terça-feira, 4 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 7ª parte


7ª parte

Também no início dos anos 70 surge a banda de rock Novos Baianos, que ficaria na história misturando Jimi Hendrix e Beatles com o Samba e a Bossa Nova. No primeiro disco deles foi todo de rock progressivo, que acabou não fazendo sucesso, mas o produtor Nelson Motta agendou um encontro que mudaria para sempre a cara do rock nacional: Novos Baianos com João Gilberto, quando João Gilberto chegou ao apartamento deles o Paulinho Boca de Cantor, que era o empresário da banda, foi abrir a porta e viu um homem de terno e gravata, com um violão pendurado no braço, achou até que era a polícia, era João Gilberto, quando João entrou tocou vários sambas e bossas e os deixaram embasbacados, especialmente na música Brasil Pandeiro, que ser transformaria no maior sucesso deles no disco ACABOU CHORARE, em 1972. Outra história interessante é que diz a lenda que o nome do dsco surgiu quando em uma das visitas do João no apartamento ele levou a filha Bebel, que nasceu em Nova York, ela não parava de chorar, já que ela não sabia falar português direito ainda, ela num portunhol teria falado quando acabou de chorar: Acabou chorare.

Ainda na década de 70, surge a chamada Era disco, mostrada no filme Nos embalos de Sábado à noite. Logo invade também o Brasil, que teria nas Frenéticas como seu maior ícone. Tudo era discoteca, até Tim Maia entrou na onda.

Em 1971, para comemorar seus dez anos de carreira, Nara Leão lança o disco DEZ ANOS DEPOIS. Por incrível que pareça, é seu primeiro disco totalmente cantando Bossa Nova. As músicas do disco são: Insensatez, Samba de uma nota só, Retrato em branco e preto, Corcovado, Garota de Ipanema, Pois é, Chega de Saudade, Bonita, Você e eu, Fotografia, O grande amor, Estrada do sol, Por toda minha vida, Desafinado, Minha namorada, Rapaz de bem, Vou por aí, O amor em paz, Sabiá, Meditação, Primavera, Este seu olhar, Outra vez e Demais. Ela gravou músicas do Tom, do Vinícius, do Carlos Lyra, do Johnny Alf, mas nenhuma do amigo Roberto Menescal. Isso explica porque quase todas as músicas do Menescal eram em parceria com Ronaldo Boscoli, mesmo casada com Cacá Diegues, Nara nunca esqueceu a traição de Ronal do que até 1961 era seu noivo, acabou virando namorado da Maysa e depois se casaria com Elis Regina.

Em 1972, no DISCO DE BOLSO, que foi lançado no jornal O Pasquim, do Rio de Janeiro, tinha a então inédita Águas de Março, de Tom Jobim e Agnus Sei, de João Bosco, um compositor até então desconhecido, que estava começando.

Também em 1972, Wilson Simonal, até então o cantor mais popular do Brasil, sofre um duro golpe. Houve um desfalque na empresa em que Simonal tinha. Seu contador foi acusado, supostamente, de ter praticado o roubo. Pra aumentar a polêmica ele teria contratado algumas pessoas pra bater nesse contador. Durante os interrogatórios, Simonal foi acusado de ser informante do Dops. Foi condenado em 1972. Simonal ficou desmoralizado no meio artístico-intelectual e cultural da época e sua carreira começou a declinar. O jornal O Pasquim acusou-o de dedo duro. No meio d repressão imposta pela ditadura militar, todos os jornalistas da época falaram que Simonal era informante do SNI. A imprensa o condenou. Ele negou veementemente todas as acusações. Naquela época ser acusado de dedo duro era a pior coisa que podia acontecer, com isso praticamente acaba a carreira de um dos maiores cantores do Brasil em todos os tempos. No ano 2000, depois da morte dele é que a OAB declarou que Simonal era inocente.

Para horror tanto de tropicalistas e desbundados quanto de intelectuais engajados Toquinho e Vinícius passam a produzir trilhas musicais para telenovelas. Começam na TV Tupi com Nossa filha Gabriela e, no ano seguinte, numa atitude que parece imperdoável à esquerda mais radical, já estão na TV Globo, musicando a novela O bem-amado.

Em 1975, voltam a gravar dois discos na Itália: TOQUINHO, VINÍCIUS E ORNELLA VANONI e VINÍCIUS E TOQUINHO, O POETA E O VIOLÃO.

Também em 75, a dupla, ao lado da cantora Joyce, fazem um show memorável em Punta Del Leste, no Uruguai.

Graças a sua nova mulher Marta Rodriguez Santa Maria, que é argentina, os dois começam a serem ídolos também na Argentina. Outras duas mulheres que seriam essenciais para o sucesso da dupla na Argentina foram as cantoras Maria Creuza e Marilia Medalha. Primeiro Vinícius convida Maria Creuza, que está casada com Dori Caymmi. Em 71, os três têm um show programado na Boate La Fusa em Buenos Aires, mas como está brigado com Dori, convida Toquinho para substituí-lo. A grife Brasil, apesar da insânia do regime militar, está em alta. O país acaba de conquistar o tri campeonato mundial de futebol. Exporta a imagem de uma nação grande e vitoriosa. Vende. O show em Buenos Aires é transformado no disco VINÍCIUS, TOQUINHO E MARIA CREUZA EM LA FUSA, sucesso nas paradas argentinas. Silvina Perez, empolgada, contrata o trio para uma temporada mais longa na sucursal da La Fusa, em Mar Del Plata.

Os dois parceiros fazem perto de cem shows em Mar Del Plata, acompanhados depois por Maria Bethania, mais tarde por Chico Buarque e, novamente, por Maria Creuza.

Logo depois os dois trocam a boate La Fusa, que se torna pequena para suas platéias, por imensos teatros da capital. Vinícius descobre que o sucesso chegou, em definitivo, numa noite em que ele e Toquinho, apesar da chuva e do frio, lotam sozinhos um ginásio na cidade de Córdoba. "Acho que nos tornarmos argentinos", comunica ao parceiro. "No Brasil, somos ultrapassados. Aqui, eles nos adoram”. Está tudo dito.

Um comentário:

Anônimo disse...

É lastimável o que fizeram com Wilsom Simonal, na época nem deram oportunidade e nem fizeram uma busca jornalistica para saber se era verídica a história do dedo duro, mas o que queriam mesmo era apagá-lo da memória da cultura brasileira, talvez por inveja ou por ele ser negro.

Eu lembro, nos anos 80, quando coloquei uma fita que tinha uma faixa do Simonal cantando Minha Namorada, a fita estava gasta que saia distorcida um pouca a voz. O meu amigo que viveu a época disse: "É uma droga mesmo, esse cara só faz coisa errada" (pra não dizer o palavrão), pôxa a fita estava apenas gasta e ele julgava que era o Wilsom Simonal pelo passado que ele aprendeu no Pasquim. Nós, os brasileiros, somos bons pra julgar sem saber o veredito, somos assassinos culturais, por isso é que a bossa nova vai passar esses 50 anos esquecido em todo Brasil(digo o resto mesmo, não me refiro ao Rio e São Paulo). Só por causa do excentrismo de João Gilberto, as pessoas não gostam da bossa nova. Eu imagino Van Goghe no seu tempo como foi dificil pintar um quadro que vale milhões hoje.

Cesar Saldanha
Cuiabá-MT