sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 14 ª parte


14ª parte

No meio desse marasmo na música brasileira e na política brasileira, com sertanejo e Collor, entre outros, em 1990 sai o belíssimo livro Chega de Saudade – A história e as histórias da Bossa Nova, do Ruy Castro. Sem dúvida esse livro é a bíblia da Bossa Nova e ajudou muito os jovens descobrirem esse som maravilhoso. Esse livro ajudou até o João Gilberto a sair da “fortaleza” do seu flat no Leblon. João ficava recluso no seu flat, de pijama, vendo jornais, jogos e lutas de boxe com quase nenhuma visita. Têm varias histórias de pessoas que tentaram entrar no seu flat e não o conseguiram ver. Pouquíssimas pessoas conseguiram esse feito. O máximo que João fazia era atender o telefone, nisso ele ficava horas conversando, cantando, o próprio Ruy Castro falou que o João saía, ficava uma meia hora fora e depois voltava, as vezes falando em castelhano. Mas ninguém conseguia delsigar o telefone pois o João tem o magnetismo de prender as pessoas com quem fala.O Roberto Menescal falou pro Ruy Castro: “Cuidado com ele. É uma cobra, hipnotiza pelo telefone.” Tinha quase dez anos que ele não gravava um disco de estúdio, mas Mayrton Bahia, diretor artístico da Polygram afixara no quadro da gravadora o aviso com o dia e a hora do comparecimento do João ao estúdio. Ao ler os avisos, os funcionários da Polygram disfarçavam pra ninguém perceber seus risos. Porque era o João Gilberto e marcara a gravação para as 23:00. O pessoal da Polygram correu um bolão com apostas sobre se ele estaria ou não no estúdio. Pois quem apostou no João ganhou.


Ele compareceu no estúdio, a partir dali, naquela e nas noites seguintes gravou tranquilamente as doze faixas do disco que se chamaria JOÃO. Mas esse disco demoraria um ano pra sair, graças a incrível preciosismo do João nas gravações, chegando ao ponto de ter 10 gravações diferentes de uma mesma música, sendo que João escolheria a primeira. O disco demorou a sair, mas foi mais um belíssimo disco do João Gilberto, sendo que nenhuma música era Bossa Nova mesmo. Ele gravou três músicas bem conhecidas que já foram muito tocadas, quatro canções estrangeiras, também com longa experiência em embalar casais de namorados. Mas as faixas restantes é que eram as jóias da coroa – cinco preciosidades da música brasileira. As músicas do disco eram: a maravilhosa e rara Eu sambo mesmo, de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, a também bela e desconhecida Siga, de Fernando Lobo e Hélio Guimarães, depois tem a também rara Rosinha, de Jonas Silva, ex-integrante do Garotos da Lua, no qual foi substituído em 1950 pelo próprio João Gilberto, depois tem o bolero italiano Málaga, de Fred Bongusto, depois tem outro bolero: a bela Una mujer, do francês Paul Misraki, depois tem a rara Eu e meu coração, de Inaldo Vilarinho e de Toninho Botelho, colega de pescaria dos meninos da Bossa Nova,.depois tem o clássico You do something to me, de ninguém menos que Cole Porter, música maravilhosa de 1929, depois tem a também clássica Palpite infeliz, de Noel Rosa, numa gravação expetacular, o primeiro samba de Noel na voz de um nome importante da Bossa Nova, que abriu a porta pra muitos outros depois gravarem músicas do Noel, depois tem a belíssima Ave Maria no morro, clássico de Herivelto Martins, depois tem a também maravilhosa e clássica Sampa, de Caetano Veloso, sendo que essa música é a mais nova do disco de 1977, outra gravação expetacular do João, a também maravilhosa e rara Sorriu para mim, do lendário Garoto e no final o super clássico francês Que reste-t-il de nos amours, de Charles Trenet, música que ficou ainda melhor na voz do João.

No mesmo ano de 1991, o produtor Almir Chediak, funda a Lumiar discos e começa a produzir songbooks de grandes nomes da nossa música, interpretado por diversos músicos brasileiros dos mais diferentes estilos. O primeiro songbook é o do Noel Rosa e sai também em 91. Nesse disco têm duas gravações de Tom Jobim: a sensacional Três apitos e a também bela João Ninguém, pela primeira vez o Tom gravava músicas do Noel, uma paixão antiga que por causa da Bossa Nova e do enorme ligamento do Tom com Ary Barroso e Dorival Caymmi, tinha ficado no esquecimento. Mas Tom gravou essas músicas de uma maneira que deixou todos fascinados, sendo que Almir Chediak chegou a oferecer uma letra de uma música do Noel, pra o Tom colocar letra! Seria uma parceria e tanto: Tom Jobim e Noel Rosa, mas Tom acabou desistindo, o Tom chegou até a pensar em fazer um disco inteiro só de músicas do Noel, mas por problemas com a gravadora, Tom também teve que desistir. Foi uma pena.





Também em 1991, a maravilhosa Joyce é procurada pela lendária gravadora americana Verve pra lançar um disco nos EUA, com vários músicos de Jazz. Como era de se esperar, o disco foi espetacular e se chama LÍNGUAS E AMORES. O disco é uma belíssima ponte entre esses dois mundos: o Brasil e os EUA. O disco começa logo com a fenomenal Caymmis, música que a Joyce fez como é pra se imaginar em homenagem ao grande Dorival Caymmi, com citação da belíssima O mar, clássico de Caymmi, depois tem a faixa título a bela Línguas e amores, também da Joyce, uma música que fala as belezas da língua portuguesa, inglesa e outras pelo mundo, depois tem a expetacular Táxi driver, também da Joyce, uma música em inglês com pedaço em português, com direito a rap do cantor de jazz Jon Hendricks, que é um samba jazz maravilhoso, sem dúvida a melhor música do disco, depois tem a também bela Desafinada, do Mário Adnet e do Cláudio Nucci, inspirada, claro no clássico Desafinado, do Tom e do Newton Mendonça, depois tem uma surpresa, a Joyce cantando Chica-chica boom, que ficou famosa no mundo inteiro na voz da Carmem Miranda, depois tem a também bela Na casa do campeão, música também da Joyce, depois tem a instrumental Bailarina, também da Joyce, depois tem também a bela Duas ou três coisas, também da Joyce, depois tem a maravilhosa Arrebenta, também da Joyce e pra fechar o disco com chave de ouro tem a expetacular Chansong, do nosso maestro soberano Tom Jobim, que fala justamente de línguas e amores.

Em 1992, Tom Jobim lança ao lado da sua Banda Nova, o expetacular disco RIO REVISITED, lançado de um show no templo do jazz Wiltern Theatre ao vivo em Los Angeles em 1987, sendo que esse tour chegou até ao programa do David Letterman, que é o programa mais visto na TV americana. O disco tem participação especialíssima da Gal Gosta que Tom apresenta como “a pretty flower from Bahia: our friend Gal Costa” em excelente fase. As músicas desse disco são: One note Samba, Desafinado, Água de beber, uma interpretação maravilhosa de Dindi, feita pela Gal, Wave, também cantada pela Gal, uma maravilhosa gravação do Tom em Chega de saudade, outro show em Two kites, sendo que Tom, agradece a bela cidade de Los Angeles que ele morou durante dois anos e pede desculpas pelo seu inglês, Samba do Soho, em inglês cantada pelo Paulo Jobim, Sabiá, uma interpretacao de arrepiar do Danilo Caymmi em Samba do Avião, com direito a um “táxi”, falado pelo Tom no final da música, Águas de Março, em inglês, numa gravação também maravilhosa e Corcovado, cantada pelo Tom e pela Gal Costa.




2 comentários:

Mrsvago disse...

boa do Tom, e não é que acabei achando aki kkkkkkkkkkkkkkkk

É irmao, está muito bom seu blog!!!

Mrsvago disse...

Fotos muito boas =)