesmo ano é lançado o disco ARCA DE NOÉ, que era um programa infantil de televisão da Rede Globo, que foi baseado num livro de Vinícius de Moraes e só tinha músicas de Toquinho e Vinícius. O disco tem várias participações e as músicas são: A arca de Noé, cantada por Chico Buarque e Milton Nascimento, O Pato, numa gravação antológica do MPB-4, A corujinha, com Elis Regina, A foca, com Alceu Valença, As abelhas, com Moraes Moreira, A pulga, com Bebel Gilberto, Aula de piano, com as Frenéticas, A porta, com Fábio Júnior, a clássica A Casa, com o Boca Livre, São Francisco, com Ney Matogrosso, O gato, com a Marina Lima, O relógio, com Walter Franco, Menininha, com Toquinho e O final, orquestrado.



Também em 1980, Tom Jobim lança o belo disco duplo TERRA BRASILIS, que reúne todas as fases de sua carreira até então, as músicas do disco são: Dreamer, versão em inglês de Vivo Sonhando, Canta, canta mais, Olha Maria, Samba de uma nota só, Dindi, Quiet nights of quiet stars, Marina del Rey, Off key, versão em inglês de Desafinado, a linda Você vai ver, onde canta com a mulher Ana Lontra Jobim, uma versão instrumental belíssima de Estrada do Sol, uma versão meio soul de Garota de Ipanema com piano elétrico, Chovendo na roseira, Triste, Wave, Someone to light up my life, Falando de Amor, a fenomenal e até então inédita Two Kites, música originalmente em inglês onde ele fala das “coxas celestiais” da mulher amada, Modinha, Sabiá e Estrada Branca. Esse foi o último disco que o Tom fez com arranjos do Claus Orgeman. A bela capa do disco foi feita pelo filho Paulo Jobim.

No mesmo ano, no dia 9 de Julho, acontece mais um fato importante: morre o poeta Vinícius de Moraes, já vinha tempo que ele não estava bem, vivia mal por causa da bebida, várias vezes os médicos pediram para ele parar de beber, ele parava, mas quando melhorava tomava de novo. No dia 8 de Julho, ele e Toquinho, estavam na sua casa no Rio de Janeiro, fazendo os últimos reparos para a trilha sonora da Arca de Noé, já era bem tarde quando acabaram e Vinícius falou que ia tomar um banho e então Toquinho foi dormir. Ao amanhecer, a empregada de Vinícius o encontra esparramado em sua banheira e grita para a mulher de Vinícius e Toquinho para ir correndo, Toquinho ainda encontra Vinícius vivo, mas logo depois ele morre. Foi uma comoção nacional a morte do poetinha. No enterro, uma atriz joga uns goles de uísque no caixão, uns aplaudem, mas muitos vaiam. É sua última dose de uísque. Tom Jobim, seu grande amigo e parceiro não foi ao enterro, como os dois tinham combinados antes, quem morresse primeiro não iria ao enterro do outro. Ele sofreu muito com a morte do Vinícius, tanto que ele voltou a beber e só a companhia da família fez ele melhorar da tristeza da perda do poetinha. Vinícius viveu intensamente, mesmo sabendo que estava mal por causa da bebida ele continuava até a morte, tem uma frase de uma música do Vinícius em parceria com Toquinho, que reflete bem isso: “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.”

Logo depois o escritor capixaba Rubem Braga, grande amigo do Vinícius, escreve:

Recado de primavera

Meu caro Vinicius de Moraes:

Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma noticia grave: a Primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira Primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou-se nesta Primavera – acho que você aprovaria. O mar anda virado; houve uma lestada muito forte, depois veio um sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violências primaveris. O tempo vai passando poeta. Chega a Primaveira nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui – a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor. Adeus.



terça-feira, 18 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 9ª parte

9ª parte

Na madrugada de 18 de março de 1976, o pianista brasileiro Francisco Tenório Jr. saiu do hotel que estava hospedado, em Buenos Aires, para comer um sanduíche e cumprar um remédio. Tenório Jr estava na Argentina como acompanhante do Vinícius de Moraes e do Toquinho, que faziam uma temporada em Buenos Aires. Ao sair para a rua, deixaa um bilhete na portaria dizendo o que fora fazer e avisando: Volto Logo. Tenório não voltou – nem naquela noite nem nunca. Na verdade, nunca mais foi visto por seus amigos. E seu corpo nunca foi encontrado, tinha 33 anos.

O “desaparecimento” de Tenório ocorreu na véspera do golpe militar contra a presidente Isabelita Perón. Nos anos seguintes, sob a ditadura do general Jorge Videla, a Argentina viveria cerca de 30 mil casos como o dele. Só que os “desaperecimentos” começaram antes do golpe e o de Tenório foi dos primeiros. Tenório era inocente. Com sua aparência, ee poderia ser confundido como um perigoso “intelectual.” Só em 1986, a história começou a se esclarecer: Tenório foi preso, torturado e morto pela Marinha argentina, com a conivência de elementos da embaixada brasileira em Buenos Aires. Ainda de madrugada, Toquinho e Vinícius deram pela sua falta no hotel. De manhã, apreocupação se transformou em pânico, mas com o golpe nas ruas, bombas explodindo e prisões em massa, Buenos Aires já tinha virado um caos. Vinícius foi procurar o embaixador do Brasi em Buenos Aires, Rodolfo Souza Dantas, que concedeu um hábeas corpus, que nunca tenha chegado ao seu destino. O que se passou a partir daí foi monstruoso: os funcionários brasileiros que deveriam procurar Tenório pra protegê-lo fizeram o contrário. Eles o acharam, mas juntaram-se aos seus algozes. Naquela época não se sabia da existência da “Operação Condor”, um esquema clandestino de cooperação entre os países do Cone Sul – uma troca de favores entre os governos brasileiros e demais países sul americanos, para seqüestrar, torturar e matar além fronteiras.

Em 1977, saiu o belo disco MIÚCHA & ANTONIO CARLOS JOBIM, um belo encontro da cantora Miúcha e do Tom Jobim. As músicas do disco são: Vai levando, de Caetano Veloso e Chico Buarque, com participação do Chico, Tiro Cruzado, de Márcio Borges e Nelson Ângelo, Comigo é assim, de José Meneses e Luiz Bittencourt, Na batucada da vida, de Ary Barroso, Sei lá, de Toquinho e Vinícius de Moraes, também com participação do Chico, Olhos nos olhos, de Chico Buarque, a lindíssima Pela luz dos olhos teus, de Vinícius de Moraes, o fenomenal Samba do Avião, do Tom, Saia do Caminho, de Evaldo Ruy e Custódio Mesquita, Maninha, do Chico e com participação do próprio Chico Buarque, Choro de nada, de Eduardo Souto Neto e Geraldo Carneiro e É preciso dizer adeus, do Tom e do Vinícius.

No mesmo ano há um encontro memorável envolvendo Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho e Miúcha, que rendem o histórico disco gravado ao vivo no Canecão: TOM, VINICIUS, TOQUINHO E MIÚCHA, realmente é um disco memorável que foi produzido pelo grande Aloisio de Oliveira, que disse: "Este show já nasceu feito. Estava somente esperando a hora de ser realizado. Quando a gente se encontra participando de uma realização dessa natureza, não se tem a mínima idéia do que ela representada. Tenho certeza de que mais tarde chegaremos à conclusão de que participamos de um dos maiores momentos de nossa música." Essas palavras foram proféticas. O disco começa com a música Estamos aí, que é o tema de abertura do show, depois entra o Vinícius declamando o seu belo e engraçado poema Dia da Criação, depois ele e Toquinho cantam a maravilhosa Tarde em Itapuã, depois Toquinho faz um belo solo no violão em Gente Humilde, do Garoto, com letra do Chico Buarque e do Vinícius, depois os dois cantam a também maravilhosa Carta ao Tom, a seguir entra o Tom e faz uma paródia engraçadíssima da música que se chama Carta do Tom, depois Tom canta a bela melodia de Corcovado e dá show tocando Wave, depois entra a Miúcha e os dois cantam a belíssima Pela luz dos olhos teus, a seguir os dois cantam Saia do Caminho, depois Toquinho e Miúcha cantam Samba pra Vinícius, numa bela homenagem ao poetinha, depois os quatros cantam Vai Levando, a seguir o Tom e o Vinícius cantam a clássica Água de Beber e a inevitável Garota de Ipanema, relembrando a bela Helô Pinheiro, a eterna Garota de Ipanema, depois os quatros cantam Sei lá, depois Vinícius e Miúcha cantam a também bela Minha Namorada, depois os quatros cantam as fenomenais Chega de Saudade e Se todos fossem iguais a você e encerram cantando de novo Estamos aí. Esse show fez tanto sucesso, que acabou sendo levado pra vários lugares do país e até no exterior.

Em 1979, Tom e a Miúcha lançam mais um disco junto: MIÚCHA & TOM JOBIM, as músicas do disco são: a engraçada Turma do funil, que é uma adaptação que o Tom e o Chico fizeram da clássica marchinha de carnaval do mesmo nome, a música tem participação do próprio Chico Buarque, Triste Alegria, da própria Miúcha, Aula de matemática, do Tom e do Marino Pinto, Sublime tortura, do Bororó, Madrugada, de Candinho e do Marino Pinto, Samba do Carioca, do Carlos Lyra e do Vinícius de Moraes, a bela Falando de amor, do Tom, Nó cego, de Cacaso e de Toquinho e a bela e surpreendente musica Dinheiro em penca, uma moda de viola do Cacaso e do Tom Jobim, com participação do Chico Buarque.

Também em 1979, Toquinho e Vinícius lançam o belo disco 10 ANOS DE TOQUINHO & VINICIUS, que comemora os 10 anos da brilhante parceria entre os dois. As músicas do disco são: um pout-pourri que mistura A benção Bahia, Tarde em Itapuã, Tatamirô, Meu pai Oxalá, Canto de Oxum, Maria vai com as outras e de novo A benção Bahia, depois há mais um pout-pourri, que mistura Um homem chamado Alfredo, Sei lá e O poeta aprendiz, depois há mais um pout-pourri, que mistura O velho e a flor, Veja você e Mais um adeus, depois eles cantam o belo Samba de Orly, a Tonga da Mironga do Kabuletê, depois há mais um pout-pourri, que mistura Como dizia o poeta, Testamento, Para viver um grande amor, Morena flor, Samba da volta e Regra três, depois há mais um pout-pourri, que mistura São demais um perigo dessa vida, As cores de abril e O filho que eu quero ter, depois há um último pout-pourri que mistura Chorando pra Pixinguinha, Choro chorado para Paulinho Nogueira e Carta ao Tom, o disco termina com Cotidiano n º 2.

No mesmo ano acontece um fato histórico: o governo militar aqui no Brasil concede anistia a todos os que foram exilados para fora do Brasil, com isso é o fim do AI-5. O hino da anistia é O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, interpretado de forma brilhante por Elis Regina.


terça-feira, 11 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 8ª parte


8ª parte

Em 1973, João Donato volta ao Brasil e grava seu melhor disco: QUEM É QUEM. O disco foi produzido pelo Marcos Valle. As músicas do disco são: Chorou, chorou, Terremoto, a espetacular Amazonas, Fim de sonho, a também espetacular A rã, Ahiê, Cala boca menino, um hip hop de Dorival Caymmi (!), Nanã das águas, Me deixa, a maravilhosa Até quem sabe, Mentiras, com participação de Nana Caymmi e a bela Cadê Jodel, parceria com Marcos Valle. Nesse disco começa a parceria do João com o Gilberto Gil e o Caetano Veloso. Esse foi o primeiro disco do João Donato como cantor, na verdade ele nunca quis ser cantor, só instrumentista, quem o fez mudar de idéia foi o grande Agostinho dos Santos. O canto dele lembra muito do amigo João Gilberto, a inflûencia que um teve do outro não se restringiu as esquisitices e sim o canto e o talento musical, isso é o que importa. Anos mais tarde o João Donato falou: Comecei a fazer letra com um monte de gente. Eu ia gravar instrumental dentro de alguns dias e o Agostinho dos Santos falou: ‘Vai gravar tocando piano de novo? Todo mundo já ouviu isso. Se fosse você, eu gravaria cantando’. Como foi uma resolução apressada, colocamos quatro ou cinco letristas. Tinha uma semana para arrumar letras para 12 músicas. Tinha mais de uma pessoa fazendo letras para a mesma música, sem saber! Eu mandava as fitas para todo mundo e chegavam letras diferentes para a mesma música. Meu irmão (Lysias Ênio) fez a letra para "Até quem sabe" e o Dorival Caymmi tinha feito também. Quando ele leu a letra do Lysias, disse: 'Vou rasgar a minha, a dele está melhor'. E rasgou. Eu não devia ter deixado, devia ter ficado com a letra dele e feito outra música em cima (risos).”

Em 1974, acontece um encontro memorável entre Tom Jobim e Elis Regina, que surgiria um disco também memorável: ELIS E TOM. A direção da Philips verificou que a cantora Elis Regina estaria completando 10 anos no elenco da companhia. Depois dos estrondosos sucessos de “Casa no Campo” e “Águas de Março” nos anos anteriores, o então presidente André Midani perguntou a Elis o que ela queria de presente e logo ouviu: “Gravar um disco de músicas de Tom Jobim... com Tom Jobim”.
A inspiração para este projeto vinha de um velho LP de músicas de Tom e Vinicius de Moraes, lançado em 1959 pelo selo Festa - POR TODA A MINHA VIDA, da cantora Lenita Bruno (1926-1987), que reunia canções camerísticas em arranjos do marido Leo Peracchi (1911-1993), ex-professor de Tom. Então marido de Elis, o também arranjador Cesar Camargo Mariano há muito conhecia o LP. Quando o projeto foi proposto, a direção da gravadora convidou para a produção Aloysio de Oliveira (1914-1995), amigo de todos os envolvidos. O orçamento inicial não permitiria levar Elis, Cesar e Aloysio para os Estados Unidos, onde Tom morava há alguns anos. Seria mais barato trazê-lo para o Brasil, mas por algum motivo ele não poderia viajar. Elis e Cesar foram para Los Angeles, onde Aloysio tinha um apartamento, e foram recepcionados no aeroporto por Tom - que os levou para tomar café em seu apartamento e, claro, para uma primeira reunião.
Havia uma tensão no ar, fruto do constrangimento do jovem casal Elis e Cesar diante do ídolo internacional Tom Jobim. Aloysio havia sugerido algumas músicas, após uma primeira conversa em São Paulo, e já ligava para o maestro Bill Hitchcock - contratado para reger o quinteto de cordas porque, por uma norma do sindicato local, o estrangeiro Cesar não poderia fazê-lo sem uma autorização especial que a burocracia certamente retardaria. Mas, de repente, partiu de Tom uma pergunta: “Quem fará os arranjos?” Tom soubera do projeto através de Aloysio, e o aprovara em poucos dias, mesmo sem saber de muitos detalhes. Elis e Cesar já vinham amadurecendo-o há meses e, naquele instante, a pergunta caiu como uma bomba. Cesar lembra-se de que teve vontade de correr “pra casa da mamãe”. A resposta à pergunta de Tom foi dada por Aloysio, mas demorou como uma eternidade. “Quem vai fazer é o próprio Cesar, que trabalha com Elis desde 1970!”
Tom já ficara tenso no início da conversa, quando lhe fora dito que músicos chegariam do Brasil no dia seguinte. “Me explica direito, por que trazer músicos do Brasil? Aqui temos músicos excelentes!” Ao tomar melhor consciência do que o projeto representava, Tom tremeu. “Peraí, esse negócio é muito importante! É a maior cantora do Brasil! Eu não posso...” Segundo Cesar, o auge daquele misto de charminho e insegurança deu-se a partir da informação de quem faria os arranjos. “Você??!! Mas como?”, surpreendeu-se Tom, para o desespero de Elis e Aloysio. Sem pestanejar, Tom pediu à esposa que lhe passasse os telefones de Claus Ogerman e Dave Grusin, que revelaram-se assoberbados ao serem procurados para um projeto tão em cima da hora e não puderam aceitar. Acabou sendo o próprio Cesar que fez os arranjos, que, aliás, ficaram espetaculares. As músicas do disco eram: a mais famosa gravação de Águas de Março, num dueto inesquecível dos dois, Pois é, do Tom e do Chico, a maravilhosa Só tinha de ser com você, Modinha, Triste, a espetacular Corcovado, O que tinha de ser, Retrato em branco e preto, Brigas nunca mais, Por toda minha vida, Fotografia, Soneto da Separação, do Tom e do Vinícius, a maravilhosa Chovendo na Roseira, do Tom e do Aloisio Oliveira e a bela Inútil Paisagem. Findas as gravações, Tom ligou para Cesar e, numa de suas melhores metáforas, sentenciou: “Eu gosto de tomar banho de banheira, com água parada. Já vocês gostam de tomar banho de chuveiro, com água fresca. Fiquei um pouco assustado quando recebi tanta informação nova, trazida pelos jovens”. Foi sua forma de demonstrar simpatia pelo projeto e pela forma como fora realizado.

Em 1975, João Donato, lança um dos seus melhores discos: LUGAR COMUM. É uma espécie de continuação do sensacional QUEM É QUEM, de 1973. Assim como no anterior o Donato canta na maioria das faixas e a maioria das músicas em parceria com Gilberto Gil e Caetano Veloso. As músicas do disco são: a belíssima Lugar comum, Tudo tem, a maravilhosa A bruxa de mentira, a também maravilhosa Ê menina, a explendorosa Bananeira, que vira um clássico mundial, Patumbalacundê, Xangô é de bauê, a inglês Pretty Dolly, parceria com Norman Gimbell, a mais que espetacular Emoriô, que já foi gravada até em inglês, por ninguém menos que Sérgio Mendes, Naturalmente, a suingada com sotaque latino Que besteira e Deixei recado.


Em 1976, Tom Jobim lança mais um disco memorável o espetacular URUBU. O disco é todo inspirado em seu ídolo Villa-Lobos e é um disco totalmente ecológico. As músicas do disco são: Boto, do Tom e do Jararaca, com a participação de Miúcha, mulher de João Gilberto e irmã de Chico Buarque, a bela Lígia, a fenomenal Correnteza, do Tom e do Luiz Bonfá, Ângela, a também fenomenal Saudade do Brasil, uma música instrumental maravilhosa, Valse, do seu filho Paulo Jobim, a espetacular Arquitetura de Morar e o Homem, tirada do disco SINFONIA DA ALVORADA.


terça-feira, 4 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 7ª parte


7ª parte

Também no início dos anos 70 surge a banda de rock Novos Baianos, que ficaria na história misturando Jimi Hendrix e Beatles com o Samba e a Bossa Nova. No primeiro disco deles foi todo de rock progressivo, que acabou não fazendo sucesso, mas o produtor Nelson Motta agendou um encontro que mudaria para sempre a cara do rock nacional: Novos Baianos com João Gilberto, quando João Gilberto chegou ao apartamento deles o Paulinho Boca de Cantor, que era o empresário da banda, foi abrir a porta e viu um homem de terno e gravata, com um violão pendurado no braço, achou até que era a polícia, era João Gilberto, quando João entrou tocou vários sambas e bossas e os deixaram embasbacados, especialmente na música Brasil Pandeiro, que ser transformaria no maior sucesso deles no disco ACABOU CHORARE, em 1972. Outra história interessante é que diz a lenda que o nome do dsco surgiu quando em uma das visitas do João no apartamento ele levou a filha Bebel, que nasceu em Nova York, ela não parava de chorar, já que ela não sabia falar português direito ainda, ela num portunhol teria falado quando acabou de chorar: Acabou chorare.

Ainda na década de 70, surge a chamada Era disco, mostrada no filme Nos embalos de Sábado à noite. Logo invade também o Brasil, que teria nas Frenéticas como seu maior ícone. Tudo era discoteca, até Tim Maia entrou na onda.

Em 1971, para comemorar seus dez anos de carreira, Nara Leão lança o disco DEZ ANOS DEPOIS. Por incrível que pareça, é seu primeiro disco totalmente cantando Bossa Nova. As músicas do disco são: Insensatez, Samba de uma nota só, Retrato em branco e preto, Corcovado, Garota de Ipanema, Pois é, Chega de Saudade, Bonita, Você e eu, Fotografia, O grande amor, Estrada do sol, Por toda minha vida, Desafinado, Minha namorada, Rapaz de bem, Vou por aí, O amor em paz, Sabiá, Meditação, Primavera, Este seu olhar, Outra vez e Demais. Ela gravou músicas do Tom, do Vinícius, do Carlos Lyra, do Johnny Alf, mas nenhuma do amigo Roberto Menescal. Isso explica porque quase todas as músicas do Menescal eram em parceria com Ronaldo Boscoli, mesmo casada com Cacá Diegues, Nara nunca esqueceu a traição de Ronal do que até 1961 era seu noivo, acabou virando namorado da Maysa e depois se casaria com Elis Regina.

Em 1972, no DISCO DE BOLSO, que foi lançado no jornal O Pasquim, do Rio de Janeiro, tinha a então inédita Águas de Março, de Tom Jobim e Agnus Sei, de João Bosco, um compositor até então desconhecido, que estava começando.

Também em 1972, Wilson Simonal, até então o cantor mais popular do Brasil, sofre um duro golpe. Houve um desfalque na empresa em que Simonal tinha. Seu contador foi acusado, supostamente, de ter praticado o roubo. Pra aumentar a polêmica ele teria contratado algumas pessoas pra bater nesse contador. Durante os interrogatórios, Simonal foi acusado de ser informante do Dops. Foi condenado em 1972. Simonal ficou desmoralizado no meio artístico-intelectual e cultural da época e sua carreira começou a declinar. O jornal O Pasquim acusou-o de dedo duro. No meio d repressão imposta pela ditadura militar, todos os jornalistas da época falaram que Simonal era informante do SNI. A imprensa o condenou. Ele negou veementemente todas as acusações. Naquela época ser acusado de dedo duro era a pior coisa que podia acontecer, com isso praticamente acaba a carreira de um dos maiores cantores do Brasil em todos os tempos. No ano 2000, depois da morte dele é que a OAB declarou que Simonal era inocente.

Para horror tanto de tropicalistas e desbundados quanto de intelectuais engajados Toquinho e Vinícius passam a produzir trilhas musicais para telenovelas. Começam na TV Tupi com Nossa filha Gabriela e, no ano seguinte, numa atitude que parece imperdoável à esquerda mais radical, já estão na TV Globo, musicando a novela O bem-amado.

Em 1975, voltam a gravar dois discos na Itália: TOQUINHO, VINÍCIUS E ORNELLA VANONI e VINÍCIUS E TOQUINHO, O POETA E O VIOLÃO.

Também em 75, a dupla, ao lado da cantora Joyce, fazem um show memorável em Punta Del Leste, no Uruguai.

Graças a sua nova mulher Marta Rodriguez Santa Maria, que é argentina, os dois começam a serem ídolos também na Argentina. Outras duas mulheres que seriam essenciais para o sucesso da dupla na Argentina foram as cantoras Maria Creuza e Marilia Medalha. Primeiro Vinícius convida Maria Creuza, que está casada com Dori Caymmi. Em 71, os três têm um show programado na Boate La Fusa em Buenos Aires, mas como está brigado com Dori, convida Toquinho para substituí-lo. A grife Brasil, apesar da insânia do regime militar, está em alta. O país acaba de conquistar o tri campeonato mundial de futebol. Exporta a imagem de uma nação grande e vitoriosa. Vende. O show em Buenos Aires é transformado no disco VINÍCIUS, TOQUINHO E MARIA CREUZA EM LA FUSA, sucesso nas paradas argentinas. Silvina Perez, empolgada, contrata o trio para uma temporada mais longa na sucursal da La Fusa, em Mar Del Plata.

Os dois parceiros fazem perto de cem shows em Mar Del Plata, acompanhados depois por Maria Bethania, mais tarde por Chico Buarque e, novamente, por Maria Creuza.

Logo depois os dois trocam a boate La Fusa, que se torna pequena para suas platéias, por imensos teatros da capital. Vinícius descobre que o sucesso chegou, em definitivo, numa noite em que ele e Toquinho, apesar da chuva e do frio, lotam sozinhos um ginásio na cidade de Córdoba. "Acho que nos tornarmos argentinos", comunica ao parceiro. "No Brasil, somos ultrapassados. Aqui, eles nos adoram”. Está tudo dito.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 6ª parte


6ª parte

No meio dessa confusão, Vinícius de Moraes cada vez mais ligado à esquerda, começa a fazer parceria com um jovem compositor e violonista chamado Toquinho. Toquinho já era conhecido do público desde 1968, quando fez ao lado de Jorge Ben, a belíssima Que maravilha. Em 1969, já casado com a baiana Gesse Gessy, Vinícius começa a parceria com Toquinho. Por causa de Gesse, Vinícius se muda para a praia de Itapuã, em Salvador, e começa a seguir o candomblé, e passa a freqüentar o terreiro de Mãe Menininha do Gantois, a mais famosa mãe-de-santo da Bahia. Na época da parceira com Baden Powell, o poeta já tinha namorado o sincretismo religioso, mas conservara os olhos recatados de pesquisador. A primeira música da parceria Toquinho e Vinícius seria a espetacular Tarde em Itapuã, quando Vinícius mostra essa maravilhosa praia da Bahia ao seu novo parceiro.

Também em 1968, sai o disco JOYCE, o primeiro disco de uma das maiores cantoras e compositoras do Brasil: a Joyce. Na época com apenas 20 anos, Joyce lança um disco que muitos não entenderam, pois ela era uma jovem cantando músicas mais “boêmias”, sendo a maioria delas composições da própria, e o Brasil vivia uma época muito machista em que não existiam outras compositoras mulheres, sendo que a Joyce foi pioneira, falaram na época, que as músicas do disco eram “músicas de bordéis” e por isso o disco não fez o sucesso que merecia. As músicas do disco são: Não muda não, Bloco do eu sozinho, bela música do Marcos Valle, Improvisado, Ansiedade, Superego, Cantiga da procura, Choro chorado, Ave maria, Anoiteceu, Litoral e Me disseram. Na contracapa do disco tem as palavras meio proféticas do poetinha Vinícius de Moraes:

Eu poderia falar aqui da Joyce morena, um brôto bacana de Copacabana, de olhos verdes, riso meio triste e bôca de menina amuada. Uma garota moderna e considerante, com uma carinha de lua nova em céu de tarde, e toda circunflexa. Gente bem pra frente, como está em moda dizer, e caindo de bossa. Mas prefiro falar de uma outra Joyce, uma que não tem nada a ver com a que se forma este ano em jornalismo pela PUC e que uma noite, há uns dois anos atrás, chegou assim para mim, num espetáculo de que eu participava no "Arena", e disse: "_Eu queria fazer uma entrevista com
você, o cara”. E fêz. Prefiro falar de uma Joyce que aos 11 anos tinha paixão por Tom e colava seus retratos, e desde os 3 ficava ouvindo "Urubu Malandro" sem parar; uma que conhecia Menescal desde menina e que de vez em quando gravava jingles com ele só de farra; uma que antes de completar 20 já fêz por aí umas três dezenas de bons sambas, música e letra, que canta com uma voz linda e afinadíssima, acompanhando-se ao violão com grande sentido harmônico e um ritmo exemplar; uma que foi classificada para as finais do 2º Festival Internacional da Canção e que agora está fazendo uma parceria firme com o meu bom e grande Macalé: outro que quando estourar vai-se ouvir na Conchinchina. Esta Joyce, quando pega o violão e canta (e ela poderia fácil fazer uma carreira só como cantora) diz coisas simples e belas, como em sua "Cantiga de Procura".



"Eu quero encontrar um amigo Que fale da vida comigo
Eu quero uma tarde apagada
Pra que ele me encontre escondida
Igual a qualquer namorada
Que espera na porta enfeitada
Que traga no peito guardada
A mesma tristeza sofrida”.

É dessa Joyce que eu gosto de falar, pois essa é a Joyce que vai dar que falar: a Joyce que é toda musicalidade tem em alto grau o sentido das palavras e conhece o mistério de seu casamento com as notas. A Joyce que aqui está neste LP com seus primeiros anseios, recados e frustrações de amor e entra com o pé direito na moderna canção popular brasileira. E, além do mais, com aquêles olhos verdes e aquela graça toda...Pôxa, assim não vale...
VINICIUS
Rio, junho de 1968.

Em 1969, sai o belíssimo disco MUSTANG COR DE SANGUE, do Marcos Valle, bem inspirado na onda Soul da época. As músicas desse lp são: a espetacular Mustang cor de sangue, que também foi gravada de forma maravilhosa pelo Wilson Simonal, com toda sua pilantragem, a bela Samba de Verão 2, Catarina e o vento, Frevo novo, a maravilhosa Azimuth, Dia de vitória, cantada ao lado dos Golden Boys, Os dentes brancos do mundo, a maravilhosa Mentira carioca, Das três as seis, a espetacular Tigre da Esso que sucesso, O envagelho segundo San Quentin e a bela Diálogo, cantada ao lado do Milton Nascimento. Sem sombra de dúvidas esse é o melhor disco que o Marcos Valle fez.



Em 1970, Toquinho e Vinícius vão para Itália e a convite de Sérgio Bardotti faz várias músicas para crianças que se chamaria na Itália de L'Arca. Logo, Toquinho e Vinícius começam a também ser perseguidos pelo regime militar, e por causa disso passam a ser heróis dos estudantes, por suas lutas pelo regime militar, e apresentariam vários shows pelos circuitos universitários.

Enquanto Vinícius, ao lado de Toquinho, são queridos pelos estudantes, o resto do Brasil passa a tratar a dupla como fazedores de uma música medíocre, que ganharia o nome depreciativo de "easy music", música fácil, eles são perseguidos pelos tropicalistas que estão no auge e a Bossa Nova em baixa. A MPB, perseguida pela censura, sofre a concorrência desleal da música pop que invade as rádios FM. Além disso, eles são vistos pelos militares como comunistas perigosos. Com isso a música brasileira passa a ser desprezada em relação a música pop internacional.

A parceria de Vinícius e Toquinho renderiam outras músicas memoráveis como, por exemplo, Regra Três, A tonga da mironga do kabuletê e a belíssima Aquarela. Vinícius chega a falar que sua parceria com Toquinho, é igual casamento, só faltando o sexo.

Em 1971, a dupla fez dois discos memoráveis: o primeiro se chama SÃO DEMAIS OS PERIGOS DESSA VIDA, com as músicas: Cotidiano n. º 2, Tatamirô, São demais os perigos dessa vida, Chorando pra Pixinguinha, Valsa para uma menininha, Para viver um grande amor, Menina das duas tranças, Regra Três, No colo da serra e Canto de Oxalufã. O outro disco se chama COMO DIZIA O POETA, que tem participação da cantora Marilia Medalha. As músicas do disco são: a esplendorosa Tarde em Itapuã, a maravilhosa Como dizia o poeta, Tomara, que é uma música só do Vinícius: música e letra, Valsa para o ausente, Samba para Gesse, A tonga da mironga do kabuletê, com referências implícitas a Ditadura Militar, A bênção Bahia, Mais um adeus, A vez do Dombe, O grande apelo, Samba da Rosa e Melancia e Coco verde.

Os shows da dupla passam a ser vendidos por estudantes indignados e raivosos como uma reação de esquerda à onda tropicalista e à invasão do pop internacional.

No início dos anos 70, o Brasil recebe muitas influências da black music americana e o maior nome desse movimento no Brasil se chamaria Tim Maia. Tim Maia é fã de Jovem Guarda, Bossa Nova e do recém criado Funk.


sexta-feira, 16 de novembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 5ª parte


5ª parte

Ainda em 1967, sai mais um disco sensacional de Marcos Valle: BRAZILIANCE! A MÚSICA DE MARCOS VALLE, tem a espetacular Os grilos, Preciso aprender a ser só, a também espetacular Batucada surgiu, Seu encanto, Samba de verão, Vamos pranchar, Tanto andei, Dorme profundo, Deus brasileiro, Patricinha, Passa por mim e Se você soubesse.

No mesmo ano, sai outro disco de Marcos Valle: VIOLA ENLUARADA, as músicas desse lp são: a espetacular Viola enluarada, Próton elétron nêutron, Maria da favela, Bloco do eu sozinho, Homem do meu mundo, Viagem, a também espetacular Terra de ninguém, Tião braço forte, O amor é chama, Réquiem, Pelas ruas do Recife e Eu.

Ainda em 1967 sai o filme GAROTA DE IPANEMA, e no mesmo ano sai a trilha sonora com grandes músicos brasileiros como: Elis Regina, Chico Buarque, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Ronnie Von, Baden Powell, Nara Leão e outros. As músicas do filme são: a maravilhosa Noite dos mascarados, do Chico Buarque, num raro dueto da Elis Regina com o próprio Chico, depois tem Lamento no morro, do Tom e do Vinícius, cantada de forma expetacular pela Nara Leão, depois tem Surfboard, do Tom Jobim, interpretada pelo próprio Tom, depois tem Ela é carioca, do Tom e do Vinícius, interpetada pelo Tamba Trio, depois tem Poema dos olhos da amada, do Paulo Soledade e do Vinícius, interpretada pelo próprio Vinícius de Moraes, depois tem A queda, do Tom Jobim, interpreta pelo próprio Tom, depois tem o Tema de abertura da Garota de Ipanema, Por você, do Francisco Enóe e do Vinícius, interpretada pelo Ronnie Von, depois tem a música Chorinho, do Chico Buarque, interpretada pelo próprio Chico, depois tem Ária pra se morrer de amor, do Vinícius, interpretada pelo Baden Powell, depois tem o Rancho das namoradas, do Ary Barroso e do Vinícius de Moraes, interpretada pelo Quarteto em Cy e o MPB-4 e no final tem o Tema da desilusão da Garota da Ipanema, interpretada por Tom Jobim e orquestra regida pelo Eumir Deodato.

Também no ano de 1967, o Festival da canção da Record está fervendo! Têm várias músicas maravilhosas e de estilos bem diferentes, como Roda viva, do Chico Buarque, cantada pelo Chico e pelo MPB4, O cantador, uma bossa maravilhosa, de Dori Caymmi e Nelson Motta, interpretada brilhantemente por Elis Regina, a bela Eu e a brisa, do Johnny Alf, Ponteio, uma fortíssima música de Edu Lobo com o Capinan, que de Bossa Nova não tinha nada e muito mais.

No mesmo festival aparecia um novo ritmo que começaria a deixar a Bossa Nova para traz: o Tropicalismo. Liderado pelos cantores Gilberto Gil e Caetano Veloso, ambos começaram sua carreira por causa da Bossa Nova, mas segundo eles o Tropicalismo era o contrário da Bossa Nova, misturava os sambas tradicionais com guitarras elétricas, inspirados no cantor de Rock Jimi Hendrix e na Jovem Guarda. O Tropicalismo foi uma revolução no meio da ditadura militar, no festival de 67, Gilberto Gil, canta ao lado do grupo Os Mutantes, a bela Domingo no parque e Caetano Veloso canta a espetacular Alegria, Alegria, onde canta ao lado do grupo Beastie Boys, com guitarras eletrétricas, o que provocuprotestos por todos os lados da MPB, que seriam as músicas chaves do Tropicalismo, ao lado da música Tropicália, também do Caetano, começam a inflamar o público a lutar contra a ditadura. Mas quem ganhou o Festival foi Edu Lobo, com a fenomenal Ponteio, com uma interpetação espetacular, junto com a Marilia Medalha e o Quarteto Novo. Com esse festival quem saiu ganhando mesmo foi o Tropicalismo, sendo que músicos como Edu Lobo e Dori Caymmi, detestaram o novo ritmo, inclusive acusando o Gilberto Gil e o Caetano Veloso de traição, com músicas bem diferentes daquela de quando eles chegaram da Bahia, Chico Buarque ficaria neutro.

Em 1968, Chico Buarque faz sua primeira música com Tom Jobim, por intermédio de Vinícius, com grandes ciúmes disfarçados. A música se chama Retrato em branco preto.

No mesmo ano no 3º festival Internacional da Record, Tom e Chico, ganhariam com a belíssima música Sabiá, interpretada por Cybele e Cynara, do Quarteto em CY, ficaria na história, pois receberam uma enorme vaia do público, inflamado pela situação do país que estava sobre o Regime Militar e preferiam Para não dizer que falei de flores, de Geraldo Vandré, que inflamava o povo a lutar contra a ditadura. O Tom inclusive ligou para o Chico, que estava em Paris e falou: "Chico, vem rápido aqui me ajudar!". O que o público não tinha prestado atenção que Sabiá, não era uma música alienada à situação do Brasil e era muito politizada, mas não tinha a rima fácil como em Para não dizer que não falei de flores. O próprio Vandré falou: “Com essa vaia vocês não me ajudam em nada!” O festival pegou fogo, ficou ruim quando toca a música de protesto É proibido proibir, que Caetano canta ao lado dos Mutantes, cabeludos e com guitarras elétricas, quando não achava que poderia pegar mais fogo, eis que surge Sérgio Ricardo cantando a sua música Beto bom de bola, aí a coisa ferveu de vez, a vaia foi geral. Foi tão forte a vaia que Sérgio reclamou que não estava ouvindo a voz dele no microfone, não estava conseguindo nem cantar, de repente ele ficou bravo e fala: “Vocês ganharam, é isso que vocês querem!” e quebrou o violão e o jogou pra platéia enlouquecida, atitude mais rock and roll é impossível!

No mesmo ano surge o disco Tropicália (outro nome do Tropicalismo e nome de uma música de Caetano), no disco estão além de Gil, Caetano e Mutantes, estão Gal Costa, Tom Zé e até Nara Leão. Esse disco mudaria tudo o conceito de música moderna até então. Incluindo muitos falavam que a Bossa Nova era ultrapassada. Anos depois Caetano Veloso pergunta pro João Gilberto o que ele achava da roupa, das músicas e do jeito do pessoal do Tropicalismo e João respondeu: “Eu gosto, mas eu tenho tudo isso aqui na garganta.”

Na mesma época Chico Buarque lança a peça Roda Vida, criticando de maneira clara a ditadura militar, que seria censurada.

Com isso tudo em 1968, é decretado o Ato Institucional n.º 5, que censurou todas as coisas, especialmente as músicas. Com o AI-5 vários artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque, tiveram que ser exilados. O Brasil todo fica de baixo de um enorme medo e a música brasileira começa a decair, com a maioria de seus grandes artistas longe do Brasil, por intermédio do AI-5. A situação do Brasil ficou muito tensa, todos os que o governo acha que farão a revolução comunista no Brasil, são presos, exilados e torturados.


sexta-feira, 9 de novembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 4ª parte


4ª parte

Em 1966 sai o disco DOIS NA BOSSA VOL. 2, também ao vivo. As músicas desse disco são: um Pout-Pourri maravilhoso com as músicas Samba de mudar, Não me diga adeus, Volta por cima, O neguinho e a senhorita, E daí, Enquanto a tristeza não vem, Carnaval, Na ginga do samba, Guarda a sandália dela e de novo Samba de mudar, depois tem a maravilhosa Canto de Ossanha, interpretada de forma brilhante pela Elis, a clássica Tristeza, cantada pelo Jair Rodrigues, Tristeza que se foi, São Salvador Bahia, Louvação, a já clássica Upa neguinho, que virou um hino na voz da Elis, um medley expetacular de Mascarada/Sonho de um carnaval, cantados pelo Jair Rodrigues, Amor até o fim e Santuário do morro.

Em 1966 no 2º festival da canção da TV Record um nome entraria para história da MPB: Chico Buarque. Ele ganharia o festival com a sua música A banda, interpretada por Nara Leão e pelo próprio Chico, empatado com Disparada, de Geraldo Vandré, cantada por Jair Rodrigues. Difícil era saber qual música era melhor, diz a lenda que A banda teria ganho por pouco, mas pra não dá problema entre as torcidas o resultado acabou ficando como empate, justo por sinal.

Chico Buarque sempre teve ligado às artes. É filho do escritor Sérgio Buarque de Holanda e desde pequeno recebia visitas de Vinícius de Moraes, que era amigo de seu pai. Chico fala que seu primeiro disco que comprou foi CANÇÃO DO AMOR DEMAIS, e desde então ficou fã da Bossa Nova, que seria sua maior influência. Apesar de ser amigo de Vinícius, Sérgio Buarque não gostou da Bossa Nova, ele gostava mesmo do samba tradicional, como Noel Rosa e Ary Barroso, outros que influenciariam o filho Chico Buarque. A primeira música de Chico a fazer sucesso foi Sonho de carnaval interpretada, brilhantemente, por Alaíde Costa em 1964. O próprio Chico fala que essa foi o marco zero da sua carreira, ainda ligado a Bossa Nova. O Chico falou anos depois que quem abriu os olhos dele pra seguir outro caminho fora da Bossa Nova foi Edu Lobo. Logo nesse ano, de 166, Chico lançaria músicas que ficariam pra sempre na memória da MPB: como A banda, Ole olá e Pedro Pedreiro.

Também em 1966, mais um disco maravilhoso: OS AFRO SAMBAS DE BADEN E VINÍCIUS, com a presença de Baden Powell, Vinícius de Moraes e o Quarteto em Cy. As músicas do disco eram: a já clássica Canto de Ossanha, Canto de Xangô, Bocochê, a bela Canto de Iemanjá, Tempo de Amor, Canto do cabloco Pedra Preta, Tristeza e Solidão e Lamento de Exu. Sem dúvida esse foi um dos melhores discos da história da música brasileira.

Em 1967, mais um disco memorável: VINÍCIUS E CAYMMI NO ZUM ZUM, com a presença de Vinícius de Moraes, Dorival Caymmi e o Quarteto em Cy. As músicas do disco eram Bom dia amigo, Carta ao Tom (em sua primeira gravação), Berimbau, Tem dó de mim, Broto maroto, Minha namorada, Saudade da Bahia, História de Pescadores, Dia da Criação, Aruanda, Adalgiza e Formosa.

Também em 1967, sai o disco DOIS NA BOSSA VOL. 3, também ao vivo. As músicas do disco são: Imagem, cantada só pela Elis Regina, um Pout-Pourri de Mangueira, com as músicas Mangueira, Fala Mangueira, Exaltação à Mangueira, Mundo de zinco, Levanta Mangueira, Despedida da Mangueira e Pra machucar meu coração, depois tem O ser humano, cantada só pelo Jair Rodrigues, Cruz de cinza, cruz de sal, Serenata em teleco-teco, também cantada só pelo Jair, Manifesto, cantada só pela Elis, mais um Pout-Pourri, chamado Pout-Pourri romântico com as músicas Minha namorada, Eu sei que vou te amar, A volta e Primavera, depois tem Amor de carnaval, também cantada só pelo Jair, Marcha da Quarta-feira de Cinzas, também cantada só pela Elis e Capoeira camará, também cantada só pelo Jair. Depois disso o Fino da Bossa acaba, por falta de audiência, infelizmente.




domingo, 4 de novembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 3ª parte


3ª parte

Em 1965, a TV Excelsior de São Paulo promove o I Festival de Música de São Paulo, o primeiro lugar é da música Arrastão, de Vinícius de Moraes e de Edu Lobo, a música é cantada pela então desconhecida Elis Regina, que também ganharia o prêmio de melhor intérprete. No festival Elis mostra sua coreografia girando os braços como se fosse um helicóptero, que foi ensinada pelo coreografo americano Lennie Dalle. Logo ganha o apelido de Hélice Regina. Pouca gente conhecia a fenomenal Elis Regina, até então, ela só era conhecida pelos freqüentadores do Beco das Garrafas, onde em 1964 canta a fenomenal Terra de Ninguém, do Marcos Valle, com o próprio Marcos. A partir do festival, Elis fica famosa e depois se transformaria na melhor cantora que o Brasil já teve. Nessa época, Elis canta várias músicas do jovem Edu Lobo, que já iam bem à frente da Bossa Nova.

Ainda em 65, acontece um encontro memorável, que daria em um disco também memorável: CAYMMI VISITA TOM E LEVA SEUS FILHOS, Dorival Caymmi e Tom Jobim juntos, ao lado de Dori, Nana e Danilo, filhos de Dorival. Esse disco foi feito pela gravadora Elenco do Aloysio Oliveira. O disco tem as músicas: ... Das Rosas, de Caymmi, Só tinha de ser com você e Inútil Paisagem, do Tom e do Aloisio Oliveira, Vai de Vez, do Roberto Menescal, Saudades da Bahia, de Caymmi, numa gravação antológica, Tristeza de nós dois, de Durval Ferreira, Berimbau, do Baden Powell e do Vinícius de Moraes, Sem você, do Tom e do Vinícius e Canção da Noiva, de Caymmi.

No mesmo sai o disco O COMPOSITOR E O CANTOR MARCOS VALLE, do Marcos Valle. Nesse lp há alguns dos que se transformariam grande clássicos de Marcos. As músicas desse disco são: as fenomenais Gente, Preciso aprender a ser só, as mais desconhecidas Seu encanto, Passa por mim, a já clássica Samba de verão, A resposta, Deus brasileiro, Dorme profundo, Vem, Mais amor, Perdão e Não pode ser.

Também em 1965, Elis é convidada ao lado do cantor Jair Rodrigues para apresentar o programa O Fino da Bossa da TV Record. Esse programa tinha além de Bossa Nova, a então novíssima MPB e era um rival do programa Jovem Guarda, também da Record, que era apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa.

Esse programa acaba rendendo no mesmo ano o disco ao vivo DOIS NA BOSSA, com os dois apresentadores acompanhados do Jongo Trio. As músicas do disco são: um Pout-Pourri histórico com as músicas O morro não tem vez, Feio não é bonito, Samba do carioca, Esse mundo é meu, A felicidade, Samba de negro, Vou andar por aí, O sol nascerá, Diz que fui por aí, Acender as velas, A voz do morro e de novo O morro não tem vez, depois tem Preciso aprender a ser só, cantada só pela Elis, Ziguezague, cantada só pelo Jair Rodrigues, Terra de ninguém, Arrastão, também cantada só pela Elis, Reza, Tá engrossando, também cantada só pelo Jair Rodrigues, Deus com a família, também cantada só pela Elis, Ué, também cantada só pelo Jair e Menino das laranjas. O disco acabaria vendendo mais de 1 milhão de cópias e é um dos melhores discos da Bossa Nova em todos os tempos. Na época quem gostava de Bossa Nova tinha por obrigação odiar a Jovem Guarda e vice-versa e quem gostava dos dois era visto por desconfiança de ambos os lados. Tanto que, Jorge Ben, acabou sendo cortado do programa Fino da Bossa, por ter se apresentado no programa Jovem Guarda. E a briga entre os dois grupos era feia, mas o pessoal da Jovem Guarda estava ganhando. Músicos da então nova MPB também odiavam a Jovem Guarda como Edu Lobo, Dori Caymmi, Nelson Motta, Nara Leão e outros.

Também em 1965 sai o belo disco 5 NA BOSSA, disco ao vivo envolvendo Nara Leão, Edu Lobo e o Tamba Trio. Na verdade o lp tinha pouco de Bossa Nova e muito das músicas sociais, retratando a realidade brasileira da época. O disco já começa com a maravilhosa Carcará, do maranhaense João do Vale e do José Candido, depois tem a sensacional Reza, do Edu Lobo e do Ruy Guerra, depois tem a desconhecida O trem atrasou, do Paquito, Villarinho e Estanislau Silva, depois tem a também maravilhosa Zambi, do Edu Lobo e Vinícius de Moraes, depois tem a espetacular Consolação, do Baden Powel e Vinícius de Moraes, depois tem a belíssima Aleluia, do Edu Lobo e do Ruy Guerra, depois tem Cicatriz, do Zé Keti e do Hermínio Bello de Carvalho, depois tem Estatuinha, do Edu Lobo e do Gianfrancesco Guarnieri, depois tem Minha história, do João do Vale e do Raymundo Evangelista, finalizando o disco tem a espetacular O morro não tem vez, do Tom Jobim e do Vinícius de Moraes.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 2ª parte


2ª parte

Também em 1963 surge um Vinícius mais politizado, ao lado de Carlos Lyra compõe o hino da União Nacional dos Estudantes, a UNE. Na mesma noite, em estado de overdose musical, fazem a fenomenal Marcha da quarta-feira de Cinzas, essa música acaba sendo uma espécie de premonição do golpe militar que surgiu um ano depois.

No mesmo ano aparece o grupo Quarteto em Cy, Vinícius de Moraes é uma espécie de grande pai do grupo vocal - formado, originalmente, pelas irmãs Cynara, Cyva, Cybele e Cylene, nascidas em Ibirataia, perto de Ilhéus, Bahia. Elas fazem a pré-estréia, no Bottle's Bar, no Beco das Garrafas em junho de 1964. No mesmo ano na boate Zum Zum, participam de um show histórico ao lado de Vinícius, ao lado de Dorival Caymmi e de Oscar Castro Neves. O show fica em cartaz cinco meses e é um enorme sucesso.

Em 1964, Brigitte Bardot, até então a maior musa do cinema mundial vem ao Brasil junto com seu namorado franco-argelino brasileiro Zagury, que fez com que ela se apaixonasse pela Bossa Nova. Logo que ela chega no Rio é uma confusão de fotografos querendo ver Brigitte de perto, já que Brigitte veio ao Brasil pra descansar, ela vai pra Búzios, junto com Zagury. Na época Búzios era um lugar deserto, um paraíso, tudo que Brigitte queria, eles ficavam o dia inteiro ouvindo e cantando Bossa Nova e tomando banho de mar. Mas eles não ficaram o tempo todo em Búzios, as vezes eles davam uma escapulida para o Rio, já que Zagury era amigo de Luiz Éça, ele os levou pra o seu apartamento onde vários cantores e músicos da Bossa Nova estavam lá, como o Tamba Trio, Vinícius de Moraes, Edu Lobo, Wanda Sá e muitos outros. Aí eles ficaram a noite inteira tocando e cantando várias músicas novas, Brigitte ficou encantada. Depois eles foram de madrugada pra praia e ficaram até de manhã, dizem até que Brigitte tirou a parte de cima do biquíni e foi pro mar, mas tem gente que diz que foi miragem.
Poucos dias depois a cena se repetiu, só que na casa de Tom Jobim e sem Zagury. Tom deu a Brigitte o tratamento completo: falou em francês, cantou várias músicas no piano com ela ao lado, tocando todas as músicas com acordes impressionistas pra impressionar Brigitte. Segundo Roberto Quartin, que também estava lá, a platéia, pressentindo o clima, foi saindo de fininho e, no fim, só restavam Tom, Brigitte e ele. Quartin preparou-se pra tambem se retirar, mas Tom instistiu para que ele ficasse. "Eu vou levar a Brigitte em casa, em Copacabana, e já volto", garantiu. Quartin deitou no sofá e planejou cochilar, na certeza de uma longa espera. mas, 15 minutos depois, Tom já estava de volta. E, antes que Quartin fizesse qualqer pergunta, Tom respondeu: "Sabe, Roberto, essas coisas são muito delicadas, você tem que tirar a roupa, suar muito, dar prazer a mulher e depois botar a roupa de novo. Aí, pega o carro, volta pra casa, mente pra sua mulher - a troco de quê? Não dá." Brigitte ficaria ainda mais alguns meses, ficou maravilhada com o Rio e especialmente com Búzios, mas só que depois de Brigitte a cidade de Búzios, infelizmente não seria mais a mesma.

Também em 1964, a cantora Nara Leão, musa da Bossa Nova, lança um disco que provocou muita polêmica, mas foi histórico, ao invés de ter músicas de Bossa Nova, tinha só músicas de sambistas tradicionais como Cartola, João do Vale e Zé Keti. Nara Leão então começa a ser vista com desconfiança pelos músicos de Bossa Nova, mas eles não imaginavam que com esse disco só de músicas de sambistas de morro, com uma sonoridade de Bossa Nova, era o início de que pouco depois seria chamado de MPB. Mas, naqueles anos tão díficis todo mundo queria ouvir a OPINIÃO de Nara.

Ainda em 1964, foi criado o grupo MPB-4, um grupo de quatro homens, que se chamam Ruy, Aquiles, Miltinho e Magro.

No mesmo ano acontece o golpe militar que mudaria para sempre a historia do Brasil, especialmente na música popular.


terça-feira, 23 de outubro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil


1ª parte

Enquanto a Bossa Nova estava cada vez mais conquistando o mundo, aqui no Brasil aconteceram vários fatores para a Bossa Nova entrar em crise.

Desde o final dos anos 50, surge no Brasil um rival de peso para a Bossa Nova: o Rock, que depois de estar fazendo um enorme sucesso mundo afora chega ao Brasil. No princípio eram só músicas em inglês ou versões em português, especialmente com a cantora Celly Campello, com as músicas Estúpido Cupido e Banho de Lua. Logo vários jovens começam a se interessar pelo Rock especialmente por Elvis Presley e Chuck Berry. Logo que o Rock chegou ao Brasil foi visto por muitos, como música de vagabundos e marginais, surgia a chamada "Juventude Transviada". Entre esses jovens que se interessaram por Rock se destacam Erasmo Carlos e Roberto Carlos, sendo que esse último lançou o primeiro disco de 78 rotações cantando Bossa Nova, incluindo uma música chamada Brotinho sem juízo, uma bossa meio fraquinha de Carlos Imperial, numa imitação clara de João Gilberto. Esses jovens se reúnem especialmente no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde Roberto e Erasmo moram lá eles se encontram com Tim Maia e Jorge Ben, onde montam o grupo Sputinck's. Em 1960, surge a música Parei na Contramão, de Roberto e Erasmo, que foi considerado o primeiro Rock nacional. Já que Roberto Carlos viu que a Bossa Nova não era a praia dele começou a compor rock. Pouco depois Roberto e Erasmo se juntam a cantora Vanderlea e lançam a Jovem Guarda, inspirados especialmente em Elvis e nos Beatles. Logo a cidade do Rio de Janeiro está dividida em duas: a zona norte, que gostam de Jovem Guarda e a zona sul, que gostam de Bossa Nova.

Depois da saída de Juscelino Kubitheck em 1960, o Brasil está mudando. Em 1961, Jânio Quadros é eleito presidente do Brasil, mas no mesmo ano renuncia e assume o vice João Goulart, por ter ido á China comunista, João Goulart passa a ser visto com desconfiança e surge o Parlamentarismo, onde o presidente não manda e sim o primeiro ministro.

No meio de tanta bagunça que o país se encontra vários cantores, especialmente de Bossa Nova, se revoltam com o caminho que a Bossa Nova está levando e resolvem fazer músicas de protesto retratando a atual realidade do país, que não é mais aquela do início da Bossa Nova, gente importante como Carlos Lyra e Nara Leão. Começa então a música de protesto, primeiro retratando a questão da reforma agrária e a relaidade dos morros cariocas, como na música Zelão, do Sérgio Ricardo.

Estamos em 1963, surge então Jorge Ben, saído do Beco das Garrafas, com seu violão bem suingado, misturando Bossa Nova e Jovem Guarda, em seu disco de estréia chamado SAMBA ESQUEMA NOVO, especialmente nas músicas Mas que nada, Tim Dom dom e Chove Chuva. Além dessas musicas o disco também tem Balança pema, Rosa menina rosa, Quero esquecer você, Uala Ualau, Vem morena, E so sambar, A tamba, Menina bonita não chora e Por causa de você menina. O disco teve arranjos de ninguém menos que J. T. Meirelles, expetaculares por sinal. A música Mas que nada era a mais estranha, era um heavy-samba, um samba com maracatu. Na época, ninguém entendeu que som era aquele, pois era estremamente novo, mas alguns anos depois se daria o nome de samba-rock, ou jovem samba como dizia o Carlos Imperial.

Ainda em 1963, aparece um disco histórico chamado VOCÊ AINDA NÃO VIU NADA, de Sérgio Mendes, então um pianista novato saído do Beco das Garrafas. Nesse lp ao lado do grupo Bossa Rio ergue um dos pilares originais do samba-jazz. Com arranjos do Tom Jobim, do próprio Sérgio Mendes e em duas músicas do maestro Moacir Santos. As músicas do disco são: Ela é carioca, O amor em paz, Coisa n.º 2, do Moacir Santos, Desafinado, Primitivo, do Sérgio Mendes, com citação de Berimbau, a então novíssima Nanã, também do Moacir Santos, que sem dúvida é a melhor gravação dessa música, Corcovado, Nôa...Nôa..., também do Sérgio Mendes, Garota de Ipanema e Neurótico, de um tal de J. T. Meirelles. Com certeza o disco merece o título que tem, renovando a já meio cambaleada Bossa Nova. Partindo para um caminho bem diferente de João Gilberto, com toque caráter instrumental, surgindo assim o Samba - Jazz.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

3 - A Bossa Nova conquista os EUA - 7ª parte


7ª parte

Em 1976, mais um disco fenomenal: THE BEST OF TWO WORLDS, envolvendo João Gilberto, Stan Getz e a nova mulher de João Gilberto que estava estreando em disco - Miúcha, irmã de Chico Buarque. Mesmo não contendo seu nome, Miúcha aparece na capa do disco. As músicas do disco são: Double Raimbow, versão em inglês de Chovendo na roseira, cantada brilhantemente pela Miúcha, Águas de Março, cantada em português pelo João Gilberto e em inglês pela Miúcha, Lígia, (todas as três do Tom), numa gravação expetacular cantada pelo João Gilberto, Falsa Baiana, de Geraldo Pereira, também tem Retrato em branco e preto, do Tom e do Chico Buarque, também cantada pelo João Gilberto, Izaura, de Roberto Roberti e Herivelto Martins, cantada pelo João e pela Miúcha, Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil, também cantada pelo João, João Marcello, de João Gilberto, a bela É preciso perdoar, de C. Coqueijo e A . Luz, também cantada pelo João e Just one of those things, de Cole Porter, cantada pela Miúcha com João Gilberto no violão.

Em 1977, João Gilberto lança também nos EUA um dos seus discos mais cultuados mundo afora: AMOROSO. Este disco possui vários standards tanto brasileiros e internacionais. Segundo a cantora canadense de jazz Diana Krall afirmou, esse disco foi o que a mais influenciou na sua carreira. As músicas desse disco são: a belíssima S wonderful, de Gerwshin, Estate, de Bruno Martino e Brigueti, Tim tim por tim tim, de Haroldo Barbosa, Besame mucho, de Velasquez, uma gravação fenomenal de Wave, Caminhos cruzados, Triste e Zingaro, todas de Tom Jobim, essa última é mais conhecida como Retrato em branco e preto, com letra do Chico Buarque. Mesmo sendo esse disco, um disco sensacional, cultuado mundo a fora, João Gilberto não gostou dele, falou que Claus Ogerman que fez os arranjos do disco, estragou os arranjos. Logo quem? Vai entender o João. Pra muita gente esse é o melhor disco do João Gilberto.

Em 1980, a espetacular cantora de Jazz Ella Fitzgerald lança o disco ELLA ABRAÇA JOBIM, uma homenagem maravilhosa a Tom Jobim. O disco é sensacional, mas o que pra muita gente ficou, que a Ella ficou um pouco ressabiada de fazer seus famosos scats por causa das músicas do Tom, por isso o disco poderia ter sido melhor por causa da Ella que é a maior cantora de Jazz de todos os tempos e também por causa do Tom. De qualquer modo, Ella abraça não só Tom Jobim, mas toda a Bossa Nova, que deve muito a ela, por ser tão adorada nos EUA, ela sendo uma das primeiras divulgadoras da Bossa nos EUA As músicas do disco são: Somewhere in the hills (O morro não tem vez), The girl from Ipanema (Garota de Ipanema), Dindi, Off key (Desafinado), Water to drink (Água de beber), Dreamer (Vivo Sonhando), Quiet night of quiet stars (Corcovado), Bonita, One note Samba (Samba de uma nota só), Don't ever go away (Por causa de você), Triste, How Insensitive (Insensatez), She`s a carioca (Ela é carioca), This love that I've found (Só tinha de ser com você) , A felicidade, cantada em português (!) , Wave, Songs of the jet (Samba do Avião), Photography (Fotografia) e Useless landscape (Inútil paisagem).


Nesse capítulo foram utilizadas passagens de:

OLIVEIRA, Aloísio. Livreto que está no encarte do disco Bossa Nova sua história sua gente, 1975.

CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e as histórias da Bossa Nova; Companhia das letras, 1990.

CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar: Companhia das letras, 2001.

CABRAL, Sérgio. Antonio Carlos Jobim – Uma biografia; Lumiar, 1997.

JOBIM, Helena, Antonio Carlos Jobim – Um homem iluminado; Nova Fronteira, 1996.

LYRA, Carlos. Entrevista dada a Luiz Carlos Oliveira, disponível no site www.jobim.com.br, acessado em 2002.

Faixas de discos tiradas do site www.cliquemusic.com.br

Faixas de discos tiradas do site www.jobim.com.br

Filme Coisa mais linda, de Paulo Thiago, 2005.

Filme Tom e a Bossa Nova, de Walter Salles Jr, 1993


segunda-feira, 15 de outubro de 2007

3 - A Bossa Nova conquista os EUA - 6ª parte

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6ª parte

Também em 1970, João Gilberto está no México e grava mais um disco sensacional: JOÃO EN MÉXICO. As músicas desse disco são: De conversa em conversa, um samba maravilhoso de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa, a clássica Ela é carioca, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, tem a maravilhosa música O sapo, de João Donato, numa versão instrumental, que mais tarde se tornaria A rã, tem a bela e rara Esperança perdida, de Tom Jobim e Billy Blanco, tem a instrumental João Marcelo, composição feita pelo próprio João Gilberto, tem Farolito, música em espanhol, tem a belíssima Astronauta, também conhecida como Samba da pergunta, do Marcos Vasconcelos e do Pingarrilo, tem Acapulco, também instrumental, tem a bela Besame mucho, um grande clássico do bolero, também cantada em espanhol, tem a bela Eclipse, música cantada em italiano e no final tem uma versão em português da maravilhosa Trolley song.


Em 1971, Tom Jobim faz mais dois discos maravilhosos nos EUA: o primeiro se chama TIDE e as músicas eram: uma versão antológica instrumental de Garota de Ipanema, a clássica Carinhoso, de Pixinguinha, Tema Jazz, um samba jazz maravilhoso, Sue Ann, Remember, a bela Tide, Takatanga, Caribe e Rocknália, todas instrumentais e todas só do Tom. O disco teve os arranjos, espetaculares por sinal, feitos pelo Eumir Deodato. Esse disco também foi uma espécie de continuação do WAVE, já que Wave significa onda e Tide significa maré.
O outro disco de Tom no ano é uma participação em mais um disco de Frank Sinatra, que se chama: SINATRA & COMPANY. Tom Jobim participa das sete primeiras músicas, que são todas dele e arranjadas por Eumir Deodato, as outras sete, são músicas de autores americanos, com arranjos de Don Costa. As músicas do Tom são: Drinking Water ( Água de beber) - com Frank Sinatra cantando trechos da música em português, Someone to light up my life( Se todos fossem iguais a você), Triste, Don't ever go away ( Por causa de você), This happy madness( Estrada branca) - a mais emocionante do disco, Wave e One note samba ( Samba de uma nota só).
Em 1972, Eumir Deodato vira um sucesso mundial com a sua antológica gravação disco funk eletrônica de Also Sprach Zaratrusta, música tema do filme 2001: Uma odisséia no espaço. Com essa gravação começou a era disco-funk, que dominaria todos os anos 70.
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Em 1973, Tom lança mais um disco histórico: MATITA PERÊ é o início da fase ecológica de Tom, que vai acompanhá-lo até a sua morte. O disco é uma maravilha, por não ter achado gravadora no Brasil querendo gravar o disco, Tom vai mais uma vez aos EUA lançar um disco. Quando termina a gravação Tom é aplaudido por todos que assistiram, de pé. Anos depois Tom fala que se não tivesse gravado esse disco terminaria velho cantando Garota de Ipanema num circo. As músicas do disco são: a fenomenal Águas de Março, que era a segunda gravação dessa música e que pouco depois se transformaria num clássico mundial, a bela Ana Luiza, a também fenomenal Matita Perê, que foi totalmente inspirada em Guimarães Rosa, Tempo do Mar, a também bela Mantiqueira Range, um forró bem inspirado de seu filho Paulo Jobim, Crônica da casa assassinada, do filme do mesmo nome, que se divide em quatro músicas: Trem pra Cordisburgo, Chora Coração, Milagres e Palhaços e O Jardim Abandonado, o disco ainda tem as músicas Um rancho nas nuvens e Nuvens Douradas.
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Também em 1973, João Gilberto lança um dos seus melhores discos, com seu próprio nome: JOÃO GILBERTO. Nesse disco, João foge um pouco das músicas da Bossa Nova, gravando mais compositores antigos como Ary Barroso, Geraldo Pereira, Haroldo Barbosa e Herivelto Martins, além dos conterrâneos Caetano Veloso e Gilberto Gil. As músicas desse disco são: uma gravação sensacional da então nova Águas de Março, de Tom Jobim, Undiú, uma composição instrumental do próprio João Gilberto, depois tem uma gravação antológica instrumental de Na baixa do sapateiro, de Ary Barroso, depois tem Avarandado, de Caetano Veloso, depois tem a sensacional Falsa Baiana, de Geraldo Pereira, depois tem Eu quero um samba, do Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, que virou um clássico na voz de João, depois tem a bela Eu vim da Bahia, do Gilberto Gil, depois tem Valsa (Como são lindos os youguis), uma música instrumental composta pelo próprio João Gilberto em homenagem a filha Bebel Gilberto, que então tinha 7 anos de idade, depois tem a sensacional É preciso perdoar, de Carlos Coqueijo e Alcivando Luz e fechando o disco Izaura, do Herivelto Martins.