sexta-feira, 26 de outubro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 2ª parte


2ª parte

Também em 1963 surge um Vinícius mais politizado, ao lado de Carlos Lyra compõe o hino da União Nacional dos Estudantes, a UNE. Na mesma noite, em estado de overdose musical, fazem a fenomenal Marcha da quarta-feira de Cinzas, essa música acaba sendo uma espécie de premonição do golpe militar que surgiu um ano depois.

No mesmo ano aparece o grupo Quarteto em Cy, Vinícius de Moraes é uma espécie de grande pai do grupo vocal - formado, originalmente, pelas irmãs Cynara, Cyva, Cybele e Cylene, nascidas em Ibirataia, perto de Ilhéus, Bahia. Elas fazem a pré-estréia, no Bottle's Bar, no Beco das Garrafas em junho de 1964. No mesmo ano na boate Zum Zum, participam de um show histórico ao lado de Vinícius, ao lado de Dorival Caymmi e de Oscar Castro Neves. O show fica em cartaz cinco meses e é um enorme sucesso.

Em 1964, Brigitte Bardot, até então a maior musa do cinema mundial vem ao Brasil junto com seu namorado franco-argelino brasileiro Zagury, que fez com que ela se apaixonasse pela Bossa Nova. Logo que ela chega no Rio é uma confusão de fotografos querendo ver Brigitte de perto, já que Brigitte veio ao Brasil pra descansar, ela vai pra Búzios, junto com Zagury. Na época Búzios era um lugar deserto, um paraíso, tudo que Brigitte queria, eles ficavam o dia inteiro ouvindo e cantando Bossa Nova e tomando banho de mar. Mas eles não ficaram o tempo todo em Búzios, as vezes eles davam uma escapulida para o Rio, já que Zagury era amigo de Luiz Éça, ele os levou pra o seu apartamento onde vários cantores e músicos da Bossa Nova estavam lá, como o Tamba Trio, Vinícius de Moraes, Edu Lobo, Wanda Sá e muitos outros. Aí eles ficaram a noite inteira tocando e cantando várias músicas novas, Brigitte ficou encantada. Depois eles foram de madrugada pra praia e ficaram até de manhã, dizem até que Brigitte tirou a parte de cima do biquíni e foi pro mar, mas tem gente que diz que foi miragem.
Poucos dias depois a cena se repetiu, só que na casa de Tom Jobim e sem Zagury. Tom deu a Brigitte o tratamento completo: falou em francês, cantou várias músicas no piano com ela ao lado, tocando todas as músicas com acordes impressionistas pra impressionar Brigitte. Segundo Roberto Quartin, que também estava lá, a platéia, pressentindo o clima, foi saindo de fininho e, no fim, só restavam Tom, Brigitte e ele. Quartin preparou-se pra tambem se retirar, mas Tom instistiu para que ele ficasse. "Eu vou levar a Brigitte em casa, em Copacabana, e já volto", garantiu. Quartin deitou no sofá e planejou cochilar, na certeza de uma longa espera. mas, 15 minutos depois, Tom já estava de volta. E, antes que Quartin fizesse qualqer pergunta, Tom respondeu: "Sabe, Roberto, essas coisas são muito delicadas, você tem que tirar a roupa, suar muito, dar prazer a mulher e depois botar a roupa de novo. Aí, pega o carro, volta pra casa, mente pra sua mulher - a troco de quê? Não dá." Brigitte ficaria ainda mais alguns meses, ficou maravilhada com o Rio e especialmente com Búzios, mas só que depois de Brigitte a cidade de Búzios, infelizmente não seria mais a mesma.

Também em 1964, a cantora Nara Leão, musa da Bossa Nova, lança um disco que provocou muita polêmica, mas foi histórico, ao invés de ter músicas de Bossa Nova, tinha só músicas de sambistas tradicionais como Cartola, João do Vale e Zé Keti. Nara Leão então começa a ser vista com desconfiança pelos músicos de Bossa Nova, mas eles não imaginavam que com esse disco só de músicas de sambistas de morro, com uma sonoridade de Bossa Nova, era o início de que pouco depois seria chamado de MPB. Mas, naqueles anos tão díficis todo mundo queria ouvir a OPINIÃO de Nara.

Ainda em 1964, foi criado o grupo MPB-4, um grupo de quatro homens, que se chamam Ruy, Aquiles, Miltinho e Magro.

No mesmo ano acontece o golpe militar que mudaria para sempre a historia do Brasil, especialmente na música popular.


terça-feira, 23 de outubro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil


1ª parte

Enquanto a Bossa Nova estava cada vez mais conquistando o mundo, aqui no Brasil aconteceram vários fatores para a Bossa Nova entrar em crise.

Desde o final dos anos 50, surge no Brasil um rival de peso para a Bossa Nova: o Rock, que depois de estar fazendo um enorme sucesso mundo afora chega ao Brasil. No princípio eram só músicas em inglês ou versões em português, especialmente com a cantora Celly Campello, com as músicas Estúpido Cupido e Banho de Lua. Logo vários jovens começam a se interessar pelo Rock especialmente por Elvis Presley e Chuck Berry. Logo que o Rock chegou ao Brasil foi visto por muitos, como música de vagabundos e marginais, surgia a chamada "Juventude Transviada". Entre esses jovens que se interessaram por Rock se destacam Erasmo Carlos e Roberto Carlos, sendo que esse último lançou o primeiro disco de 78 rotações cantando Bossa Nova, incluindo uma música chamada Brotinho sem juízo, uma bossa meio fraquinha de Carlos Imperial, numa imitação clara de João Gilberto. Esses jovens se reúnem especialmente no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde Roberto e Erasmo moram lá eles se encontram com Tim Maia e Jorge Ben, onde montam o grupo Sputinck's. Em 1960, surge a música Parei na Contramão, de Roberto e Erasmo, que foi considerado o primeiro Rock nacional. Já que Roberto Carlos viu que a Bossa Nova não era a praia dele começou a compor rock. Pouco depois Roberto e Erasmo se juntam a cantora Vanderlea e lançam a Jovem Guarda, inspirados especialmente em Elvis e nos Beatles. Logo a cidade do Rio de Janeiro está dividida em duas: a zona norte, que gostam de Jovem Guarda e a zona sul, que gostam de Bossa Nova.

Depois da saída de Juscelino Kubitheck em 1960, o Brasil está mudando. Em 1961, Jânio Quadros é eleito presidente do Brasil, mas no mesmo ano renuncia e assume o vice João Goulart, por ter ido á China comunista, João Goulart passa a ser visto com desconfiança e surge o Parlamentarismo, onde o presidente não manda e sim o primeiro ministro.

No meio de tanta bagunça que o país se encontra vários cantores, especialmente de Bossa Nova, se revoltam com o caminho que a Bossa Nova está levando e resolvem fazer músicas de protesto retratando a atual realidade do país, que não é mais aquela do início da Bossa Nova, gente importante como Carlos Lyra e Nara Leão. Começa então a música de protesto, primeiro retratando a questão da reforma agrária e a relaidade dos morros cariocas, como na música Zelão, do Sérgio Ricardo.

Estamos em 1963, surge então Jorge Ben, saído do Beco das Garrafas, com seu violão bem suingado, misturando Bossa Nova e Jovem Guarda, em seu disco de estréia chamado SAMBA ESQUEMA NOVO, especialmente nas músicas Mas que nada, Tim Dom dom e Chove Chuva. Além dessas musicas o disco também tem Balança pema, Rosa menina rosa, Quero esquecer você, Uala Ualau, Vem morena, E so sambar, A tamba, Menina bonita não chora e Por causa de você menina. O disco teve arranjos de ninguém menos que J. T. Meirelles, expetaculares por sinal. A música Mas que nada era a mais estranha, era um heavy-samba, um samba com maracatu. Na época, ninguém entendeu que som era aquele, pois era estremamente novo, mas alguns anos depois se daria o nome de samba-rock, ou jovem samba como dizia o Carlos Imperial.

Ainda em 1963, aparece um disco histórico chamado VOCÊ AINDA NÃO VIU NADA, de Sérgio Mendes, então um pianista novato saído do Beco das Garrafas. Nesse lp ao lado do grupo Bossa Rio ergue um dos pilares originais do samba-jazz. Com arranjos do Tom Jobim, do próprio Sérgio Mendes e em duas músicas do maestro Moacir Santos. As músicas do disco são: Ela é carioca, O amor em paz, Coisa n.º 2, do Moacir Santos, Desafinado, Primitivo, do Sérgio Mendes, com citação de Berimbau, a então novíssima Nanã, também do Moacir Santos, que sem dúvida é a melhor gravação dessa música, Corcovado, Nôa...Nôa..., também do Sérgio Mendes, Garota de Ipanema e Neurótico, de um tal de J. T. Meirelles. Com certeza o disco merece o título que tem, renovando a já meio cambaleada Bossa Nova. Partindo para um caminho bem diferente de João Gilberto, com toque caráter instrumental, surgindo assim o Samba - Jazz.


sexta-feira, 19 de outubro de 2007

3 - A Bossa Nova conquista os EUA - 7ª parte


7ª parte

Em 1976, mais um disco fenomenal: THE BEST OF TWO WORLDS, envolvendo João Gilberto, Stan Getz e a nova mulher de João Gilberto que estava estreando em disco - Miúcha, irmã de Chico Buarque. Mesmo não contendo seu nome, Miúcha aparece na capa do disco. As músicas do disco são: Double Raimbow, versão em inglês de Chovendo na roseira, cantada brilhantemente pela Miúcha, Águas de Março, cantada em português pelo João Gilberto e em inglês pela Miúcha, Lígia, (todas as três do Tom), numa gravação expetacular cantada pelo João Gilberto, Falsa Baiana, de Geraldo Pereira, também tem Retrato em branco e preto, do Tom e do Chico Buarque, também cantada pelo João Gilberto, Izaura, de Roberto Roberti e Herivelto Martins, cantada pelo João e pela Miúcha, Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil, também cantada pelo João, João Marcello, de João Gilberto, a bela É preciso perdoar, de C. Coqueijo e A . Luz, também cantada pelo João e Just one of those things, de Cole Porter, cantada pela Miúcha com João Gilberto no violão.

Em 1977, João Gilberto lança também nos EUA um dos seus discos mais cultuados mundo afora: AMOROSO. Este disco possui vários standards tanto brasileiros e internacionais. Segundo a cantora canadense de jazz Diana Krall afirmou, esse disco foi o que a mais influenciou na sua carreira. As músicas desse disco são: a belíssima S wonderful, de Gerwshin, Estate, de Bruno Martino e Brigueti, Tim tim por tim tim, de Haroldo Barbosa, Besame mucho, de Velasquez, uma gravação fenomenal de Wave, Caminhos cruzados, Triste e Zingaro, todas de Tom Jobim, essa última é mais conhecida como Retrato em branco e preto, com letra do Chico Buarque. Mesmo sendo esse disco, um disco sensacional, cultuado mundo a fora, João Gilberto não gostou dele, falou que Claus Ogerman que fez os arranjos do disco, estragou os arranjos. Logo quem? Vai entender o João. Pra muita gente esse é o melhor disco do João Gilberto.

Em 1980, a espetacular cantora de Jazz Ella Fitzgerald lança o disco ELLA ABRAÇA JOBIM, uma homenagem maravilhosa a Tom Jobim. O disco é sensacional, mas o que pra muita gente ficou, que a Ella ficou um pouco ressabiada de fazer seus famosos scats por causa das músicas do Tom, por isso o disco poderia ter sido melhor por causa da Ella que é a maior cantora de Jazz de todos os tempos e também por causa do Tom. De qualquer modo, Ella abraça não só Tom Jobim, mas toda a Bossa Nova, que deve muito a ela, por ser tão adorada nos EUA, ela sendo uma das primeiras divulgadoras da Bossa nos EUA As músicas do disco são: Somewhere in the hills (O morro não tem vez), The girl from Ipanema (Garota de Ipanema), Dindi, Off key (Desafinado), Water to drink (Água de beber), Dreamer (Vivo Sonhando), Quiet night of quiet stars (Corcovado), Bonita, One note Samba (Samba de uma nota só), Don't ever go away (Por causa de você), Triste, How Insensitive (Insensatez), She`s a carioca (Ela é carioca), This love that I've found (Só tinha de ser com você) , A felicidade, cantada em português (!) , Wave, Songs of the jet (Samba do Avião), Photography (Fotografia) e Useless landscape (Inútil paisagem).


Nesse capítulo foram utilizadas passagens de:

OLIVEIRA, Aloísio. Livreto que está no encarte do disco Bossa Nova sua história sua gente, 1975.

CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e as histórias da Bossa Nova; Companhia das letras, 1990.

CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar: Companhia das letras, 2001.

CABRAL, Sérgio. Antonio Carlos Jobim – Uma biografia; Lumiar, 1997.

JOBIM, Helena, Antonio Carlos Jobim – Um homem iluminado; Nova Fronteira, 1996.

LYRA, Carlos. Entrevista dada a Luiz Carlos Oliveira, disponível no site www.jobim.com.br, acessado em 2002.

Faixas de discos tiradas do site www.cliquemusic.com.br

Faixas de discos tiradas do site www.jobim.com.br

Filme Coisa mais linda, de Paulo Thiago, 2005.

Filme Tom e a Bossa Nova, de Walter Salles Jr, 1993


segunda-feira, 15 de outubro de 2007

3 - A Bossa Nova conquista os EUA - 6ª parte

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6ª parte

Também em 1970, João Gilberto está no México e grava mais um disco sensacional: JOÃO EN MÉXICO. As músicas desse disco são: De conversa em conversa, um samba maravilhoso de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa, a clássica Ela é carioca, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, tem a maravilhosa música O sapo, de João Donato, numa versão instrumental, que mais tarde se tornaria A rã, tem a bela e rara Esperança perdida, de Tom Jobim e Billy Blanco, tem a instrumental João Marcelo, composição feita pelo próprio João Gilberto, tem Farolito, música em espanhol, tem a belíssima Astronauta, também conhecida como Samba da pergunta, do Marcos Vasconcelos e do Pingarrilo, tem Acapulco, também instrumental, tem a bela Besame mucho, um grande clássico do bolero, também cantada em espanhol, tem a bela Eclipse, música cantada em italiano e no final tem uma versão em português da maravilhosa Trolley song.


Em 1971, Tom Jobim faz mais dois discos maravilhosos nos EUA: o primeiro se chama TIDE e as músicas eram: uma versão antológica instrumental de Garota de Ipanema, a clássica Carinhoso, de Pixinguinha, Tema Jazz, um samba jazz maravilhoso, Sue Ann, Remember, a bela Tide, Takatanga, Caribe e Rocknália, todas instrumentais e todas só do Tom. O disco teve os arranjos, espetaculares por sinal, feitos pelo Eumir Deodato. Esse disco também foi uma espécie de continuação do WAVE, já que Wave significa onda e Tide significa maré.
O outro disco de Tom no ano é uma participação em mais um disco de Frank Sinatra, que se chama: SINATRA & COMPANY. Tom Jobim participa das sete primeiras músicas, que são todas dele e arranjadas por Eumir Deodato, as outras sete, são músicas de autores americanos, com arranjos de Don Costa. As músicas do Tom são: Drinking Water ( Água de beber) - com Frank Sinatra cantando trechos da música em português, Someone to light up my life( Se todos fossem iguais a você), Triste, Don't ever go away ( Por causa de você), This happy madness( Estrada branca) - a mais emocionante do disco, Wave e One note samba ( Samba de uma nota só).
Em 1972, Eumir Deodato vira um sucesso mundial com a sua antológica gravação disco funk eletrônica de Also Sprach Zaratrusta, música tema do filme 2001: Uma odisséia no espaço. Com essa gravação começou a era disco-funk, que dominaria todos os anos 70.
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Em 1973, Tom lança mais um disco histórico: MATITA PERÊ é o início da fase ecológica de Tom, que vai acompanhá-lo até a sua morte. O disco é uma maravilha, por não ter achado gravadora no Brasil querendo gravar o disco, Tom vai mais uma vez aos EUA lançar um disco. Quando termina a gravação Tom é aplaudido por todos que assistiram, de pé. Anos depois Tom fala que se não tivesse gravado esse disco terminaria velho cantando Garota de Ipanema num circo. As músicas do disco são: a fenomenal Águas de Março, que era a segunda gravação dessa música e que pouco depois se transformaria num clássico mundial, a bela Ana Luiza, a também fenomenal Matita Perê, que foi totalmente inspirada em Guimarães Rosa, Tempo do Mar, a também bela Mantiqueira Range, um forró bem inspirado de seu filho Paulo Jobim, Crônica da casa assassinada, do filme do mesmo nome, que se divide em quatro músicas: Trem pra Cordisburgo, Chora Coração, Milagres e Palhaços e O Jardim Abandonado, o disco ainda tem as músicas Um rancho nas nuvens e Nuvens Douradas.
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Também em 1973, João Gilberto lança um dos seus melhores discos, com seu próprio nome: JOÃO GILBERTO. Nesse disco, João foge um pouco das músicas da Bossa Nova, gravando mais compositores antigos como Ary Barroso, Geraldo Pereira, Haroldo Barbosa e Herivelto Martins, além dos conterrâneos Caetano Veloso e Gilberto Gil. As músicas desse disco são: uma gravação sensacional da então nova Águas de Março, de Tom Jobim, Undiú, uma composição instrumental do próprio João Gilberto, depois tem uma gravação antológica instrumental de Na baixa do sapateiro, de Ary Barroso, depois tem Avarandado, de Caetano Veloso, depois tem a sensacional Falsa Baiana, de Geraldo Pereira, depois tem Eu quero um samba, do Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, que virou um clássico na voz de João, depois tem a bela Eu vim da Bahia, do Gilberto Gil, depois tem Valsa (Como são lindos os youguis), uma música instrumental composta pelo próprio João Gilberto em homenagem a filha Bebel Gilberto, que então tinha 7 anos de idade, depois tem a sensacional É preciso perdoar, de Carlos Coqueijo e Alcivando Luz e fechando o disco Izaura, do Herivelto Martins.

domingo, 7 de outubro de 2007

3 - A Bossa Nova conquista os EUA - 5ª parte


5ª parte

Em 1968, Marcos Valle lança nos EUA, maravilhoso disco Samba’68. Esse lp têm vários sucessos do Marcos, traduzidos para o inglês, como: The answer, Cricket sings from Anamaria (Os grilos), Summer Samba (Samba de Verão), Chup chup I got away, If you went away, Pepino Beach, She told me, she told me, It's time to sing, Batucada (Batucada surgiu), The face I love e Safely in your arms. Realmente é um disco expetacular, um dos melhores que o Marcos Valle fez em todos os tempos. Logo Summer samba vira um clássico mundial, sendo gravada até pelo Frank Sinatra.

Em 1969, surge mais um disco memorável: DONATO DEODATO, envolvendo João Donato e Eumir Deodato, até hoje esse disco é procurado pelos americanos fãs de Funk, Rap e Hip Hop. Esse disco só tem músicas dos dois, que nessa época já eram adorados nos EUA. As músicas do disco são: Whistle stop, Where's J.D.?, Capricorn, Nightripper, You can go e a extraordinária música Batuque.

Em 1970, Tom Jobim grava mais um de seus espetaculares discos: STONE FLOWER, com arranjos de Eumir Deodato, as músicas do disco são: Tereza my love, uma homenagem a sua mulher, Chilldren's Games, que depois ganharia letra e se transformaria na clássica Chovendo na Roseira, uma das melhores músicas que o Tom já fez, Choro, uma homenagem ao Garoto, Brazil (uma versão de Aquarela do Brasil), com Tom tocando um piano elétrico, o maracatu sensacional de Stone flower, Amparo, que depois ganharia letra e se transformaria na clássica Olha Maria, God and the devil in the land of the sun , outra música com maracatu e a lindíssima canção Sabiá, feita com Chico Buarque.


Também em 1970, nos EUA sai o belíssimo disco A BAD DONATO, do João Donato, também com arranjos do Eumir Deodato. O disco também é cultuado mundo afora por simbolizar bem essa mistura de bossa nova, jazz, música latina, funk, psicodelia e o então novato hip hop, além de já ter algumas músicas com toque eletrônico (!). O disco é todo instrumental e só uma faixa não é inédita. O João Donato mau (ou maldito) – com cara de traficante colombiano, como aparece na capa do disco serviu primeiro para assustar aos que estavam acostumados ao seu estilo. Saía Donato de estilo suingado, com piano bossa nova temperado com calientes ritmos do Caribe, e entrava o Donato elétrico, influenciado pelo jazz-rock, por Jimi Hendrix e por James Brown. Em 1970, João Donato decidiu gravar em Los Angeles um disco em que fizesse uma fusão de MPB com jazz, funk rock e eletrônica. Quando entrou nos estúdios, Donato já tinha idéias mais claras. Pretendia usar instrumentos em dupla (duas guitarras, dois trompetes, dois pianos, dois trombones, duas baterias...) e sabia também com quem queria cercar-se: músicos americanos com quem ele já trabalhara (o saxofonista Ernie Watts, o flautista Bud Shank, o trompetista Jimmy Zito, o clarinetista Don Meza) e velhos parceiros do tempo da bossa nova, como o baterista Dom Um Romão e o violonista Oscar Castro Neves. Quando já estava no estúdio, Donato recebeu telefonema de Eumir Deodato que, entusiasmado com o que ouviu se ofereceu para fazer os arranjos. Foi aceito. Muitos músicos convocados por Donato integraram a orquestra de Stan Kenton, o que de certa forma fechava um ciclo na carreira do músico brasileiro: era Kenton seu modelo de compositor-arranjador quando começou a tirar as primeiras notas do piano, nos anos 40.

As músicas do disco são: a já clássica A rã, que já foi gravada até por João Gilberto, Celestial showers, Bambu, Lunar tune, Cadê Jodel, Debutante`s ball, Straight jacket, Mosquito, Almas irmãs e Malandro. Dois anos depois, como não havia mais nada para explicar para os americanos, João Donato deu por encerrada a sua temporada nos EUA. Com o cachê arrecadado com o disco, ele compraria uma passagem de avião. De volta para o Brasil.






segunda-feira, 1 de outubro de 2007

3 - A Bossa Nova conquista os EUA - 4ª parte


4ª parte

Em 1966, outro disco que ficou para história: HERP ALBERT PRESENT SERGIO MENDES & BRAZIL' 66, no qual o músico americano convida o pianista brasileiro Sérgio Mendes, recém chegado do Brasil, e seu grupo que formou nos EUA: o Brazil'66. Nesse grupo tinha uma banda de cinco pessoas com duas mulheres que cantavam tanto em português, como em inglês. As vocalistas eram Lani Hall, esposa de Alpert, e Jais Hansen, as duas americanas. Sérgio Mendes e o Brazil'66 ficaram famosos por misturar Bossa Nova, Jazz, Rock e ritmos latinos, numa clara influência de João Donato, que já fazia isso desde antes de ir para os EUA, eles criaram o que se chamou de "Bossa Pop".

No disco tinha as músicas Samba de uma nota só, The joker, Going out of my head, essas duas últimas são músicas americanas, Tim Dom Dom, do Coda e do João Mello, Daytripper, dos Beatles, Água de Beber, em inglês, Slow Hot wind, do Henri Mancini, O Pato, a versão em inglês de Berimbau, do Baden Powell e do Vinícius, e a que seria a grande responsável pelo sucesso do disco: Mas que Nada, de Jorge Ben, logo essa música se tornaria um grande clássico nos EUA, faz com que o disco venda mais de 1 milhão de cópias, faz com que depois Sérgio Mendes vire o músico brasileiro que mais vendeu discos no exterior e vira um ícone dos recéns criados Funk e Hip Hop, feitos respectivamente por James Brown e Miles Davis, muito influenciados por Sérgio Mendes, João Donato (que até hoje, para muitos americanos é considerado um dos pais do Funk) e do Moacir Santos, que também vai para os EUA, onde grava a sua fenomenal Coisa n.º 5, do seu disco COISAS, que seria rebatizada de Nanã, que depois viraria um hino da música negra americana.

Com isso Sérgio Mendes vira um dos mais cultuados músicos brasileiros nos EUA, sendo, talvez, o principal responsável pelo fim dos Beatles, o mais famoso grupo de Rock de todos os tempos, em 1970. Tanto foi o prestígio de Sérgio Mendes, que em 1984 foi convidado a fazer o tema de abertura das Olimpíadas de Los Angeles, cidade onde se adotou nos EUA. Faria também a trilha sonora de um filme americano sobre a vida de Pelé, sendo que em algumas músicas teve parceria do próprio Pelé. Sérgio Mendes acaba virando ao lado do Tom Jobim o "rei da música tocada em elevador". Além desse disco, Sergio Mendes também gravou vários outros nos EUA, como LOOK AROUND, que tem músicas como The frog, do João Donato e With a little help from my friends, dos Beatles.

Em 1967, Tom Jobim faria mais três discos que ficariam para sempre na memória dos americanos. O primeiro é WAVE, onde Tom faz só com músicas instrumentais, no disco tinham a belíssima Wave, que segundo Henri Mancini é a música brasileira mais jazzística de todas e a sua música preferida, The Red Blose, Look to the Sky, Batidinha, Triste, Mojave, Dialógo, Lamento, Antígua e o mais Samba-Jazz do disco: Captain Bacardi. Logo Wave faria um tremendo sucesso e ganharia letra feita pelo próprio Tom, Triste e Lamento, também ganhariam letra, Triste, também do Tom e Lamento, do Vinícius.

O disco que mais faria sucesso do Tom no ano foi FRANCIS ALBERT SINATRA E ANTONIO CARLOS JOBIM. Quem acabou marcando um encontro foi o próprio Frank Sinatra, que estava começando a entrar em decadência, especialmente por causa do grande sucesso do Rock, liga para o Tom, que está no bar do Veloso, quando recebe a notícia, que Frank Sinatra queria gravar um disco com ele, no princípio não acredita, mas quando Sinatra fala isso para ele, Tom embarca logo para os EUA. Em janeiro de 1967 hospedou-se no Sunset Marquis de Los Angeles para dar início ao trabalho, afinal adiado porque Sinatra refugiara-se em Barbados para esquecer mais uma desavença conjugal com Mia Farrow. Enquanto esperava, repassou todos os arranjos com Ogerman, compôs mais duas músicas (“Wave” e “Triste”) e quase morreu de tédio.

Enquanto esperava um sinal de Sinatra, Tom escreveu várias cartas a Vinícius. Numa delas autodefiniu-se como "um infeliz paralisado num quarto de hotel, esperando o chamado para a gravação, naquela astenia física que precede os grandes acontecimentos, vendo televisão sem parar e cheio de barrigose". E assinava: "Astênio Claustro Fobim".

Foi um disco histórico, envolvendo o maior cantor e o maior compositor do século XX. Frank Sinatra, que acompanha o sucesso da Bossa Nova nos EUA, vê em Tom Jobim a salvação para sua gloriosa carreira que estava em decadência, já Tom vê com isso que terá para sempre seu nome registrado entre os maiores da música mundial. Frank Sinatra fala para o Tom que ele só gravaria as músicas que ele conhecia, pois odiava gravar. A primeira música que os dois gravam juntos é Dindi, e Frank fala: "Mas que música linda!". As músicas do disco além de Dindi são: Change Partners, do Irving Berlin, Quiet nigths of quiet stars (Corcovado), Meditation (Meditação), If you never come to me (Inútil Paisagem), How Insensitive (Insensatez), I concentrate on you, de Cole Porter, Baubles, bangles and beads, de Wright e Forrest, Once I Loved ( O amor em Paz) e a mais famosa gravação de The Girl from Ipanema (Garota de Ipanema). No disco Tom é obrigado a tocar violão para preservar a imagem de "latin lover". Com essa gravação, Garota de Ipanema fica de vez na história da música mundial e a Bossa Nova passa a ser eterna. Muitos consideram esse disco como o melhor disco do mundo no século XX, e não é pra menos, em 1968, acaba ganhando o Grammy de melhor álbum, tirando o prêmio de Sargent`s People Lonely Hearth, considerado o melhor álbum que os Beatles fizeram.

Logo Tom Jobim e Frank Sinatra acabam virando amigos, provocando um grande ciúme em Vinícius de Moraes, que está cada vez mais junto de outros parceiros como Carlos Lyra e Baden Powell.

Também em 1967, Tom faz o disco A CERTAIN MR. JOBIM, as músicas do disco são: Once again (Outra vez), I was just one more for you (Esperança perdida), Estrada do Sol, Don't ever go away (Por causa de você) , Zingaro, Bonita, Se todos fossem iguais a você, Off key ( Desafinado), Photografh (Fotografia) e Surfboard.