terça-feira, 18 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 9ª parte

9ª parte

Na madrugada de 18 de março de 1976, o pianista brasileiro Francisco Tenório Jr. saiu do hotel que estava hospedado, em Buenos Aires, para comer um sanduíche e cumprar um remédio. Tenório Jr estava na Argentina como acompanhante do Vinícius de Moraes e do Toquinho, que faziam uma temporada em Buenos Aires. Ao sair para a rua, deixaa um bilhete na portaria dizendo o que fora fazer e avisando: Volto Logo. Tenório não voltou – nem naquela noite nem nunca. Na verdade, nunca mais foi visto por seus amigos. E seu corpo nunca foi encontrado, tinha 33 anos.

O “desaparecimento” de Tenório ocorreu na véspera do golpe militar contra a presidente Isabelita Perón. Nos anos seguintes, sob a ditadura do general Jorge Videla, a Argentina viveria cerca de 30 mil casos como o dele. Só que os “desaperecimentos” começaram antes do golpe e o de Tenório foi dos primeiros. Tenório era inocente. Com sua aparência, ee poderia ser confundido como um perigoso “intelectual.” Só em 1986, a história começou a se esclarecer: Tenório foi preso, torturado e morto pela Marinha argentina, com a conivência de elementos da embaixada brasileira em Buenos Aires. Ainda de madrugada, Toquinho e Vinícius deram pela sua falta no hotel. De manhã, apreocupação se transformou em pânico, mas com o golpe nas ruas, bombas explodindo e prisões em massa, Buenos Aires já tinha virado um caos. Vinícius foi procurar o embaixador do Brasi em Buenos Aires, Rodolfo Souza Dantas, que concedeu um hábeas corpus, que nunca tenha chegado ao seu destino. O que se passou a partir daí foi monstruoso: os funcionários brasileiros que deveriam procurar Tenório pra protegê-lo fizeram o contrário. Eles o acharam, mas juntaram-se aos seus algozes. Naquela época não se sabia da existência da “Operação Condor”, um esquema clandestino de cooperação entre os países do Cone Sul – uma troca de favores entre os governos brasileiros e demais países sul americanos, para seqüestrar, torturar e matar além fronteiras.

Em 1977, saiu o belo disco MIÚCHA & ANTONIO CARLOS JOBIM, um belo encontro da cantora Miúcha e do Tom Jobim. As músicas do disco são: Vai levando, de Caetano Veloso e Chico Buarque, com participação do Chico, Tiro Cruzado, de Márcio Borges e Nelson Ângelo, Comigo é assim, de José Meneses e Luiz Bittencourt, Na batucada da vida, de Ary Barroso, Sei lá, de Toquinho e Vinícius de Moraes, também com participação do Chico, Olhos nos olhos, de Chico Buarque, a lindíssima Pela luz dos olhos teus, de Vinícius de Moraes, o fenomenal Samba do Avião, do Tom, Saia do Caminho, de Evaldo Ruy e Custódio Mesquita, Maninha, do Chico e com participação do próprio Chico Buarque, Choro de nada, de Eduardo Souto Neto e Geraldo Carneiro e É preciso dizer adeus, do Tom e do Vinícius.

No mesmo ano há um encontro memorável envolvendo Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho e Miúcha, que rendem o histórico disco gravado ao vivo no Canecão: TOM, VINICIUS, TOQUINHO E MIÚCHA, realmente é um disco memorável que foi produzido pelo grande Aloisio de Oliveira, que disse: "Este show já nasceu feito. Estava somente esperando a hora de ser realizado. Quando a gente se encontra participando de uma realização dessa natureza, não se tem a mínima idéia do que ela representada. Tenho certeza de que mais tarde chegaremos à conclusão de que participamos de um dos maiores momentos de nossa música." Essas palavras foram proféticas. O disco começa com a música Estamos aí, que é o tema de abertura do show, depois entra o Vinícius declamando o seu belo e engraçado poema Dia da Criação, depois ele e Toquinho cantam a maravilhosa Tarde em Itapuã, depois Toquinho faz um belo solo no violão em Gente Humilde, do Garoto, com letra do Chico Buarque e do Vinícius, depois os dois cantam a também maravilhosa Carta ao Tom, a seguir entra o Tom e faz uma paródia engraçadíssima da música que se chama Carta do Tom, depois Tom canta a bela melodia de Corcovado e dá show tocando Wave, depois entra a Miúcha e os dois cantam a belíssima Pela luz dos olhos teus, a seguir os dois cantam Saia do Caminho, depois Toquinho e Miúcha cantam Samba pra Vinícius, numa bela homenagem ao poetinha, depois os quatros cantam Vai Levando, a seguir o Tom e o Vinícius cantam a clássica Água de Beber e a inevitável Garota de Ipanema, relembrando a bela Helô Pinheiro, a eterna Garota de Ipanema, depois os quatros cantam Sei lá, depois Vinícius e Miúcha cantam a também bela Minha Namorada, depois os quatros cantam as fenomenais Chega de Saudade e Se todos fossem iguais a você e encerram cantando de novo Estamos aí. Esse show fez tanto sucesso, que acabou sendo levado pra vários lugares do país e até no exterior.

Em 1979, Tom e a Miúcha lançam mais um disco junto: MIÚCHA & TOM JOBIM, as músicas do disco são: a engraçada Turma do funil, que é uma adaptação que o Tom e o Chico fizeram da clássica marchinha de carnaval do mesmo nome, a música tem participação do próprio Chico Buarque, Triste Alegria, da própria Miúcha, Aula de matemática, do Tom e do Marino Pinto, Sublime tortura, do Bororó, Madrugada, de Candinho e do Marino Pinto, Samba do Carioca, do Carlos Lyra e do Vinícius de Moraes, a bela Falando de amor, do Tom, Nó cego, de Cacaso e de Toquinho e a bela e surpreendente musica Dinheiro em penca, uma moda de viola do Cacaso e do Tom Jobim, com participação do Chico Buarque.

Também em 1979, Toquinho e Vinícius lançam o belo disco 10 ANOS DE TOQUINHO & VINICIUS, que comemora os 10 anos da brilhante parceria entre os dois. As músicas do disco são: um pout-pourri que mistura A benção Bahia, Tarde em Itapuã, Tatamirô, Meu pai Oxalá, Canto de Oxum, Maria vai com as outras e de novo A benção Bahia, depois há mais um pout-pourri, que mistura Um homem chamado Alfredo, Sei lá e O poeta aprendiz, depois há mais um pout-pourri, que mistura O velho e a flor, Veja você e Mais um adeus, depois eles cantam o belo Samba de Orly, a Tonga da Mironga do Kabuletê, depois há mais um pout-pourri, que mistura Como dizia o poeta, Testamento, Para viver um grande amor, Morena flor, Samba da volta e Regra três, depois há mais um pout-pourri, que mistura São demais um perigo dessa vida, As cores de abril e O filho que eu quero ter, depois há um último pout-pourri que mistura Chorando pra Pixinguinha, Choro chorado para Paulinho Nogueira e Carta ao Tom, o disco termina com Cotidiano n º 2.

No mesmo ano acontece um fato histórico: o governo militar aqui no Brasil concede anistia a todos os que foram exilados para fora do Brasil, com isso é o fim do AI-5. O hino da anistia é O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, interpretado de forma brilhante por Elis Regina.


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