sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

4 - A Crise da Bossa Nova no Brasil - 10ª Parte


10ª parte

Em 1980, João Gilberto faz mais um disco maravilhoso: JOÃO GILBERTO PRADO PEREIRA DE OLIVEIRA, é um disco ao vivo tirado de um especial da TV Globo em homenagem a João Gilberto, as músicas do disco são: Menino do Rio, de Caetano Veloso, Curare, de Bororó, Retrato em branco e preto, uma gravação espetacular de Chega de Saudade, cantando ao lado da filha Bebel Gilberto, Desafinado, O Pato, a belíssima Eu e a brisa, de Johnny Alf, Jou Jou Balangadás, de Lamartine Babo, ao lado da cantora Rita Lee, num inesperado e sensacional dueto a bela Canta Brasil, a sempre emocionante Aquarela do Brasil, Bahia com H, de Denis Brean, Tim tim por tim tim, de Haroldo Barbosa e Geralgo Jacques e o belíssimo bolero Estate, de Bruno Martino e Bruno Brighetti, cantado em espanhol.


Também em 1980, com 12 anos de atraso, o Brasil finalmente conhece uma cantora e compositora maravilhosa: a legendária Joyce. Joyce gravou seu primeiro disco em 1968, mas o sucesso popular só veio com esse maravilhoso disco chamado FEMININA. Nesse disco, Joyce mostrou aos brasileiros, que é um país machista, que uma mulher poderia ser não só uma grande intérprete, mas uma extraordinária compositora como ela é. As faixas desse disco são: a esplendorosa Feminina, o manifesto feminista da Joyce, que acabaria depois sendo sua música mais famosa em todo mundo, Mistérios, a bela e simples Clareana, uma espécie de canção de ninar para as filhas: Clara Moreno e Ana Martins, a brasileiríssima Banana, Revendo amigos, a maravilhosa Essa mulher que foi gravada pela Elis Regina, Coração de criança, Da cor brasileira, a espetacular Aldeia de Ogum, uma música instrumental que tem o espírito dos afrosambas de Baden e Vinícius de Moraes e no final tem a música Compor. Apesar do grande sucesso desse disco, especialmente das músicas Feminina e Clareana, Joyce hoje em dia evita gravar músicas desse disco. Ela falou em uma entrevista que não gosta de gravar essas músicas hoje em dia, pois ela quer gravar músicas novas e hoje acha essas músicas meio ultrapassadas especialmente Clareana, ela falou que atualmente não compõe músicas como naquela época. Outro motivo que ela explicou, é que quando essas músicas Clareana e Feminina fizeram um grande sucesso no Brasil, o diretor da gravadora dela na época falou que queria mais músicas como essas a cada três meses, o que ela ficou brava e saiu da gravadora e alguns anos depois ela sairia do Brasil e iria fazer uma carreira internacional fazendo grande sucesso mundial, especialmente na Europa e no Japão.

No mesmo ano é lançado o disco ARCA DE NOÉ, que era um programa infantil de televisão da Rede Globo, que foi baseado num livro de Vinícius de Moraes e só tinha músicas de Toquinho e Vinícius. O disco tem várias participações e as músicas são: A arca de Noé, cantada por Chico Buarque e Milton Nascimento, O Pato, numa gravação antológica do MPB-4, A corujinha, com Elis Regina, A foca, com Alceu Valença, As abelhas, com Moraes Moreira, A pulga, com Bebel Gilberto, Aula de piano, com as Frenéticas, A porta, com Fábio Júnior, a clássica A Casa, com o Boca Livre, São Francisco, com Ney Matogrosso, O gato, com a Marina Lima, O relógio, com Walter Franco, Menininha, com Toquinho e O final, orquestrado.



Também em 1980, Tom Jobim lança o belo disco duplo TERRA BRASILIS, que reúne todas as fases de sua carreira até então, as músicas do disco são: Dreamer, versão em inglês de Vivo Sonhando, Canta, canta mais, Olha Maria, Samba de uma nota só, Dindi, Quiet nights of quiet stars, Marina del Rey, Off key, versão em inglês de Desafinado, a linda Você vai ver, onde canta com a mulher Ana Lontra Jobim, uma versão instrumental belíssima de Estrada do Sol, uma versão meio soul de Garota de Ipanema com piano elétrico, Chovendo na roseira, Triste, Wave, Someone to light up my life, Falando de Amor, a fenomenal e até então inédita Two Kites, música originalmente em inglês onde ele fala das “coxas celestiais” da mulher amada, Modinha, Sabiá e Estrada Branca. Esse foi o último disco que o Tom fez com arranjos do Claus Orgeman. A bela capa do disco foi feita pelo filho Paulo Jobim.

No mesmo ano, no dia 9 de Julho, acontece mais um fato importante: morre o poeta Vinícius de Moraes, já vinha tempo que ele não estava bem, vivia mal por causa da bebida, várias vezes os médicos pediram para ele parar de beber, ele parava, mas quando melhorava tomava de novo. No dia 8 de Julho, ele e Toquinho, estavam na sua casa no Rio de Janeiro, fazendo os últimos reparos para a trilha sonora da Arca de Noé, já era bem tarde quando acabaram e Vinícius falou que ia tomar um banho e então Toquinho foi dormir. Ao amanhecer, a empregada de Vinícius o encontra esparramado em sua banheira e grita para a mulher de Vinícius e Toquinho para ir correndo, Toquinho ainda encontra Vinícius vivo, mas logo depois ele morre. Foi uma comoção nacional a morte do poetinha. No enterro, uma atriz joga uns goles de uísque no caixão, uns aplaudem, mas muitos vaiam. É sua última dose de uísque. Tom Jobim, seu grande amigo e parceiro não foi ao enterro, como os dois tinham combinados antes, quem morresse primeiro não iria ao enterro do outro. Ele sofreu muito com a morte do Vinícius, tanto que ele voltou a beber e só a companhia da família fez ele melhorar da tristeza da perda do poetinha. Vinícius viveu intensamente, mesmo sabendo que estava mal por causa da bebida ele continuava até a morte, tem uma frase de uma música do Vinícius em parceria com Toquinho, que reflete bem isso: “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.”

Logo depois o escritor capixaba Rubem Braga, grande amigo do Vinícius, escreve:

Recado de primavera

Meu caro Vinicius de Moraes:

Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma noticia grave: a Primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira Primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou-se nesta Primavera – acho que você aprovaria. O mar anda virado; houve uma lestada muito forte, depois veio um sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violências primaveris. O tempo vai passando poeta. Chega a Primaveira nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui – a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor. Adeus.



Nenhum comentário: