sábado, 20 de setembro de 2008

7 - A Bossa Nova hoje - 9ª parte


9ª parte

Em 2007, é o ano de celebrar os 80 anos de nascimento do maestro soberano: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o inesquecível Tom Jobim, que nasceu no dia 25 de janeiro de 1927.

No mês de janeiro, há um especial na TV Globo chamado Eu sei que vou te amar, tëm algumas coisas muito importantes das músicas do Tom, mas foi muito pouco, teve apenas 1 hora de duração, não falou nada da vida do Tom e ainda, com a maioria das músicas não deixou completar. Mas apesar de ser fácil meter a lenha na TV Globo, pelo menos foi o único especial que foi passado na TV aberta.

Mas, homenagem merecida que o Tom recebeu foi a caixa com três DVD chamada MAESTRO SOBERANO, que saiu no ínicio do mês de fevereiro pela gravadora Biscoito Fino. São três DVDs, dirigidos por Roberto Oliveira, que destacam aspectos fundamentais formadores da obra e do gênio de Tom.

O primeiro deles é CHEGA DE SAUDADE, com narração de Nelson Motta, mostra as primeiras músicas do Tom, enfoca a criação da Bossa-Nova, a disseminação planetária do movimento, e sua insuspeita permanência como um dos mais representativos estilos da música mundial. As faixas desse primeiro DVD são: Eu não existo sem você, Anos dourados, Lamento no morro, A felicidade, Se todos fossem iguais a você, Eu sei que vou te amar, Canta, canta mais, Chega de saudade, Carta ao Tom 74, Desafinado, Só tinha de ser com você, Água de beber, Você e eu, Só danço samba, Chega de Saudade e Imagina.

O segundo deles é ÁGUAS DE MARÇO enfoca a relação de Tom com a ecologia, narrado por Chico Buarque, que Tom já falou “que toda minha obra foi inspirada na Mata Atlântica”. Mostra a maravilhosa Floresta da Tijuca, o expetacular Jardim Botânico e as músicas ecológicas que o Tom fez, muitas antes até de existir essa palavra ecologia. Tom Jobim sempre foi muito preoucupado com essa questão, ele disse: “sem mato, ar e bicho, não há música”. As faixas desse segundo DVD são: Lenda, Águas de março, Chovendo na roseira, Estrada do sol, Correnteza, Gabriela, Borzeguim, Saudade do Brasil, Sabiá, Vento bravo, Luiza, O boto, O jardim abandonado, Águas de março, Matita perê, Passarim e Ai quem me dera.

O terceiro deles é ELA É CARIOCA, prioriza a ambientação da obra de Jobim no Rio de Janeiro e a paixão do maestro pela cidade, com narração de Edu Lobo. Tom circulava com desenvoltura pela cidade e gostava de fazer comrentários divertidos como este: “O Rio de Janeiro é uma cidade bastante dissipante, você vai a um lugar e acaba em outro”. As faixas desse terceiro DVD são: Ela é carioca, Surfboard, Corcovado, Wave, Retrato em branco e preto, Ela desatinou, Você vai ver, Falando de amor, Eu te amo, Insensatez, Lígia, Luiza, Garota de Ipanema, Samba de uma nota só, Ela é carioca, Samba do avião e Estrada branca.

Os documentários apresentam imagens clássicas de Tom – como o dueto com Elis Regina em “Águas de março” – e também momentos raros da filmografia sobre o maestro – como o espirituoso flagrante do encontro com Edu Lobo no estúdio, durante a gravação do álbum feito pela dupla em 1981. Dois shows antológicos de Jobim e a Banda Nova – um gravado em São Paulo, em 1990, outro no Rio, em 1985 – permeiam registros históricos com o melhor do criador. A herança de Jobim também é flagrada nas imagens do show de Revéillon de 1996, na Praia de Copacabana, em que Caetano Veloso, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Gal Costa e Gilberto Gil prestam tributo ao mestre. E também na apresentação do Quarteto Jobim-Morelenbaum, formado por Paulo e Daniel Jobim, Paula e Jaques Morelenbaum. Para os seguidores de Jobim, que têm na fé em Antônio o caminho da salvação pela música, o dia 25 de janeiro equivale a um segundo natal, 80 anos depois do nascimento do mestre e 60 desde o lançamento da pedra fundamental de sua obra.

Prepare-se pra “viver o momento dos momentos”, em Abril chegou o mais novo disco da Bebel Gilberto, que se chama MOMENTO, e é com essa frase na faixa título que Bebel convida a todos a ouvir seu terceiro disco. Esse disco já deu o que falar antes de chegar às lojas do mundo inteiro, pois ninguém sabe como, vazou primeiro pela internet e muitas pessoas no mundo copiaram o disco em MP3. O disco foi co-produzido pela própria Bebel e pelo Guy Sigsworth e é uma maravilha, aliás, como os dois discos anteriores, que levaram a Bebel a ser uma das maiores estrelas da música mundial na atualidade. O cd começa com a bela Momento, que dá nome ao disco, que foi feita pela Bebel, pelo Masa Shimizu e pelo Mauro Refosco, depois tem a maravilhosa Bring back to love, que explodiu nas pistas européias antes ainda do disco chegar, que é uma declaração de amor ao pé do ouvido sussurada pela Bebel, essa música foi feita pela Bebel Giberto, Didi Gutman e a Sabina Sciubba, depois tem a também bela Close to you, também da Bebel, só que em parceria com Guy Sigsworth, depois tem a que talvez seja a melhor música do disco a expetacular Os novos yorkinos, uma faixa bilíngüe com letra em português e em inglês, onde o título da música é uma variação aos Novos Baianos, ela divide o vocal com a Sabina Sciubba, lembrando que a Bebel também é uma nova yorkina, essa música foi feita pela Bebel Gilberto, Didi Gutman e a Sabina Sciubba, depois tem a bela Azul, também da Bebel, com o Guy Sigsworth, depois tem a expetacular Caçada, uma rara música do tio dela Chico Buarque, com direito a banda de pífanos pra reforçar o maracatu dessa música maravilhosa, sem dúvida é a mais surpreendente música do disco, a música ainda tem participação do João Helder e do grande Celso Fonseca, depois tem o super clássico Night and day, de Cole Porter, onde Bebel dá uma aula de como cantar cool jazz, depois tem a expetacular Tranqüilo, do Kassin, onde a Bebel divide a música com a maravilhosa banda brasileira Orquestra Imperial, música gravada no Rio de Janeiro num clima de total desconstração, essa participação da Orquestra Imperial só vem a brilhantar o cd ainda mais, depois tem a maravilhosa Um segundo, da Bebel, com Masa Shimizu, depois tem a bela Cadê você, uma balada com jeito de Nova Bossa Nova, que a Bebel sabe fazer como ninguém, mais uma música da Bebel Gilberto em parceria com Guy Sigsworth, e pra finalizar mais esse disco extraordinário da Bebel tem a bela Words, uma faixa acústica com jeito também de Bebel Gilberto, que fez em parceria com Masa Shimizu e com Erich Batista.

Ainda em 2007 chega depois três anos o novo disco da Clara Moreno, o maravilhoso MEU SAMBA TORTO, ao contrário do expetacular MORENA BOSSA NOVA, nesse cd a Clara Moreno deixa de lado a música eletrônica e volta para a Bossa Nova e alguns sambas antigos. Ela fala que no primeiro disco se inspirou mais na Bebel Gilberto e nesse segundo ela se inspira mais no João Gilberto, que ela gravou algumas músicas que ficaram famosas na voz do mestre. Além do João, fica nítido a semelhança ainda mais da mãe Joyce que consegue ser moderna sem precisar da música eletrônica e do grande Celso Fonseca, que, aliás, produziu o disco ao lado do Rodolfo Stroeter. Esse cd foi feito pela gravadora Farout Recordings, que é a mesma da mãe da Clara, Joyce. As músicas desse disco maravilhoso são: a bela Meu samba torto, que dá nome ao disco, uma nova Bossa Nova inédita feita pelo Celso Fonseca, que participa da faixa tocando violão, depois tem a expetacular Litorânea, também do Celso Fonseca, agora em parceria com Ronaldo Bastos, o Celso aparece nessa música dividindo os vocais com a Clara, depois disso tem a também inédita e expetacular Sabe quem? Feita em parceira da mãe Joyce com Zé Renato, ex integrante do Boca Livre, que tem grande importância na carreira da Joyce, a mãe que participa da faixa tocando violão e o padastro Tutty Moreno tocando bateria, depois tem a bela Sei lá, feita pelo pai da Clara: Nelson Ângelo, a quem ela dedica o disco, depois tem a francesa Mon manege a moi, de Norbet Glanzberg e Jean Constantin, com participação também da Joyce no violão e do Tutty Moreno na bateria, depois tem a clássica Moça flor, uma Bossa Nova maravilhosa do Durval Ferreira e do Lula Freire, que ficou famosa na voz do Tamba Trio, nesse disco cantada pela Clara e pelo Celso Fonseca, depois tem a também clássica Se acaso você chegasse, do Lupícinio Rodrigues e do Felisberto Martins, que ficou famosa na voz da Elis Regina, do Jair Rodrigues e da Elza Soares, no Fino da Bossa, depois tem a expetacular Bahia com H, do Denis Brean, grande clássico na voz de João Gilberto, talvez a melhor faixa do disco, com direito a citação de Chica chica boom, famosa na voz de Carmem Miranda, depois tem o samba Rosa de ouro, do Elton Medeiros, do Hermínio Bello de Carvalho e do Paulinho da Viola, cantada pela Clara Moreno e pelo Celso Fonseca, depois tem a maravilhosa Morena boca de ouro, do Ary Barroso, também famosa na voz de João Gilberto, depois tem o grande clássico Copacabana, do Braguinha, que morreu o ano passado, e do Alberto Ribeiro, depois tem a rara Vem morena vem, do Jorge Ben, tirada do seu primeiro disco SAMBA ESQUEMA NOVO, depois tem a bela Ela vai pro mar, do Celso Fonseca e do Ronaldo Bastos, também com Celso, dividindo os vocais com a Clara e no final a clássica Tenderly, do Walter Gross e Jack Lawrence, música em inglês, um belo jazz pra finalizar o disco.

A cantora e compositora carioca Joyce e o compositor e guitarrista mineiro Toninho Horta estavam se apresentando no Blue Note, em Tóquio, em maio de 1995, quando se deram conta que num certo momento do show, que eles chamavam de “baile” _ quando os músicos saíam do palco e ficavam só os dois _ empreendiam uma verdadeira “viagem” musical a partir de um simples acorde de violão. No repertório sobressaiam sempre as composições de Tom Jobim, falecido cinco meses antes.
Voaram para Nova York com a idéia de um disco dedicado ao maestro. Como só tinham um dia na cidade, gravaram 10 músicas em uma noite, com vocal de Joyce e violão de Toninho. Já no Rio, a pedido do produtor japonês Kazuo Ioshida, gravaram outras duas canções, Estrada do Sol e Frevo de Orfeu, estas incluindo também o violão-base de Joyce. Em Frevo de Orfeu e Esse Seu Olhar, Toninho também participa vocalmente. Com o título de SEM VOCÊ (uma das músicas do disco, de Tom e Vinicius), o CD _ que saíra anteriormente apenas no Japão pela Omagatoki, em 1995 _ está sendo agora em maio de 2007, lançado no Brasil pela Biscoito Fino. A escolha do repertório aconteceu na intuição. “Lembra desta?”, “E aquela? Ah, que bom que você sabe!”. Acostumados a tocar de improviso em shows, como aconteceu em Viena e Copenhagem, por exemplo, amigos desde o início de suas carreiras – participaram do mesmo conjunto musical, A Tribo, nos anos 70, com Nelson Ângelo e Novelli - começaram a gravar SEM VOCÊ na base do improviso, sem ensaio, “um disco de jam session”, como o define Joyce. Das parcerias de Tom com Vinicius de Moraes escolheram quatro: Ela é Carioca, com citação de Garota de Ipanema, Frevo de Orfeu, Só Danço Samba e Sem Você, que deu nome ao CD. Outras duas músicas são parcerias de Tom com Aloysio de Oliveira: Inútil Paisagem e Dindi. Correnteza tem a assinatura de Tom e Luiz Bonfá e Dolores Duran é a letrista de Estrada do Sol. O repertório foi completado com Lígia, Vivo Sonhando, Outra Vez, Este seu Olhar e em teus Braços, com música e letra de Tom. “Rola uma fraternidade entre Toninho e eu”, admite Joyce. “Temos o mesmo background como, por exemplo, o mesmo disco da Julie London com Barney Kessel, onde ela canta Cry me a River. Mais do que Julie London, eu e Toninho somos tarados pelo Barney Kessel. O Toninho mamou nele. E eu, na June Christy. E este disco saiu com a carga emocional pela perda do Tom”. SEM VOCÊ é o segundo disco de Joyce dedicado a Tom Jobim. Em 1987 lançou TOM JOBIM: ANOS 60, com Gilson Peranzzetta, aos 60 anos de vida do compositor, que escreveu ele mesmo o texto da contracapa. SEM VOCÊ acabou ganhando essa edição brasileira em mais uma belíssima homenagem aos 80 do nascimento de Tom Jobim.

Também em 2007, sai o belíssimo cd JOBIM JAZZ, feito pelo Mário Adnet. Jobim Jazz combina arranjos bem trabalhados de Mario Adnet com clássicos do repertório de Tom Jobim e de quebra ainda traz uma lista de músicos de dar água na boca a qualquer produtor e fã da boa música brasileira. Marcos Nimrichter (piano, acordeão), Eduardo Neves (sax tenor), Ricardo Silveira (guitarra), Nailor Proveta (clarinete), Jessé Sadoc (flugelhorn), Helio Delmiro (violão), Marcello Gonçalves (violão de 7 cordas), Andréa Ernest Dias (flauta), Armando Marçal (percussão), Joyce (voz), Vittor Santos (trombone), Romero Lubambo (violão) são apenas alguns dos nomes que você vai reconhecer neste trabalho.
Com arranjos e direção de Mario Adnet, Jobim Jazz apresenta clássicos bem conhecidos e ainda traz também composições mais raras tais como o samba Domingo sincopado de 1956, parceria com Luiz Bonfá. Esta primeira faixa é um samba com muito suíngue e um arranjo dando destaque ao naipe de metais. Até mesmo só com essa primeira faixa este álbum já se justificaria mesmo se o resto do CD não fosse de alta qualidade. Entretanto, conhecendo a qualidade do trabalho que Mario faz, você sabe que pode esperar muito mais. Na faixa seguinte, a mistura de baião e maracatu em Quebra pedra (Stone flower) é enaltecida com a percussão de Armando Marçal e o solo de acordeão de Marcos Nimrichter. Depois tem a rara e bela Sue Ann, tirada da trilha do filme The Adventurers, depois tem o samba jazz de Tema jazz, única música do Tom com citação direta do termo jazz, depois tem Rancho nas nuvens, a sensacional Surfboard, Meninos, eu vi, parceria com Chico Buarque, a clássica Só danço samba, a também rara e bela Paulo vôo livre, onde o Mário divide os vocais com a Joyce, Valsa do Porto das Caxias, Frevo de Orfeu, o choro Bate-boca e a raríssima Polo pny, também tirada do filme The Adventurers. Sem dúvida uma belíssima homenagem ao Tom.

No mesmo ano, sai nos EUA o belíssimo álbum SURRENDER, da cantora de jazz Jane Monheit. Esse cd é uma bela homenagem a música brasileira, especialmente a Bossa Nova e tem participação do Ivan Lins, do Toots Thielemans e do Sergio Mendes. As faixas desse cd são: If you went away, versão em inglês da maravilhosa Preciso aprender a ser só, do Marcos e Paulo Sergio Valle, Surrender, a bela Rio de maio, onde ela divide os vocais em português com Ivan Lins, autor da música, a maravilhosa Like a lover, versão em inglês da belíssima O cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta, o clássico Só tinha de se ser com você, do Tom e do Aloisio Oliveira, também cantanda em português, a também maravilhosa So many stars, com participação de Sérgio Mendes no piano, a clássica Moon river, a bela Overjoyed, de Stevie Wonder, a também maravilhosa Caminhos cruzados, do Tom e do Newton Mendonça, também cantada em português, com participação do gaitista Toots Thielemans e no final a também bela A time for love, Johnny Mandel e Paul Francis Webster.

Uma das melhores surpresas de 2007 foi o disco ONDE BRILHAM OS OLHOS SEUS, que traz a vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai, em sua estréia solo provando ser uma das melhores cantoras do país numa recriação de canções gravadas por Nara Leão. Com produção do marido e também parceiro de Pato Fu, John Ulhôa, que também toca todos os instrumentos, o álbum conecta dois grandes momentos da Música Brasileira, dois universos ricos e criativos, a fase áurea de Bossa-Nova e Tropicália e o momento atual, onde produção, composição e interpretação ganham alta qualidade com nomes fora da mídia e do grande mercado. Fernanda Takai dá nova alma a clássicos, como Insensatez de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e Com açúcar, com afeto de Chico Buaque e atualiza lindamente pérolas esquecidas, como Seja o meu céu, de Robertinho do Recife, uma das melhores do disco. Ciente de suas limitações, assim como Nara, Fernanda explora o sentimento através de sua voz doce e pequena. O resultado se encaixou de forma perfeita ao repertório de Nara, como se as canções tivessem sido feito para ela, como em Canta, Maria de Ary Barroso e Diz que fui por aí de Zé Ketti, outro destaque do álbum. Ao todo são 13 músicas, com versão particulares, numa desconstrução que às vezes causa até estranhamento. Não há fidelidade alguma às versões originais e esse é um dos maiores méritos do trabalho. A bossa, MPB, choro e samba de nomes como Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Zé Kéti, Nelson Cavaquinho, Erasmo e Roberto Carlos e Ary Barroso se transformam em versões discretas e caprichosamente modernas. O cd também tem a primeira regravação de Lindonéia, clássico da tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Luz negra, de Nelson Cavaquinho, a bela Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, de Roberto e Erasmo Carlos, a maravilhosa Odeon, de Ernesto Nazareth com letra do Vinícius de Moraes, a espetacular Estrada do sol, de Tom Jobim e da Dolores Duran, Trevo de quatro folhas, que já foi gravada pelo João Gilberto, a belíssima Descança coração, música que pode ter sido a última gravada pela Nara, versão em português da clássica My foolist heart, feita pelo Nelson Motta e Ta-hi, sucesso na voz de Carmem Miranda. . Pop, rock, jazz, soul e em alguns momentos até um clima meio ambient music. Além de John, o disco conta com participações de Lulu Camargo, tecladista do Pato Fu, e Roberto Menescal, que gravou as guitarras de “Insensatez”. Em formato digipack e belo projeto gráfico, o CD vale a pena também pelo belo projeto gráfico, que inclui textos de Nelson Motta, letras das músicas e fotos. Co-produzido por Nelson Motta (que lançou a idéia do projeto), “Onde Brilham os Olhos Meus” foi eleito ‘Melhor Disco’ pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), na categoria popular Um daqueles discos que vale a pena ter em casa e que nos revela uma nova e bela faceta da carreira de Fernanda Takai.

No final de 2007, pela Biscoito Fino sai o belíssmo DVD A Casa do Tom. “Esse negócio de entender de uma coisa, tem que amar. Quando você ama, isso cria uma capacidade. Você se interessa pela coisa, você começa a olhar”. A frase de Tom Jobim foi tão bem entendida por Ana, sua mulher durante 17 anos, que ela lança agora um DVD, pela Jobim Biscoito Fino, com sua história de amor com o maestro, com a família e com a natureza que aprendeu a ver pelos olhos de Tom e tão bem registrou em fotos, publicadas em diversos livros sobre o compositor. A inspiração para este DVD veio do Ensaio Poético, livro que lançou em parceria com o marido em 1987 na Casa de Cultura Laura Alvim. Na época, Ana pensou em fazer um vídeo com Tom que pudesse ser exibido em diversos monitores enquanto durasse a exposição de fotografias do livro. Chamou o primo documentarista Luiz Eduardo Lerina, contratou uma equipe composta por cinegrafista e sonoplasta, e saiu em campo documentando o marido na intimidade. Tudo feito de maneira muito livre, como ela faz questão de dizer. Tom abordava os temas que tinha vontade no momento e ela seguia sua intuição, filmando-o na casa que estavam construindo no Jardim Botânico, no Rio, no sítio da família em Poço Fundo, na serra fluminense e em Nova York. O material resultou em oito horas de gravação. Guardado há exatos 20 anos, de vez em quando Ana se via às voltas com o pedido de alguma televisão que desejava exibir uma imagem ou trechos do trabalho. Ela sentiu que os empréstimos poderiam acabar com o ineditismo e a intimidade dos filmes: “Começamos a ficar meio ciumentos, porque se fosse fragmentado perderia o sentido”. Decidiu então que iria preservar toda a documentação para a hora certa. Não deve ter sido fácil mergulhar nesta memória com passagens muitos dolorosas. Mas ela conseguiu, de certo modo, fazer uma catarse e está feliz com o resultado. Além de lindo, o DVD é emocionante. Narrado pela própria Ana Jobim, tem como fio condutor o poema Chapadão, que Tom começou a escrever quando escolheram o terreno no alto do Jardim Botânico para construírem sua casa: “A casa levou quatro anos para ficar pronta e o poema, oito”, conta ela no DVD.

O poema vai intercalando falas, fotos em P&B e cor, filmes caseiros, filmes profissionais, uma grande entrevista com Tom feita por Ana e histórias saborosas de uma intimidade de amor: “No dia da mudança para o alto do Jardim Botânico”, conta Ana, “a única preocupação de Tom era o piano. Ele mesmo ligou para a transportadora, tomou conta de cada passo, desde a saída da casa antiga, à chegada na casa nova, até a posição do piano na sala”. As locações mudam. Tom pode estar no apartamento de Nova York ao piano e abandonar o teclado para carregar a filha Maria Luiza, ainda um bebê, ou brincando com o filho João Francisco no Central Park ou nos jardins de Poço Fundo. Ou conversando com Narciso, um empregado do sítio, que lembrava os personagens fantasiosos de Guimarães Rosa que Tom tanto amava: “Seu Tom, senhor acredita que eu meti tanta bordoada no lobisomem, que o lobisomem só olhava pra mim com a cara redonda, a orelhazinha curta e todo rupiado. Falei: vai me pegar...”. Esta conversa acontece debaixo de uma mangueira e Tom não perde a oportunidade de exercer seu fino humor: “Você vê: essa mangueira aqui, por exemplo, não dá manga, mas dá água...Isso na verdade, isso não é uma mangueira, isso é o pessoal de Hollywood que veio me filmar...são os cabos da CBS, da NBC”.
Musicalmente, A Casa de Tom - Mundo, Monde, Mondo também é intimista. Tema para Ana, a primeira faixa, é executada por Ryuichi Sakamoto e Jaques Morelembaum, numa gravação feita na própria casa de Ana e Tom. Sakamoto tinha loucura para conhecer o piano do maestro. Ana emprestou a casa – Tom havia morrido oito anos antes – e os dois músicos acabaram gravando todo um CD no piano encantado. Mas Ana guardou uma preciosidade. O próprio Tom interpretando Tema para Ana, que ele nunca gravou comercialmente e ela tinha guardado num gravador caseiro.
Ao todo são 24 músicas, algumas com participações (Dorival Caymmi, Chico Buarque, Maucha Adnet, a própria Ana Jobim, Danilo Caymmi, Paulo Jobim e a pequena Maria Luiza, acompanhando o pai em Samba de Maria Luiza, além da célebre gravação de Garota de Ipanema com arranjo de Eumir Deodato e participação de Jerry Doggion (sax-alto), Ron Carter (baixo), Joe Farrel (flauta) acompanhando o piano de Tom. Nos extras, mais seis canções e dois poemas. Além de Águas de Março, uma verdadeira homenagem a Dorival Caymmi (Maracangalha, Saudades da Bahia, Suíte do Pescador e Maricotinha), uma lembrança de Bororó (Curare) e os poemas Chapadão e Oda a Rio de Janeiro, de Pablo Neruda.
E voltando àquela história “esse negócio de entender de uma coisa, tem que amar”, Ana Jobim dedicou o trabalho aos dois filhos, João Francisco e Maria Luiza, sem esquecer de citar os dois mais velhos, de Tom com Tereza, Paulo e Elizabeth. A Casa do Tom é, principalmente, um resgate do pai para Maria Luiza, que tinha apenas sete anos quando ele morreu.


sábado, 19 de julho de 2008

7 - A Bossa Nova hoje - 8ª parte



8ª parte

O ano de 2006 começa muito bem pra música brasileira, no exterior, porque aqui a coisa continua feia com a volta do funk agora com força total, com direito a passar na novela das 8 da Rede Globo, mas no início do ano sai na Europa duas colêtaneas maravilhosas pela Farout Recordings.

A primeira delas é AZIMUTH – PURE (THE FAR OUT YEARS 1995 – 2006) com o melhor da explendorosa banda Azimuth fez pela gravadora Farout Recordings com direito a músioca inédita. As músicas desse cd são: Brazymuth, Tudo o que você podia ser, Laranjeiras, O lance, Quem com quem, música feita com ninguém menos que o Marcos Valle, que é o mentor espiritual da banda, já que o nome da banda vem de uma música expetacular do Marcos Valle, o disco também tem Carangola, Saudades do doutor, Antes que esqueça, Juntos mais uma vez, Chameleon, Carnival, Xingo, Morning e Tempos do Paraná.

A segunda delas é a sensacional BRAZILIAN LOVE AFFAIR REMIXED, é a versão remixada de uma colêtanea maravilhosa de música brasileiora feita por vários djs europeus. As músicas desse disco são: Pára de fazer, música inédita de Marcos Valle, remixada pelo 4hero, depois tem a bela Besteiras de amor, também do Marcos Valle, remixada por Jazzanova, depois tem Maracatueira, cantada pela desconhecida Sabrina Melheiros, remixada pelo Incognito, depois tem Chuva, do Vertente, remixada pelo Seiji`s Oreja, depois tem a expetacular Parabéns, também do Marcos Valle, remixada por Daz-I-Kue`s Bugz in the Attic Dub, depois tem Somewhere beyond, do Natures Plan, remixada pelo Marc Mac`s Dollis House, depois tem Ah você não sabe, do Azimuth, remixada pelo Roc Hunter Body and Soul Mix, Laranjeiros, também do Azimuth, remixada pelo Frytonix, depois tem Francisco Cat, do Friends from Rio, remixada por APE e no final tem Batlle of the Giants, do Grupo Batuque, remixada pelo Roc Hunter.

Também em 2006 e também na Europa, sai a belíssima coletânea THE NOW SOUND OF BRAZIL 2, pela Crammed com o melhor da música brasileira atual, pelo menos na visão dos europeus. O cd começa com a versão remixada da sensacional Simplesmente, da fantástica Bebel Gilberto, remix belíssimo de Tom Middleton Ballearic, depois tem a brasileiríssima Samba da minha terra, com sotaque holandês da banda Zuco103 ao lado do Bossacucanova, depois tem Inexplicata, com Apollo 9, depois tem Esplendor, com a Cibelle, depois tem Por acaso pela tarde, do grande Celso Fonseca, depois tem Trancelim de Marfim, com Dj Dolores e Issar, depois tem Eu nasci no Brasil, com Zuco 103, depois tem a sensacional Cada beijo, também da Bebel Gilberto, remixada por ninguém menos que Thievery Corporation, depois tem Love is Queen Omega, com Zuco 103 e Lee Scratch Perry, depois tem a música 86, com Apollo 9, depois tem Meu amor, com a Cibelle, depois tem Roberto Menescal e o Bossacucanova, transformando a clássica Bonita, de Tom Jobim, num samba house maravilhoso, depois tem a música Atlântico, de Celso Fonseca, remixada pelo Da Lata e no final tem mais uma versão de Trancelim de marfim, do Dj Dolores, só que agora remixada pelo Apollo 9.

Mas a melhor notícia para a música brasileira do ano de 2006 sai em Los Angeles, nos EUA, mas precisamente no bairro de Beverly Hills, onde acontece um encontro memorável e surpreendente: do rapper americano Will.I.Am, líder da famosa banda Black Eyed Peas e o mestre da Bossa Nova: Sérgio Mendes. Eles se juntam e fazem um disco excepcional chamado TIMELESS, eterno, como Sérgio Mendes é, depois de 10 anos sem lançar um disco e 40 anos depois do sucesso estrondoso do disco que vendeu mais de 1 milhão de cópias. Nesse disco de 1966, Sérgio Mendes criou a Bossa Pop, e com TIMELESS, cria a Bossa Rap, uma mistura maravilhosa de Bossa Nova com Hip Hop. O disco começa logo de cara com o superclásssico Mas que nada, transformado num samba rap, com trechos da música em inglês, feitos por ninguém menos que a banda Black Eyed Peas, quem canta em português é Gracinha Leporace, que é mulher do Sérgio Mendes, depois tem a bela That heat, do Will Adams, com citação de Slow Hot wind, música de Henri Mancini e Norman Gimbel, com participação do Will.I.Am e da cantora americana Erykah Badu, depois tem os clássicos afrosambas Berimbau/Consolação, cantados pela Gracinha Leporace e com participação expecialíssima de Stevie Wonder tocando flauta (!), depois tem o clássico The frog, de João Donato, se tornando uma Bossa Rap, com participação do Will.I.Am e do rapper Q-Tip, depois tem a música Let me, versão em inglês de Deixa, do Baden Powell, cantada brilhantemente pela americana Jill Scott, com participação também do Will.I.Am, depois tem a também clássica Bananeira, do João Donato in jamaican style, transformada num reggae com rap feitos pelo jamaicano Mr. Vegas e cantada pela Gracinha, sem sombra de dúvidas é uma das melhores faixas do disco, depois tem a também clássica Surfboard, de Tom Jobim, transformada numa Bossa Rap sensacional com direito a letra em inglês inspirada de Will.I.Am, das praias cariocas para as ruas americanas, depois tem a bela Please Baby don`t, do americano John Legend, cantada por ele mesmo num clima bem Bossa Nova, depois tem o maravilhoso Samba da Benção, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, com participação do Quarteto Maogani e do grande Marcelo D2, transformando esse clássico da música brasileira num samba rap delicioso, e no final ele manda a benção a Sérgio Mendes, a Will.I.Am, a Baden Powell, e ao “branco mais preto do Brasil” o poeta Vinícius de Moraes, depois tem a bela e inédita Timeless, do Sérgio Mendes, do Pritnz Board e da India. Arie, cantada brilhantemente bela própria India. Arie, num ritmo meio de escola de samba, depois tem a bela e surpreendente Loose Ends, do Justin Timberlake, do Will Adams e do Troy Jamerson, cantada pelo Justin Timberlake, pelo Will.I.Am e pelo Pharaohe Monch, depois tem a também surpreendente Fo`hop (Por trás de Brás de Pina), um forró e embolada com hip hop, feito pelo mestre Guinga e pelo Mauro Aguiar, com participação do próprio Guinga e do Marcelo D2, depois tem a bela Lamento no morro, de Tom e Vinícius, tirada da peça Orfeu da Conceição, em 1956, para as pistas de dança do mundo 50 anos depois, num samba house com uma versão instrumental com participação do Quarteto Maogani, depois tem a bela Ê menina, do João Donato, cantada pela Gracinha, pela costariquenha Debi Nova, pelo Sérgio Mendes e pelo Will.I.Am e no final tem o rap maravilhoso de Yes, yes y`all, feito pelo Will Adams, pelo Charles Stewart e pelo Tariq Trotter, com participação de Black Thought, pela Chali2na, pela Debi Nova e de novo pelo Will.I.Am. Finalmente, Sérgio Mendes teve o albúm que merecia com produção do Will, e esperamos que com esse disco ele finalmente seja reconhecido e respeitado no Brasil, já que nos Eua, na Europa e no Japão, ele é considerado um dos reis da Bossa Nova.

Finalmente em abril de 2006 sai pela gravadora Biscoito fino o cd RIO-BAHIA da Joyce e Dori Caymmi, depois de quase de um ano de espera, mas valeu a pena esperar porque esse disco e maravilhoso. É um reencontro da Joyce com o Dori que foi arranjador do primeiro disco dela em 1968. Como a Joyce falou no encarte do disco os dois são cariocas, mas cada um deles tem um pé na Bahia – ela por ser casada com um baiano, Tutty Moreno, e Dori por ser filho de Dorival Caymmi, o homem que, com Jorge Amado, inventou a Bahia. As canções falam destes lugares amados, berços da música brasileira, aquarelas do Brasil.

No final de maio o selo Jobim Biscoito Fino relança álbum idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, que apresenta a última parceria de Tom e Chico. A música de Antonio Carlos Jobim e a Estação Primeira de Mangueira são duas das maiores referências da identidade carioca. Coube ao poeta Hermínio Bello de Carvalho juntar uma e outra em um álbum inteiramente dedicado a estas vertentes que constituem um dos grandes patrimônios da cultura brasileira. A Jobim Biscoito Fino relança NO TOM DA MANGUEIRA, idealizado por Hermínio no LP original de 1991, pouco antes do desfile em que a escola homenageou o maestro, no carnaval seguinte. “Tom estava eufórico e compusera com Chico a obra-prima Piano na Mangueira, lembra Hermínio”. Convidei Mauricio Tapajós para ser o produtor-executivo do disco e colocamos no estúdio um dos elencos mais caros do país – sem que ninguém cobrasse um tostão de cachê. Cismei de gravar Tom e Chico ao vivo, mas um problema técnico fez com que os re-convocássemos ao estúdio. Tom foi de uma docilidade extrema ao fazer o play-back para Carlos Cachaça recitar um poema. Como juntar Cartola, já desaparecido, a Paulinho da Viola? E Clementina a Ney Matogrosso? A tecnologia foi abrindo caminho e solucionando essas coisas que íamos inventando”, explica.
A abertura do álbum é exatamente Piano na Mangueira, última parceria de Tom e Chico, interpretada pelos próprios. Na seqüência, uma série de músicas de levantar poeira, em parte organizadas nos famosos blocos-temáticos concebidos por Hermínio. Sob o violão de Marco Pereira, Gal Costa recria Fala Mangueira, título do disco de 1968, reunindo Cartola, Clementina de Jesus, Carlos Cachaça e Odete Amaral. Idealizado por quem? Hermínio, naturalmente.
O desfile de “sambas que constituem o hinário daquela agremiação”, nas palavras de Hermínio, prossegue com Nasceste de uma Semente e Semente do Samba, juntando a voz de Ney Matogrosso ao violão de Raphael Rabello. A tal da tecnologia tratou de inserir a voz de Clementina de Jesus, gravada mais de vinte anos antes. Os duetos germinam ainda em Folhas Secas, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, repisadas na cadência de Zezé Gonzaga e Baden Powell. A faixa seguinte une Tom e Carlos Cachaça em Não Quero Mais Amar Ninguém, de Cachaça com Cartola. Cláudio Nucci entoa Pranto de Poeta, outra de Nelson e Guilherme, e Paulinho da Viola recria Todo o Tempo que Eu Viver, de Cartola, junto ao próprio autor, num dueto só possibilitado pelos recursos de gravação então emergentes. Alcione, Beth Carvalho, Mestre Marçal e Peri Ribeiro enfileiram quatro criações de Herivelto Martins, com a participação do próprio mestre: Mangueira Não, Saudosa Mangueira, Lá em Mangueira, Praça Onze. Outra ilustre mangueirense, Leci Brandão, recria o injustamente pouco lembrado Padeirinho, em A Mais Querida.
Quando o Samba Acabou é uma das grandes criações de Noel Rosa, onde o poeta da Vila cita uma disputa amorosa protagonizada no morro da Mangueira, aqui na voz de Alaíde Costa. Assim como esta Joyce e Johnny Alf evidenciam a genealogia do samba na Bossa-Nova, em duas músicas de Benedicto Lacerda: Sabiá de Mangueira e Despedida de Mangueira. Sandra de Sá mostra que sambista também tem groove, em Meninos da Mangueira, que transforma Papai Noel num mulato sarará da família de Dona Zica, de acordo com os versos de Sergio Cabral para a melodia de Rildo Hora.
Nelson Cavaquinho aparece em três gravações da época do Zicartola, segundo Hermínio, a principal inspiração do disco: Rei Vagabundo, A Mangueira me Chama e Sempre Mangueira. Época esta em que surgiam os gênios de Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulinho da Viola, revezando-se em Exaltação à Mangueira, Sei lá Mangueira e Mundo de Zinco. Maria Bethânia e o grupo vocal Garganta Profunda entoam Primavera, dos bastiões Nelson Sargento, Jamelão e Alfredo Português. Três vertentes díspares da música brasileira se locupletam em Enquanto Houver Mangueira, Onde Estão os Tamborins e Levanta, Mangueira, com Benito de Paula, Ivan Lins e Elza Soares. O Piano na Mangueira repousa no acervo do incansável Hermínio: “afago o manuscrito original do Piano na Mangueira, que Tom e Chico me ofertaram com tanta delicadeza, repetindo que a Mangueira é mesmo tão grande que nem cabe explicação, assim como este disco é para mim um chão de esmeraldas que volto a pisar ao lado de meus queridos concidadãos mangueirenses”, diz emocionado o poeta, que sabe ser mesmo diferente aquele pranto sem lenço que alegra a gente.

Em julho sai também pela Biscoito Fino o DVD TOM JOBIM AO VIVO EM MONTREAL, um DVD que mostra o maestro Antônio Carlos Jobim à frente da Banda Nova no Festival Internacional de Jazz do Canadá, em 1986.
Maior nome da Música Popular Brasileira em todas as suas vertentes, o maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim completaria 80 anos em janeiro de 2007. Antecipando as comemorações (como se as efemérides pudessem por si só justificar a celebração permanente em torno do nome e da obra de Antonio), a Jobim Biscoito Fino lança o DVD Tom Jobim ao vivo em Montreal, gravado em 1986, no festival internacional de jazz da cidade canadense. Vivendo aquela que o próprio maestro considerava a melhor fase de sua trajetória – em que percorria os palcos à frente de sua Banda Nova, mostrando as canções que o consagraram internacionalmente como um dos maiores músicos do século XX -, Jobim aparece feliz, renovado e falante nas quase duas horas de espetáculo registradas neste DVD. Ao lado de Jacques Morelenbaum (violoncelo), Paulo Jobim (violão), Danilo Caymmi (flauta), Sebastião Neto (baixo) e Paulo Braga (bateria), com o vocal de Ana e Elizabeth Jobim, Simone Caymmi, Maúcha Adnet e Paula Morelenbaum, Tom interpreta seus standards – com versões em português ou nas adaptações para o inglês -, além de músicas menos conhecidas de seus álbuns, àquela altura, mais recentes.

As músicas desse DVD são Samba de uma nota só, clássico que Tom fez com Newton Mendonça, Água de beber, também clássico, mas com Vinícius de Moraes, a eterna Chega de saudade, a maravilhosa Two Kites, música que Tom fez sozinho, a também maravilhosa Wave, que o Tom compôs sozinho, a então novíssima Borzeguim, a bela Falando de amor, a também nova Gabriela, a clássica A felicidade, que Tom também fez com Vinícius de Moraes, o também clássico Samba do avião, que Tom compôs sozinho, a expetacular Waters of March, a também eterna e expetacular Garota de Ipanema e no final de novo Tom canta Samba de uma nota só, com direito ao Tom Jobim fazendo citação a Canção do Exílio, poema do Gonçalves Dias. O extra traz uma entrevista de Tom concedida em sua casa, no bairro do Jardim Botânico, no Rio, em 1981, ao jornalista Roberto D’ávila, num dos momentos mais confessionais e comoventes já registrados com a presença do maestro – que fala de música, brasilidade e sentimentos como o amor e a tristeza, indispensáveis à sua criação.

Nesse mesmo ano de 2006, morre um dos maiores mestres da música brasileira: o maestro Moacir Santos, que compôs a maravilhosa Nanã que é conhecida no mundo todo, além de outras composições sensacionais e foi homenageado pelo Vinícius de Moraes na música Samba da Benção onde ele diz: “Benção ao maestro Moacir Santos, que não é um só, mas tantos como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião”.

Em agosto de 2006, sai a continuação de uma das coletâneas de maior sucesso na música mundial: CHILL:BRASIL 4. Depois do sucesso dos três primeiros cds que foram compilados pelo Marcos Valle, pela Joyce e pelo Gilberto Gil, agora sai o quarto volume cujas músicas foram escolhidas pela Roberta e a Flávia Eluf. Assim comos os três cds anteriores o disco é duplo.

As músicas desse disco são:

CD 1 – Querida, com Tom Jobim, Carta ao Tom, com Toquinho e Vinícius de Moraes, La piu bella del mondo, com Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, Triste, com João Gilberto, Foi assim, com Fafá de Belém, Quem eu quero bem, com Daniela Procópio, Como nossos pais, com Belchior, Ponteio, com Hélio Delmiro, Correnteza, com Tom Jobim, Sad Samba, com Deeper & Pacific, Um índio, com Barão Vermelho, A Paraíba não é Chicago, com Marcos Valle, Estou livre, com Tony Bizarro, Vamos dançar, com Ed Motta, Meu guarda-chuva, como Funk como le gusta e Dzarm, com Jorge Ben Jor.

CD 2 – Sá Marina, com Wilson Simonal, Testamento, com Toquinho e Vínicius, Samba de verão, com Conjunto Som 4, Águas de Março, com Rosa Passos, Pelas tabelas, com Roberta Sá, Aquele abraço, com Gilberto Gil, Lata d’água, com Sônia Rosa, Madalena, com Elis Regina, Olha aí, com Johnny Alf, Bolinha de sabão, com Renato Perez, Dores de amores, com Luiz Melodia, Feiticeira, com Zezé Motta, Saudade da Bahia, com Nana, Dori e Danilo Caymmi, Bebete Vãobora, com Eletrosamba e Balé de Berlim, com Gilberto Gil.

domingo, 6 de julho de 2008

7 - A Bossa Nova hoje - 7ª parte



7ª parte

Em 2005, sai pela Biscoito Fino, o DVD JOYCE A BANDA MALUCA – AO VIVO, o primeiro DVD da maravilhosa Joyce. A banda maluca saiu do Rio, virou CD no Japão, Europa e Brasil. Agora ganha imagens através de um elegante musical gravado em um teatro em São Paulo em co-produção da gravadora Biscoito Fino com a TV Cultura. Apenas Joyce e os músicos, sem platéia. Uma fotografia musical que mostra a intimidade de quem está tocando junto e viajando o mundo há mais de dez anos. Joyce fugiu dos padrões de Dvds que revisam carreiras e optou por mostrar sua produção recente. Das 18 músicas, 12 são saídas de seus dois últimos CDs, Gafieira moderna (2001) e Banda maluca (2004). Entre os extras, o making of da gravação do disco Banda Maluca (que saiu na Inglaterra com o título de Just a Little Bit Crazy); uma entrevista com a cantora, exibida em especial da TV Cultura; cenas da turnê na Europa e no Japão, com as participações das filhas de Joyce, as cantoras Clara Moreno e Ana Martins; um quiz para testar os conhecimentos dos fãs. Quem acerta, ganha como prêmio uma versão exclusiva de Monsier Binot e Claeana, em formato voz e violão. Outro diferencial foi a opção por registrar o show em um teatro vazio, sem público. Se a qualidade técnica da imagem peca em alguns momentos, o valor artístico compensa. Joyce se mostra como uma das mais antenadas e talentosas artistas brasileiras. Exportada para o mundo com embalagem verde e amarela, a música de Joyce levanta bandeira de um país moderno e antenado a suas tradições. A bossa dela é outra. As músicas desse DVD são: Banda maluca, com citação da música Chiclete com banana, do Jackson do Pandeiro, a clássica Upa neguinho, do Edu Lobo, Diz que eu também fui por aí, Você e eu, do Carlos Lyra e do Vinícius, Receita de samba, Forças d`alma, Azul Bahia, Galope, Na casa do Vila, A hard day`s night, L`étang, For hall, Na paz, Samba do Joyce, Aldeia de Ogum, sucesso nas pistas eletrônicas no mundo todo, Pause Pitte, a clássica Feminina, sua música mais famosa, e a eterna Aquarela do Brasil.

O ano de 2005 é o ano de lembrar os 25 anos da morte do poetinha Vinícius de Moraes. Como dizia o poeta, o bom samba é uma forma de oração. Por isso, saiu pela gravadora Biscoito Fino, o novo disco de Maria Bethânia: QUE FALTA VOCÊ ME FAZ, uma belíssima homenagem ao poeta. Bethânia redimensiona sua memória afetiva – e a de infindáveis gerações de brasileiros – através do cancioneiro de Vinicius de Moraes. São 15 faixas, em parcerias com Antonio Carlos Jobim, Garoto, Chico Buarque, Carlos Lyra, Baden Powell, Toquinho, Adoniran Barbosa, Jards Macalé, além de uma versão de Caetano Veloso para Nature Boy, de Eden Ahbez, incluindo um antigo registro da voz de Vinicius, recuperado por Bethânia. As músicas do disco são: a belíssima Modinha, parceria com o amigo Tom Jobim, depois tem um medley com Poética I, um poema do Vinícius e a bela Astronauta, parceira com Baden Powell, depois tem a clássica Minha namorada, magnifíca música com parceria de Carlos Lyra, depois tem a sempre emocionante A felicidade, um dos maiores clássicos da parceria com o Tom, depois tem a sensacional Tarde em Itapuã, parceira com Toquinho, praticamente um hino em homenagem a Bahia, terra natal de Bethânia, depois tem um medley com Lamento no morro e o Monólogo de Orfeu, duas peças maravilhosas do inesquecível Orfeu da Conceição, falando em Orfeu, depois tem Mulher sempre mulher, também do Orfeu, as 3 em parceria com o grande Tom Jobim, depois tem a comovente Gente Humilde, que Vinícius fez a letra, entusiasmado com a parceria entre Tom e Chico Buarque, pediu a Chico, em Roma, algumas sugestões para a letra que acabara de escrever sobre a melodia de Garoto. Proposta aceita, Vinicius tratou de comunicar em um telefonema exultante para o maestro, no Rio: “Tomzinho, o Chico agora também é meu parceirinho!”, depois tem a rara O mais que perfeito, parceria, até de certa forma surpreendente com Jards Macalé, depois tem a melancólica O que tinha de ser, também em parceria com Tom, depois tem outra música rara Bom dia tristeza, junto com o rei do samba paulistano Adoniram Barbosa (lembrando que um dia Vinícius disse que “São Paulo é o túmulo do samba”!), depos tem o clássico afrosamba Samba da benção, em parceria com Baden Powell, depois tem a também clássica Você e eu, parceira com Carlos Lyra, depois tem a também bela Eu não existo sem você, mas uma da brilhante parceria com Tom Jobim e fechando o disco a música Nature boy.

Também em 2005, sai o belíssimo cd BOSSA NOVA LOUNGE – SUMMER SAMBA, mas um volume dessa coletânea maravilhosa celebrando o melhor da Bossa Nova com toque de lounge music. As músicas desse disco são a clássica Os grilos, numa versão menos conhecida, tocada pelo grupo Os Cadedráticos, Samba de verão, que não podia faltar, cantada pelo Marcos Valle, Mar, mar, tocada pelo Walter Wanderley, Tema feliz, com a Leny Andrade, o clássico Samba do Carioca, tocado por ninguém menos que Meirelles e os Copa 5, a desconhecida Espero por você, cantada por Jorge Ben Jor, a clássica Rio, tocada pelo mestre João Donato, Surfin`in Rio, cantada pela Sylvia Telles, Adriana, pelo Roberto Menescal, Feitinha pro poeta, pelo grupo Os gatos, Samba da pergunta, pela Marcia, Meditação, pelo Eumir Deodato, Doralice, na versão que ganhou o mundo com João Gilberto e Stan Getz e fechando o disco a rara e bela Andorinha, com o nosso maestro soberano Tom Jobim.

Ainda em 2005, foi descoberto na Inglaterra um disco inédito de João Donato, que ele tinha gravado em 1973 aqui mesmo no Brasil, o nome do disco é A BLUE DONATO, na verdade o disco é um resto de gravação de um outro disco do João Donato, que acabou saindo sem essas músicas. As músicas desse disco são: Mimosa n.º 1, Tom thumb, a explendorosa Não tem nada não, Message from the nile, Mimosa n.º 2 e Mr. Keller. Esse cd saiu pela gravadora inglesa What Music, e como sempre, ainda não se sabe quando vai chegar aqui no Brasil. As músicas são todas instrumentais e têm o jeito bem samba jazz, que o João Donato foi um dos criadores.

Também em 2005, sai aqui no Brasil uma belíssima coletânea dupla chamada FOTOGRAFIA – OS ANOS DOURADOS DE TOM JOBIM. Um cd duplo que mostra muito bem porque que Tom foi o maior compositor de música popular do mundo em todos os tempos.

No primeiro cd estão vários sucessos. As músicas desse primeiro cd são: Garota de Ipanema, Água de beber, Insensatez, Samba de uma nota só, Só danço samba, Chega de saudade, Desafinado, Águas de Março, na clássica versão com Elis e Tom, Só tinha de ser com você, também com Elis e Tom, Fotografia, também com Elis e Tom, Chovendo na roseira, com Edu e Tom, Luiza, também com Edu e Tom, Passarim, Gabriela e Anos Dourados, com Chico Buarque.

Já no segundo cd tem gravações raras. As músicas desse segundo cd são: a primeira gravação de Águas de Março, em 1972, Olha Maria, com Chico Buarque, Canção em modo menor, com Nana Caymmi e Tom Jobim, Soneto da separação, com Vinícius de Moraes, Matita perê, com Paulo César Pinheiro, Pé do Lageiro, com Tom Jobim e João do Vale, O rio da minha aldeia, Cavaleiro monge, essas duas últimas saídas do disco A MÚSICA EM PESSOA, com artistas brasileiros musicando poemas de Fernando Pessoa, outra versão de Águas de Março, essa com Tom Jobim, Chico Buarque e Caetano Veloso, a versão orginal de Anos dourados, instrumental como saiu na minissérie da TV Globo, Trem azul e fechando o disco a bela Querida.

Também em 2005 sai no Japão o extraordinário disco RIO-BAHIA, da sempre explondorosa Joyce e Dori Caymmi, filho do mestre Dorival Caymmi. Como era de se esperar saiu primeiro no exterior e só em 2006 chegou ao Brasil. “Existem pequenas iguarias que só dão aqui. Aí, vem o japonês e compra". Em tom de brincadeira, Joyce traça um paralelo entre o cupuaçu, fruto brasileiro patenteado por uma empresa japonesa (!), e a trajetória dela e de outros músicos brasileiros que encontraram no exterior espaço para gravar. RIO-BAHIA, de Joyce e Dori Caymmi, é a prova. Lançado pela JVC na Ásia e Oceania e pela Far Out na Europa e nos Estados Unidos, o disco já tem turnê marcada no Japão, em julho, e na Europa, em setembro.
E
no Brasil? Por aqui, nem sinal. "Para variar, sairá primeiro lá fora", diz Joyce. "No começo eu achava estranho, mas já me acostumei. São discos gravados aqui, com músicos daqui e com canções cantadas em português.
, sai por uma companhia estrangeira. É a ”mcdonaldização” da música." As músicas desse disco são: a bela Mercador de Siri, música do Dori Caymmi e do Paulo César Pinheiro, a maravilhosa e
inédita Rio-Bahia, da Joyce, com citação de Acontece que sou baiano, do Dorival Caymmi, Flor da Bahia, também inédita, do Dori e do Paulo César Pinheiro, a rara Geraldo boa pinta, de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa, que o João Gilberto nunca gravou, Fora de Hora, parceria inédita e maravilhosa do Dori com Chico Buarque, Daqui, também inédita, da Joyce e do Roberto Stroeter, com um clima bem nordestino com direito a sanfona e tudo, The colors of joy, também inédita e também da dupla Dori e Paulo César Pinheiro, E era Copacabana, outra parceria inédita , agora da Joyce e do Carlos Lyra, num bolero delicioso, Jogo de cintura, também inédita e também do Dori e do Paulo César Pinheiro, depois tem o clássico baiano Saudade da Bahia, do Dorival Caymmi, cantada só pela Joyce, depois tem a extraordinária Demorô, com direito a letra e tudo, música que a Joyce gravou e colocou no cd CHILL: BRASIL2, depois tem mais uma música inédita Rancho da noite, da Joyce e do Paulo César Pinheiro, depois tem mais uma inédita a bela Saudade do Rio, também do Dori e do Paulo César Pinheiro e fechando esse disco que é uma verdadeira ponte do Rio para Bahia, a música Pra que chorar, clássico do Baden Powell e do Vinícius de Moraes. Com direito a um coral que foi chamado de A festa do Vinícius, com a Mônica Salmaso, Renato Braz, Clara Moreno, Tutty Moreno, Rodolfo Stroeter, Noa Stroeter, Andréa Brandi, Joana, Flora, Dori Caymmi e a Joyce.

Dia 12 de junho de 2005, Lagoa Rodrigues de Freitas, Rio de Janeiro. Nesse dia e nesse local aconteceu um show histórico da Bossa Nova. Não, você não está louco, se acha que voltou no tempo especialmente ao final dos anos 50 e início da década de 60. Os tempos são outros estamos no século XXI, a TV e a rádio brasileira está enfestada de música de péssima qualidade especialmente Funk e Breganejo, mas a Bossa Nova já tem quase 50 anos e parece cada dia mais nova como mostra nesse show que saiu o cd e o DVD ao vivo BOSSA NOVA IN CONCERT. Mesmo com isso tudo ainda se ouve Bossa Nova nas novelas, nos programas de TV e até no rádio e por milhões de jovens no mundo inteiro especialmente no Japão e na Inglaterra e até no Brasil. Nesse show têm vários artistas que ajudaram a formar a Bossa Nova, outros que se entregaram no caminho até chegar a New Bossa, ou a Nova Bossa Nova, que ganhou a Europa (especialmente a Inglaterra) e o Japão com novos nomes e artistas já consagrados sendo cada dia mais modernizados. O show foi apresentado por ninguém menos que Miele, como em vários outros shows históricos da Bossa Nova. O cd e o DVD têm direção de Roberto Menescal, um dos que tem maior autoridade no mundo pra se falar de Bossa Nova. As músicas desse disco histórico são: Ela é carioca, com Os Cariocas, fantásticos como sempre, Adeus América, do Haroldo Barbosa, numa interpretação de arrepiar também com Os Cariocas, muito diferente da versão cantada pelo João Gilberto, depois tem a cinquentona Rapaz de bem com Jhonny Alf modernizando o marco zero da Bossa Nova, depois tem um que não podia faltar o professor do Tom Jobim: João Donato mais moderno que nunca com Minha saudade e a extraórdinária Amazonas, depois tem Carlinhos Lyra parcerinho 100% como dizia Vinícius de Moraes com o clássico Lobo bobo e com o coro na também clássica Minha namorada, depois tem Roberto Menescal, outro que não podia faltar e a Wanda Sá cantando mais uma vez O barquinho juntando com Você também do Menescal, depois eles cantam Telefone, ao lado do Miele, depois tem a bilionésima gravação de Garota de Ipanema, cantanda pelo Pery Ribeiro, que alías foi o primeiro que gravou em 1962, depois tem uma interpretação emocionante de O astronauta do Baden Powell e do Vinícius com o Pery Ribeiro com citação de Só tinha de ser com você apresentando Leny Andrade, depois tem a Leny, que é a nossa Ella Fitzgerald dando show em Batida diferente, do Durval Ferreira, com o próprio no violão, depois tem uma das primeiras composições da Bossa Nova: Chora tua tristeza com o Oscar Castro Neves, autor da música, no violão e a Cris Dellano transformando esse clássico numa New Bossa, com sua voz espetacular, depois tem a rara A morte de um deus de sal, numa versão instrumental com Roberto Menescal e Oscar Castro Neves, falando em New Bossa, depois tem o inventor dela Marcos Valle cantando a sua clássica e de sempre Samba de verão, de diferente só que ele mistura português e inglês no meio da música, depois tem um dos maiores sucessos da New Bossa e da música de hoje no mundo o já clássico Os grilos, numa versão super moderna com Marcos Valle e a Patricia Alvi, depois tem Águas de março, cantada pela Cris Dellano e o Bossacucanova e no final tem Rio, cantada pela Cris Dellano, com o Bossacucanova, Oscar Castro Neves e Roberto Menescal, transportando as pistas londrinas de vez pra o Rio de Janeiro e mostrando ao mundo que a Bossa está cada vez mais nova e mais moderna.

No dia 27 de julho de 2005, morre um dos maiores, senão o maior baterista brasileiro: Dom Um Romão, que fez parte do lendário Copa 5 ao lado de J. T. Meirelles e participou de alguns dos maiores discos brasileiros de todos os tempos como : CANÇÃO DO AMOR DEMAIS, SAMBA ESQUEMA NOVO, O SOM, A BAD DONATO e FRANCIS ALBERT SINATRA E ANTONIO CARLOS JOBIM.

Também em 2005, sai pela gravadora Biscoito Fino, mais um disco da Leila Pinheiro. O belíssimo NOS HORIZONTES DO MUNDO. Nos Horizontes do Mundo, música de Paulinho da Viola, que dá nome ao 12º disco de Leila Pinheiro, é uma obra plural. Plural visitado na escolha das 16 canções – 11 inéditas, dos mais de 20 compositores, dos 40 músicos, das múltiplas sonoridades. Além de tocar piano e/ou teclado em todas as faixas, Leila grava duas músicas de sua autoria: pela primeira vez registra a balada Hoje, que a tornou parceira de Renato Russo em 1993, e assina o tema Delicadeza.. A profunda organicidade do CD resulta também do incansável e fértil intercâmbio entre os habitats musicais de Alê e de Leila. Co-produzido pela cantora, o trabalho foi gravado no Estúdio da gravadora Biscoito Fino no Rio em outubro e novembro de 2004 e mixado em fevereiro deste ano, no Studio Ilha dos Sapos, de Carlinhos Brown, em Salvador. No repertório, além da canção de Paulinho da Viola que batiza o trabalho, um generoso leque de inéditas. Gozos da Alma, fulgurante e arrebatadora melodia de Francis Hime, espécie de metonímia do espírito de Leila, com letra de Geraldo Carneiro emprestada da poesia seiscentista do londrino John Donne é horizonte inesquecível. Tiranizar, atualíssima lâmina poética de Caetano Veloso cai como luva na bossa de Cézar Mendes - um raro fazedor de canções -, cantada ao pé do ouvido, quase sussurrada. Vem, Amada, samba-canção de Simone Guimarães, recebeu um plangente piano, minimalista, reforçando a simplicidade desse bilhete de amor. Eduardo Gudin confirma-se poeta de primeiríssima em O Amor e Eu, samba feito especialmente para Leila, transformado num fino samba-reggae, com direito a timbau e rubber nose gravados na Bahia. Nesta música, à percussão de Marcos Suzano, juntou-se Kiko Freitas, um excepcional baterista, um pintor com baquetas, de criatividade e técnica impressionantes. A Vida que a Gente Leva, cativante canção da safra recente de Fatima Guedes, transborda o traço da compositora na música e na letra. Pela Ciclovia, instigante parceria entre Marcos Valle e Jorge Vercilo provoca os ouvidos com sopros, teremim e percussão enquanto passeia pela orla carioca. Literalmente anti-horário, sem pressa, Walter Franco assina A 60 Minutos por Hora, um mantra para ser ouvido pela vida afora. O belo, por exemplo, dos Gozos da Alma, de Francis e Geraldinho Carneiro: acho que não há no planeta quem não se emocione com essa canção e veja nela essa beleza a que eu me refiro”. Leila se mostra novamente uma feliz promotora de encontros inéditos. A tão alardeada e já histórica parceria entre Ivan Lins e Chico Buarque, Renata Maria – gravada com a bênção de Chico, duetando com Leila –, nasceu a pedido dela. Assim como Deu no que Deu, cruzamento do samba carioca da gema de Joyce com a poesia da paulicéia esperta de Luiz Tatit, temperado pela presença da compositora, tocando violão e cantando. Depois de ter dito estar “enferrujado”, Chico fez essa letra maravilhosa para a música do Ivan que eu lhe havia entregado na esperança de que ficasse pronta a tempo de entrar no disco. Com Renata Maria se inaugura essa histórica parceria. A letra chegou quando o disco já estava fechado. Mudamos o arranjo, pensado inicialmente só para eu cantar, e complementamos depois com a “cama” de teclados em Salvador e com o flugel maravilhoso do Jessé Sadoc. Mais feliz fiquei quando Chico aceitou o convite para cantar comigo. Ivan Lins é, para mim, um dos maiores compositores contemporâneos do mundo. Depois de finalizada, coloquei Renata Maria para ele ouvir pelo telefone, chorou como criança, dizendo não imaginar que o sonho de ter uma canção sua letrada por Chico Buarque ainda fosse se realizar.”
A Minha Alma, virulento hit do Rappa e Marcelo Yuka, é tiro certeiro na emoção, rasgada por efeitos de guitarra e pela voz de Nelson Cavaquinho entoando Juízo Final. Em contraponto, Onde Deus Possa me Ouvir, de Vander Lee, traja piano e cordas do estilista Lincoln Olivetti, que igualmente assina arranjos e regências de cordas em Gozos da Alma e Hoje. Os sopros delirantes também são arte de Lincoln em Pela Ciclovia, Deu no que Deu, belíssima música de Joyce, e E Muito Mais. Este suingante achado de João Donato e seu irmão Lysias Ênio, ganha, com os metais de Lincoln, reforço no sotaque “acubanado” característico da levada de Donato. Não por acaso é em Havana, literalmente, o local de encontro da voz de Leila com o clássico do porto-riquenho Benito de Jesus, Nuestro Juramento, bolero estrondosamente conhecido na voz do equatoriano Julio Jaramillo. Em Cuba foram gravados contrabaixo, flauta, baila, güiro e maracas pela trupe do Buena Vista Social Club, naquele clima de tristeza emocionada que só lá se encontra.

Ainda em 2005, sai pela gravadora Biscoito Fino, o belissímo DVD Carlos Lyra - 50 Anos de Música. Celebrando o que poucos artistas podem ostentar diante de tão imponente efeméride: um repertório inteiro de clássicos, muito além da Bossa-Nova que o projetou e a qual seu nome se associa durante as cinco décadas que mudaram a maneira de se fazer e pensar música no Brasil e no mundo. Dirigido por Jodele Larcher, o DVD foi gravado em março de 2004 no Canecão, no Rio, com participação de amigos como Marcos Valle (Quem Quiser Encontrar o Amor), Leny Andrade (O Negócio É Amar), João Donato (Você e Eu, junto com Emilio Santiago), Os Cariocas (Mas Também quem Mandou, com o saxofone de Léo Gandelman), Roberto Menescal e Wanda Sá (Tem Dó de Mim). Outras gerações abraçam o compositor, de Ivan Lins (Canção que Morre no Ar) a Miúcha (Sabe Você), passando pela pós-bossanovista Leila Pinheiro (Saudade Fez um Samba, Se É Tarde me Perdoa, Lobo Bobo), até o popstar Toni Garrido (Samba do Carioca). O Quarteto em Cy comparece em Aruanda e Antonio Adolfo junta seu teclado ao violão de Carlinhos em Primavera.
Perpetuando
o clã, a filha Kay e o sobrinho Cláudio renovam as forças em Pode Ir e O Barco e a Vela, esta de autoria de Cláudio Lyra. Até o humorista Chico Caruso dá o ar da (sempre muita) graça na espantosa Comedor de Giletes, pouco conhecida parceria de Lyra com Vinicius. Ao lado da banda formada por Helvius Vilela (teclados), Adriano Giffoni (baixo), Dirceu Leite (sopros) e Ricardo Costa (bateria), Carlos Lyra comanda Minha Namorada, Quando chegares, Um abraço no João, Se quiseres chorar, Maria Ninguém, Coisa Mais Linda, Maria Moita, Gente do Morro, Sambalanço. Ao final, Menescal, Wanda e Leila se juntam ao compositor para entoar Benção bossa-nova, antes do final apoteótico de Marcha da Quarta-feira de Cinzas, com todos os convidados no palco, materializando as palavras de Vinicius de Moraes. Carlos Lyra, o parceiro cem por cento, mais uma vez une ação ao sentimento.

No panorama fértil das novas cantoras da música brasileira – em especial, no samba – uma nova voz surge para conferir generosidade e dolência ao gênero. Trata-se de Ana Martins, cujo disco SAMBA SINCOPADO, gravado no Japão, ganha edição brasileira, via Biscoito Fino agora em 2005. Pra quem não sabe, Ana Martins é a segunda metade da música Clareana, da mamãe Joyce. Assim como boa parte dos artistas brasileiros que vêm encontrando solo propício na terra do sol nascente, Ana Martins já gravou três álbuns no Japão, todos produzidos por Kazuo Yoshida. SAMBA SINCOPADO é o primeiro deles a sair no Brasil. Na hora de escolher o repertório, Ana apostou categórica na influência de uma das cantoras responsáveis pela abertura dos portos nipônicos à nação musical brasileira: Nara Leão. Foi direto à fonte e encontrou, nos momentos em que Nara se aproximou de sambistas como Zé Kéti, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Paulinho da Viola, a matéria-prima para este trabalho. Ana recria clássicos do gênero como Coisas do Mundo Minha Nega e Recado, de Paulinho da Viola, esta em parceria com Casquinha; Quatro Crioulos, do musical Rosa de Ouro, com participação especial do autor Elton Medeiros; Nega Dina e Diz que Fui por aí, de Zé Kéti; Pranto de Poeta, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, todos recriados por Nara, a partir de sua convivência com estes sambistas, em 1964, no Teatro Opinião. Há ainda Fez Bobagem, composta por Assis Valente na década de 30 e regravada por Nara nos anos 60. O SAMBA SINCOPADO de Ana Martins abre espaço para bossa-novistas e pós-bossa-novistas de primeira e segunda geração. Tem Vinicius de Moraes, com Tom Jobim em Lamento no Morro, Francis Hime em Anoiteceu e Baden Powell em Amei Tanto; Chico Buarque em Madalena Foi pro Mar, Morena dos Olhos D´Água, Homenagem ao Malandro; Sidney Miller em Maria e Maria Joana, em interpretações repletas de sofisticação cool e despojado requinte. Sofisticação acentuada pelo acompanhamento de Tutty Moreno (bateria e percussão), Jorge Helder (baixo acústico), Robertinho Silva (percussão), Nivaldo Ornelas (sax e flauta), Lula Galvão (violão), além da mãe de Ana, Joyce (violão, vocais e arranjos), que, aliás, foi da própria Joyce esta idéia de Ana gravar um disco com repertório da maravilhosa Nara Leão.

O primeiro DVD de um gênio da música brasileira é algo para ser comemorado, muito além de classificações por gêneros ou estilos. Sobretudo quando o artista em questão repassa seus grandes sucessos, em 50 anos de carreira, somados a novas composições que provam que o mestre continua a produzir incessantemente, dialogando com diversas gerações de músicos brasileiros, do samba ao bolero, da bossa-nova ao hip hop.
Saiu no mês de outubro o expetacular DVD
DONATURAL, o primeiro DVD de João Donato. DONATURAL apresenta João Donato em sua melhor forma, cercado de amigos e convidados, provando que sua música é impossível de restringir-se a segmentações. Ao dom natural de João, juntam-se os de Gilberto Gil, Marcelo D2, Joyce, Leila Pinheiro, Ângela Ro Rô, Emilio Santiago e Marcelinho da Lua, acompanhados por Luis Alves (baixo), Robertinho Silva (bateria), Donatinho (teclados), Sidinho (percussão), Ricardo Pontes (sax e flauta), Jessé Sadoc (trumpete), com Donato ao piano. O DVD foi gravado ao vivo em uma noite do verão carioca (10 de janeiro de 2005), no Espaço Cultural Sergio Porto. Muito à vontade, para não evitar o trocadilho com um de seus discos mais importantes, Donato inicia os trabalhos com Gaiolas Abertas, parceria com Martinho da Vila. Em seguida, recebe Joyce, com quem compartilha a maravilhosa Sambou, Sambou
(com João Melão) e a explendorosa E Vamos Lá, parceria com a cantora e violonista, que é sem sombra de dúvidas um dos melhores momentos do DVD. Lugar Comum, clássico com Gilberto Gil, é interpretado por Donato e banda. Mais convidados: Leila Pinheiro aparece para dividir a latina E Muito Mais e Até Quem Sabe; (ambas com Lysias Ênio); Emilio Santiago, com quem Donato gravou um álbum inteiro, reforça Vento no Canavial (também com Lysias); Ângela Rô Ro recria seu sucesso Simples Carinho, de Donato e Abel Silva. O clássico Amazonas (com Lysias) antecede duas outras canções com Gilberto Gil – A Paz e Bananeira -, desta vez com a presença do cantor ministro e parceiro nas composições, em dueto para entrar para a história, duas das mais famosas músicas do Donato no mundo todo. Minha Saudade é uma inusitada parceria entre dois gigantes que atendem pelo singelo nome de João: Donato e Gilberto, interpretada por Donato. É a senha para o momento pop, protagonizado nas parcerias com os Marcelos, da Lua (Lá Fora) e D2 (Balança), que, aliás, as duas músicas são o melhor momento do DVD. Resta agora, voltar ao Donato essencial, do clássico A rã (com Caetano Veloso), de Café com Pão (com Lysias Enio), Bluchanga, (só dele) e Nasci para Bailar, de Donato e Paulo André Barata. A direção do DVD é de Gustavo Caldas e Murilo Saroldi. Realmente João Donato mostra neste DVD que está mais jovem do que nunca e está cada vez melhor e prova por que hoje em dia é dos mais importantes músicos no mundo.

Também em 2005 sai o belíssimo filme COISA MAIS LINDA, que é um documentário sobre a Bossa Nova. COISA MAIS LINDA dá ao espectador uma visão geral, um painel histórico, musical e informativo de como se iniciou o movimento musical, Bossa Nova, que tem seus primórdios no início dos anos 50, atingindo um de seus ápices em 1962, quando se internacionaliza definitivamente, no concerto do Carnegie Hall, NY. A música que se fazia naquela época revoluciona a cultura musical brasileira na melodia, nas harmonias e arranjos, na composição, na batida famosa e nas letras líricas e românticas que prefiguravam um país feliz do Amor, do sorriso e da flor. Um período luminoso, quando um grupo de jovens da Zona Sul do Rio vira de ponta a cabeça a nossa música, com defensores e detratores, superados pelo tempo na eternização da Bossa Nova 40 anos depois um sucesso cada vez mais consagrado no mundo. Nossos principais condutores são os dois maiores compositores vivos do movimento: Roberto Menescal (do clássico "O Barquinho") e Carlos Lyra (dos eternos "Lobo Bobo", "Coisa Mais Linda" e "Você e eu"). Eles criaram canções que tocam pelo planeta, e estão presentes no filme contando as origens e os segredos do que viveram, com graça, felicidade e humor, de uma época inesquecível, num verdadeiro papo de velhos amigos, passando pelos locais que marcaram o início de suas carreiras. COISA MAIS LINDA apresenta entrevistas e números musicais exclusivos, de Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Donato, Alaíde Costa, Johnny Alf, Kay Lira, Leny Andrade, Chris Delano, Joyce, Sergio Ricardo, Billy Blanco, enfim de todos os remanescentes vivos da época e alguns seguidores atuais. Entre muitos outros, contendo também originais e exclusivas imagens de arquivo de shows, apresentações internacionais, assim como de artistas estrangeiros que participaram deste movimento na época. O filme é ordenado em blocos, onde se focalizam: Ritmo, Letra, Harmonia, o Banquinho, a Batida, com depoimentos de teóricos e escritores de livros sobre o tema, como Sergio Cabral, Tarik de Souza, Arthur da Tavola, e de participantes ativos como Miele, Nelson Motta, etc.. Destaque também para o Maestro Antonio Carlos Jobim, sua carreira e a dupla Tom/Vinicius. Nara Leão também é homenageada. Um comovente bloco sobre a Musa, composto de inúmeras fotos, depoimentos, fonogramas da época e imagens de arquivo. O filme não pretende ser e nem é uma aula. Porém sua realização despretensiosa faz com que se transforme num documento audiovisual que proporciona ao espectador duas horas de boa música, pura diversão, e que ao mesmo tempo informa sobre este marco da cultura brasileira, que cada vez mais ocupa espaço nos corações e ouvidos de homens e mulheres em vários paises do mundo.

Tambem em 2005, sai pela gravadora Dubas, o maravilhoso JET-SAMBA, mais um cd do Marcos Valle. Este é o primeiro trabalho em quase 20 anos de sua carreira totalmente produzido, gravado e masterizado no Brasil, onde atua como produtor, compositor, músico e arranjador de todas as faixas, fazendo releituras de músicas suas já conhecidas do público, como o tema de abertura da novela "Selva de Pedra" e, ainda, apresentando belíssimos temas inéditos de sua autoria, com a participação de um time de músicos de primeira qualidade. O fato de Marcos Valle ser compositor tão grande quanto Dori Caymmi e Edu Lobo — com quem formou um trio, ainda adolescente no Rio do início dos anos 60, e que tanto definiria três vertentes da música criativa brasileira do pós-bossa nova — às vezes é posto em questão. Talvez pelo seu flerte com a música pop e a música comercial, (jingles, novelas), tida como menores ainda que tão enriquecidas por ele. JET-SAMBA (Dubas) vem não só mais uma vez evidenciar o altíssimo nível do compositor Marcos Valle como confirmá-lo pianista e, principalmente, orquestrador criativo. É um disco instrumental, o que não fazia desde BRAZILIANCE, gravado nos Estados Unidos em 1968. Como indica o samba-jazz do título, Jet-samba, é música para voar. A começar já na primeira das 12 faixas, Selva de pedra, famoso tema que abria a novela homônima, no qual o orquestrador encontra novas e insuspeitadas cores, explorando as sonoridades de seus pianos, o acústico e o elétrico Fender Rhodes, e do gordo naipe de sopros tocado por Jessé Sadoc (trompetes e flugel), Renato Franco (flautas e saxes) e Aldivas Ayres (trombone), que se desdobram em todas as entradas de seus instrumentos para dar conta da variedade e do tamanho dos arranjos. Selva de pedra define o espírito: temas bonitos e viajantes, solos melódicos e cristalinos de piano e sopros, harmonias supertrabalhadas e um groove dado pela cozinha rítmica (o piano de Valle, o baixo de Alberto Continentino e a bateria de Renato “Massa” Calmon, ambos do grupo de Ed Motta) que sempre marcou o trabalho de Valle. O repertório traz vertentes do trabalho de Valle. Tem jazz brasileiro, a inédita Jet-samba, baião expetacular em Campina Grande, samba meio valsa no delicioso compasso 6/8 (Vem e Esperando o messias), tão usado por compositores como Jobim (Chovendo na roseira) e Menescal (Morte de um deus de sal); mistura de culturas, Brasil/México, o trompete mariachi virando bossa nova; choro bem pianístico, Catedral e Posto 9; temas grandiosos como Previsão do tempo ou líricos como Adams Hotel. Dois momentos opostos são significativos da dimensão da música de Valle: o tema originalmente eletrônico Bar inglês ganha versão “tocada” e igualmente nervosa, comprovando o forte conteúdo de suas experiências no pop de ponta, numa versao maravilhosa; e La petite valse, linda valsa meio brasileira meio francesa que revela a filiação musical de um compositor que vem de lá, de Jobim e Debussy, desse amalgama de samba carioca e impressionismo francês com pitadas de tudo que soe bem, e que é a razão profunda de a música brasileira ser assim tão original.

Também em 2005 sai o sensacional filme Vinicius, em homenagem aos 25 anos da morte do poeta Vinícius de Moraes. Logo depois sai pela gravadora Biscoito Fino o disco VINICIUS - TRILHA SONORA DO FILME. Em seu depoimento no filme Vinicius, o poeta Ferreira Gullar diz que Vinicius de Moraes ensinou o Brasil a ser feliz. De fato, são muitas as gerações que reconheceram no poeta a alegria permanente que a música, sobretudo quando acompanhada pela lírica de Vinicius, tem sido capaz de proporcionar aos brasileiros. A trilha sonora do filme - lançamento Biscoito Fino - retrata exatamente esta capacidade de perpertuar-se que, como poucas, caracterizam a obra de Vinicius.
Gravada especialmente para o documentário dirigido por Miguel Faria Jr., a trilha reúne parceiros canônicos - Carlos Lyra, Chico Buarque, Francis Hime, Toquinho, Edu Lobo - a artistas que despertaram para a música a partir do contato com a poesia de Vinicius, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Olivia Byington, até aqueles que surgiram depois da morte do poeta - Zeca Pagodinho, Adriana Calcanhotto e os novos Renato Braz, Mônica Salmaso, Yamandú Costa, Sérgio Cassiano, Martin´alia, a neta Mariana de Moraes. O álbum, como o filme, abre na crônica de Rubem Braga, narrada por Ricardo Blat, sobre a chegada da Primavera de 1980, a primeira desde 1913 sem a presença física de Vinicius. Presença que, para além da herança artística, se materializa como nome de rua, onde trafega o doce balanço das belas moças que o poeta não cansava de decantar. Em seguida, uma de suas mais emblemáticas canções, em parceria com Antonio Carlos Jobim, cujo título se compara à própria falta que Vinicius faz: Se Todos Fossem Iguais a Você, na voz de Renato Braz - que também canta Por Toda a Minha Vida. O hábito, cultivado por Vinicius, de abranger diversas gerações, estende-se à interpretação cool de Monica Salmaso para Insensatez e Canto Triste, ou na dolente versão de voz e violão de Adriana Calcanhotto para Eu Sei que Vou te Amar. Boa surpresa é o canto jazzy de Mariana de Moraes em Coisa Mais Linda, parceria com Carlos Lyra, acompanhada, entre outros, por Luis Claudio Ramos no violão e Wilson das Neves, na bateria. O violão virtuoso de Yamandú Costa sola Valsa de Eurídice, intrincada melodia que prova que Vinicius era um homem de intensa musicalidade, manifestada em versos ou, no caso, em notas. Chico Buarque, acompanhando-se ao violão, revisita Medo de Amar, letra e música de Vinicius, do álbum CANÇÃO DO AMOR DEMAIS, lançado por Elizeth Cardoso, em 1958, com canções de Tom e Vinicius. Chico conta que esta foi a primeira canção do poeta a impressioná-lo, apresentada a ele pelo próprio Vinicius, amigo de seu pai, no início dos anos 50, em Roma. Chico menciona ainda o Poema dos Olhos da Amada, canção que na trilha aparece na voz e violão de Caetano Veloso. Maria Bethânia interpreta O que Tinha de Ser, de seu mais recente álbum, QUE FALTA VOCÊ ME FAZ, inteiramente dedicado à obra de Vinicius de Moraes, lançado este ano pela Biscoito Fino.
O parceirinho cem por cento Carlos Lyra é quem canta Você e Eu, um de seus muitos clássicos com Vinicius. Também de Lyra é a embolada Pau de Arara – o Comedor de Gilete, feita para o musical Pobre Menina Rica, recriada por Sérgio Cassiano, do grupo pernambucano Mestre Ambrósio, com percussão de Naná Vasconcelos. Outros parceiros importantes a marcar presença são: Toquinho - com Tarde em Itapoã, da fase baiana de Vinicius, na década de 70 – e Francis Hime, em Sem Mais Adeus, sua primeira composição, letrada por Vinicius num guardanapo de papel do Antonio´s, a segunda casa do poeta. Edu Lobo redimensiona Berimbau, interpretando ao seu modo o violão afro-samba idealizado por Baden Powell, autor da melodia. Formosa, outra de Baden, é relida por Gilberto Gil, afirmando o componente africano do “branco mais preto do Brasil”. Do afro para as rodas de samba, Zeca Pagodinho emenda mais um Baden, Pra que Chorar, sob o trombone de Roberto Marques. Martin´ália transforma Sei Lá (A Vida Tem Sempre Razão) em partido alto. Olivia Byington canta Modinha, gravado anteriormente pela cantora na recriação do álbum CANÇÃO DO AMOR DEMAIS, também lançado pela Biscoito Fino. Dentre as récitas, a poesia de Vinicius ambienta-se nas vozes de Camila Morgado (Soneto de Fidelidade), Ricardo Blat (Poética I), Ferreira Gullar (Minha Pátria) e Maria Bethânia (Soneto do Amor Total). Realmente não dá pra perder o filme que é maravilhoso e sua trilha sonora que é sensacional.

No final de 2005, sai o belíssimo disco FALANDO DE AMOR FAMÍLIAS CAYMMI E JOBIM CANTAM ANTONIO CARLOS JOBIM, com um encontro memorável de Nana, Danilo e Dori Caymmi, com Paulo e Daniel Jobim 40 anos depois do histórico disco CAYMMI VISITA TOM E LEVA SEUS FILHOS. As músicas desse disco maravilhoso são: o clássico Samba do Avião, com introdução de Dorival Caymmi, cantada pelos cinco, depois tem a antiga Foi a noite, cantada pela Nana e pelo Paulo, depois tem o maior achado do disco, a inédita Bonita demais, versão em português do clássico Bonita, feito por ninguém menos que Vinícius de Moraes, letra até então que ninguém conhecia, cantada brilhantemente pelo Daniel Jobim, depois tem As praias desertas, cantada pela Nana Caymmi, depois tem o clássico Anos dourados, cantado pelo Dori Caymmi, depois tem Outra vez, cantada pela Nana, depois tem o clássico Desafinado, com introdução feita por Ronaldo Boscoli, cantado pelo Paulo Jobim, depois tem a raríssima Esperança perdida, do Tom e do Billy blanco, cantada pela Nana, a Nana inclusive falou que a mãe dela Stella não conhecia a música e ela brincou que o Tom tinha psicografado a letra lá do céu, depois tem o clássico Eu sei que vou te amar, cantado pelo Danilo Caymmi, depois tem Só em teus braços, cantada pela Nana, depois tem a raríssima Pra não sofrer velho riacho, cantado pelo Paulo e pelo Dori, depois tem o clássico Falando de amor, cantado pela Nana e pelo Danilo, depois tem a sempre maravilhosa Corcovado, cantada pelo Daniel, depois tem a rara Esquecendo você, cantada pela Nana Caymmi, depois tem a inédita Canção para Michelle, letra feita pelo Ronaldo Bastos para a música Chanson pour Michelle, tirada do disco O TEMPO E O VENTO, cantada também pela Nana e finalizando o disco a maravilhosa Piano na Mangueira cantada pelos cinco: Nana, Danilo, Dori, Paulo e Daniel.