sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

5 - A Bossa Nova conquista o Japão - 1ª parte





1ª parte

No início dos anos 80, a Bossa Nova estava em crise no Brasil e até nos Estados Unidos, onde na década de 60 competiu em pé de igualdade com o Rock. A partir dos anos 70, com o advento do Soul, da Disco Music e do Reggae, a Bossa Nova começou a perder seu terreno nos Estados Unidos. Mas no início dos anos 80, a Bossa Nova começou a ser ouvida e adorada no outro lado do mundo: no Japão.

Os primeiros músicos brasileiros a divulgarem a Bossa Nova no Japão foram Nara Leão e Roberto Menescal, quando os dois começaram a fazer shows e lançar discos no Japão. Mas a primeira artista brasileira a lançar um disco no Japão, foi a Divina Elizeth Cardoso, em 1978 lançou o belo disco ELIZETH LIVE IN JAPAN com vários sambas e bossas maravilhosos. O disco começa com Barracão, de Luiz Antonio, depois tem o belíssimo samba Na cadência do samba, de Luiz Bandeira, depois tem a maravilhosa Apelo, do Baden Powell e do Vinícius de Moraes, depois tem a clássica A noite do meu bem, de Dolores Duran, depois tem Última forma, do Baden e do Paulo César Pinheiro, depois tem Naquela mesa, de Sérgio Bittencourt, depoits tem a também clássica É luxo só, de Ary Barroso e Luiz Peixoto, depois tem o super clássico Manhã de carnaval, de Luiz Bonfá e Antonio Maria, depois tem a maravilhosa Preciso aprender a ser só, do Marcos e do Paulo Sérgio Valle e no final a também maravilhosa Outra vez, do Tom Jobim. Até hoje anos depois de sua morte, Elizeth ainda é adorada no Japão.

Em 1985, há um reencontro maravilhoso entre Nara e Menescal, que lançam juntos o belo disco: UM CANTINHO E UM VIOLÃO. Menescal não lançava um disco há mais de 15 anos. Esse disco acabou saindo primeiro no Japão e depois no Brasil. As músicas do disco são: O negócio é amar, de Carlos Lyra e Dolores Duran, Tristeza de nós dois, Sabor a mi, Da cor do pecado, Transparências, Blusão, Resignação, Vestígios, There will be another to you, Comigo é assim, Mentiras e Inclinações musicais.

Em 1988, Nara é convidada pelos japoneses a fazer um disco de clássicos do jazz cantados em português em ritmo de Bossa Nova. O disco se chama SONHOS DOURADOS. O disco é maravilhoso e já começa com Eu gosto mais do Rio, versão em português de How about you, essa versão em português ficou ainda melhor que a original, depois tem Um sonho de verão (Moonlight serenade), Garoto levado (Lullaby of birland), Milagre (Misty), Jamais (The boy next door), Além do arco-iris (Over the rainbow), depois tem a maravilhosa versão Aqui nessa mesa de bar, do super clássico As times goes by, Coisas que lembram você (These foolishing things), Me abraça (Embraceable you) e no final Como vai você (What is new).

No mesmo ano, depois de muita insistência dos japoneses, Tom Jobim faz um show histórico aos pés no famoso Monte Fuji. Há algum tempo que os japoneses queriam um show do Tom, mas o Tom desistia porque falava: Eu não vou pra lá só por causa do dinheiro, ninguém conhece minha música. Tom estava enganado, todos conheciam as músicas dele e quando acabou o show ele foi ovacionado pelo público, Tom ficou tão emocionado que voltou mais vezes ao Japão.

Em 1989, Nara mais uma vez é convidada a lançar um disco de clássicos de jazz cantados em português. Ela lança o belíssimo disco MY FOOLISH HEART, que acabaria sendo histórico porque ela fez esse disco poucos dias antes de morrer. O disco começa com a belíssima Maravilha, versão em português do clássico S‘ wonderful, depois tem Adeus no cais (My funny valentine), Mas não pra mim (But not for me), Mais uma vez amor (I’m the mood for love), depois tem Só você, bela versão em português do super clássico Night and day, Cartas de amor (Love letters), E se depois (Tenderly), depois tem a bela e melancólica Descansa coração (My foolish heart), Onde e quando (Where on when), Pleno verão, versão em português do super clássico Summertime, A saudade me bateu (Sentimental journey), Fumaça nos olhos (Smoke gets your eyes), Alguém que olhe por mim (Someone to watch of me), Sem querer (You ’ll never know) e fechando o disco Um beijo (Kiss).




Também os japoneses conheceram duas cantoras brasileiras que fazem um enorme sucesso no Japão até hoje, que são a Wanda Sá e a Joyce.

No final da década de 80, uma brasileira naturalizada japonesa, acabaria sendo uma espécie de embaixatriz da música brasileira entre os japoneses: Lisa Ono. Lisa Ono é filha de japoneses e desde pequena mora no Japão.

Uma coisa difícil de explicar é o motivo dos japoneses adorarem a Bossa Nova. Talvez as melhores definições tenham sido do Tom Jobim, que disse: "Deve ser porque eles têm bom gosto", do Carlos Lyra, que disse: "Os japoneses não têm uma música popular, o que eles têm é uma música de mais de mil anos, que é uma música tribal", do Roberto Menescal que disse que "os japoneses gostavam muito do Sérgio Mendes e achavam que ele era americano, quando descobriram que ele era brasileiro passaram a adorar a música brasileira" e do compositor japonês Ryuchi Sakamoto, que disse: "É uma música muito controlada. É calma, tem piano e a paixão está toda escondida. É como um oceano, quase sem ondas, mas com muita coisa acontecendo debaixo d'água. É como o canto de João Gilberto, você pode ouvir a paixão, mas ela está escondida dentro da música. Os japoneses gostam desse controle e dessa paixão oculta."

Na década de 80, alguns discos da Nara Leão, foram gravados no Japão, mostrando aos japoneses a nossa música. Com isso, vários japoneses vieram ao Brasil em busca de vinis raros de música brasileira, especialmente Samba e Bossa Nova, aí eles levaram esses discos para o Japão e lá transformaram em CDs, que hoje só existem no Japão, a preços muito caros, especialmente da Nara Leão, do Roberto Menescal, da Joyce, da Wanda Sá, do Sérgio Mendes, da Elizeth Cardoso, do João Donato e do Moacir Santos.

Em 1989, a cantora Leila Pinheiro, lança o belíssimo disco BENÇÃO BOSSA NOVA, o Cd é produzido por Roberto Menescal, é dedicado aos 30 anos da Bossa Nova e sai simultaneamente no Brasil e no Japão.

Ainda em 1989, Lisa Ono lança seu primeiro disco, CATUPIRY, o Cd só sai no Japão e tem só músicas feitas pela Lisa Ono. As músicas do disco são: Catupiry, O amor, o céu e o mar, Look for a Star, Saci Pererê, Piquenique em Paquetá, You`re so unique, Chega de pisar na bola, Carnaval dos meus sonhos, Moço menino, Madrugada de Quarta-feira, Lua cheia e Acalanto para Maira.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 16ª parte


16ª parte

Em 1995, sai o songbook instrumental do Tom Jobim. As músicas dos CDs são:

Disco 1 – a maravilhosa Surfboard, Paulo vôo livre, a belíssima Meu amigo Radamés, a espetacular Bangzália, Caribe, Choro, Antigua, Andorinha, Takatanga, Diálogo, Batidinha, a ótima Capitan Bacardi, Mojave, Sue Ann, Arquitetura de Morar e Tema pra Ana.

Disco 2 - The red Blose, Rocknália, Look to the sky, Tide, Tema jazz, Tempo do mar,a extraordinária Stone flower, Deus e o diabo na terra do sol, Radamés y Pelé, Tereza my love, Rancho nas nuvens, Marina del rey, Remember, O homem, a lindíssima Chanson pour Michelle e Nuvens Douradas. Os dois discos têm músicos do naipe de: Gilson Peranzetta, Daniel Jobim, Paulo Bellinati, Jacques Morelembaun, Paulo Jobim, Sivuca, Roberto Menescal, Mário Adnet, Ed Motta, João Donato, Hermeto Pascoal e outros.

Também em 1995, sai a belíssima coletânea ANTONIO CARLOS JOBIM: COMPOSER, o cd na verdade é uma junção dos dois primeiros discos cantados por Tom Jobim nos EUA, mais algumas faixas bônus. As 12 primeiras músicas são do disco THE WONDERFUL WORLD OF ANTONIO CARLOS JOBIM de1965, que são: Ela é carioca, Água de beber, Surboard, Useless undscape, Só tinha de ser com você, A felicidade, Bonita, O morro não tem vez, Valsa do porto das Caxias, Samba do avião, Por toda minha vida e Dindi. As duas músicas seguintes são inéditas, que são: Hurry up and love me (Eu preciso de você) com Aloysio de Oliveira e Ray Gilbert e Pardon my English (Samba Torto) também com Aloysio de Oliveira e Ray Gilbert. Da faixa 15 até a 24, as músicas são do disco A CERTAIN MR. JOBIM. As músicas desse disco são: Bonita, Se todos fossem iguais a você, Off key, Photograph, Surfboard, Outra vez, I was just one more for you, Estrada do Sol e Zingaro. E no final quatro faixas bonus escritas em português: Esperança Perdida, Fotografia, Por causa de você e Desafinado.

Em 1996, saíram mais quatro discos glorificando a obra de Tom Jobim. O primeiro disco foi o songbook do Tom Jobim, que veio completar as músicas do disco anterior. As músicas do disco são:

Disco 1 - Correnteza, Só danço Samba, Bonita, Querida, Meditação, Foi a noite, Triste, Olha pro céu, Esquecendo você, Piano na Mangueira, Sabiá, Fotografia, Teresa da Praia, Eu preciso de você e Samba de Maria Luiza.

Disco 2 - Eu te amo, As praias desertas, Você vai ver, Só em teus braços, Só saudade, Brigas nunca mais, Chansong, Esperança Perdida, Ana Luiza, Vivo sonhando, Demais, Falando de amor, Samba torto, Discussão e Saudade do Brasil.

Disco 3 - Chega de Saudade, Boto, Só tinha de ser com você, Outra vez, Canção do amor demais, Desafinado, Caminhos cruzados, Two Kites, A felicidade, Luciana, Corcovado, Esse seu olhar, Inútil Paisagem, Borzeguim e Frevo de Orfeu.

Disco 4 - Ângela, Anos Dourados, A violeira, Águas de Março, O grande amor, Olha Maria, Garota de Ipanema, Por causa de você, Retrato em branco e preto, Lamento no morro, Canção em modo menor, Pato preto, Estrada do sol, Passarim e Desafinado.

Disco 5 - Luiza, Sem você, Imagina, Eu sei que vou te amar, Chovendo na roseira, Samba de uma nota só, Samba do Avião, Amor em paz, Dindi, Wave, Canta, canta mais, Pois é, Solidão, Gabriela, Oficina, Se é por falta de Adeus e Lígia. Nos cinco CDs, há artistas fantásticos como: Edu Lobo, João Donato, Miúcha, Johnny Alf, Leny Andrade, Quarteto em CY, Carlos Lyra, Maria Luiza Jobim, Daniel Jobim, Djavan, Joyce, Os Cariocas, Roberto Menescal, Wanda Sá, Toquinho, Marcos Valle, MPB-4, João Bosco, Ed Motta, Leila Pinheiro, Tito Madi, Paulo Jobim, Chico Buarque, Maria Bethânia e outros.

Depois saiu o Cd BATE-BOCA, com o MPB-4 e o Quarteto em CY, relembrando as músicas de Tom Jobim e Chico Buarque, com participação do próprio Chico. As músicas do disco são: Meninos eu vi, Eu te amo, Piano na Mangueira, A violeira, Anos dourados, Biscate, Retrato em branco e preto, Falando de amor, Pois é, Noite dos mascarados, Sabiá, Imagina e a inédita Bate Boca, uma música instrumental do Tom Jobim, que começa com ele a mostrando ao Chico Buarque.

Outro foi UM HOMEM ILUMINADO, que veio junto com o livro, de mesmo nome, da Helena Jobim, irmã do Tom, sobre a sua vida. O Cd contém algumas músicas que Tom, ao acabar de compor, gravava em fita cassete e mandava para Chico Buarque fazer letra.

Quando Helena pediu um prefácio para o livro, Chico, ao invés de escrever um texto, enviou-lhe as fitas, junto com uma mensagem gravada. As músicas do disco são: Fala de Chico Buarque, no qual Chico fala que "tudo que eu fiz foi para o Tom", Meninos eu vi, Anos Dourados, a inédita Bate boca, que Tom fala que parece uma música do Tchaycovsky, a também inédita Miguel, única do disco com letra, que Tom fala que a fez quando estava no bar Plataforma e estava todo mundo bêbado que tem uma letra bem engraçada, Para viver um grande amor e Luiza. Nesse livro, Helena conta vários casos do seu irmão que pouca gente conhecia, incluindo detalhes dos últimos dias do Tobim antes de ir para os EUA pra fazer a cirurgia que o acabaria matando. Sem dúvida o livro Antonio Carlos Jobim - Um homem iluminado, é um relato emocionado da irmã que conviveu de forma intensa com Tom Jobim, que era realmente um homem iluminado.

O quarto Cd foi o espetacular ANTONIO CARLOS JOBIM E FRIENDS, gravado ao vivo no Free Jazz de 1993, em São Paulo. O Cd é uma homenagem de grandes músicos de Jazz ao mestre Tom Jobim. As músicas do Cd são: um Medley instrumental com Herbie Hancock, contendo Inútil Paisagem, Triste e Esperança perdida, Ela é carioca, também instrumental, The girl form Ipanema e Once I loved, as duas cantadas pela cantora americana Shirley Horn, O grande amor, também instrumental, No more blues, versão em inglês de Chega de Saudade, cantada por Jon Hendrics, Água de beber, também instrumental, depois entra a sensacional Gal Gosta e canta A Felicidade e Se todos fossem iguais a você, depois entra o Tom que canta Luiza, toca Wave em instrumental, toca e a Gal canta, a música Caminhos cruzados, com direito a um "bravo, bravo!" , de Tom Jobim e no final todos entram e cantam Garota de Ipanema.

Ainda em 1996, sai nos Eua o sensacional disco ALMOST IN LOVE, da cantora brasileira Ithamara Koorax ao lado de Luís Bonfá, todas as músicas do disco são de Bonfá. As músicas do cd são: Almost in love, que já foi gravada até por Elvis Presley(!), Non-stop to Brazil, Amor sem adeus, em parceria com Tom Jobim, Menina flor, Samba de Orfeu, Perdido de amor, The gentle rain, a lindíssima Correnteza, também com o Tom, Say goodbye, Empty glass, a inevitável Manhã de Carnaval, Vida, Samblues for Mr. Coryel e de novo Empty glass.

Em 1997, houve um grande encontro envolvendo Tim Maia e Os Cariocas, que fazem o disco AMIGOS DO REI. As músicas do Cd são: Ter você é ter razão, do Dominguinhos, Essa tal felicidade, do Tim Maia, Ela é carioca, Lindeza, do Caetano Veloso, Amigo do rei, do Lenine, Não quero dinheiro só quero amar, do Tim, Telefone, Samba do Avião, Azul da cor do mar, do Tim e a belíssima Valsa de uma cidade, de Ismael Neto e Antônio Maria.

Também em 1997, a cantora Cláudia Telles, lança o belo disco POR CAUSA DE VOCÊ, em homenagem a mãe Silvinha Telles. As músicas do disco são: Dindi, Lobo bobo, Por causa de você, Discussão, Esquecendo você, A felicidade, Obrigada meu bem, parceria da Silvinha, com o Aloisio de Oliveira, Dorme, do Candinho e do Ronaldo Boscoli, Duas contas, do Garoto, Chuva, do Durval Ferreira, Amendoim torradinho, Henrique Beltrão, Se todos fossem iguais a você e no final um medley com as músicas: Corcovado, Rio, Você e Samba do Avião.

Ainda em 97, sai pela Lumiar Discos, o belíssimo cd MINHA ALMA CANTA, com as canções que Tom Jobim gravou nos songbooks feitos pela Lumiar. As músicas desse disco são: Na batucada da vida, de Ary Barroso, Três apitos, de Noel Rosa, Choro bandido, de Edu Lobo e Chico Buarque, que o Tom canta ao lado do Chico, João ninguém, de Noel Rosa, Janelas abertas, cantada pela Gal Costa, com o Tom no piano, Samba do carioca, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes, Pra machucar meu coração, de Ary Barroso, cantada pelo Edu Lobo, com Tom no piano, Chega de saudade, Valsa brasileira, do Chico Buarque e do Edu Lobo, cantada pela Leila Pinheiro, também com o Tom no piano, Milagre, de Dorival Caymmi, Sem você, cantada pelo Chico Buarque, também com o Tom no piano, Por toda minha vida, É preciso dizer adeus e O bem do mar, de Dorival Caymmi.

Nesse cápitulo foram utilizadas passagens de:

CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e as histórias da Bossa Nova; Companhia das letras, 1990.

CASTRO, Ruy. A onda que se ergueu no mar: Companhia das letras, 2001.

CABRAL, Sérgio. Antonio Carlos Jobim – Uma biografia; Lumiar, 1997.

MOTTA, Nelson. Noites tropicais; Objetiva, 2000.

CASTELLO, José. Vinícius de Moraes - O poeta da paixão; Companhia das letras, 1994.

JOBIM, Helena, Antonio Carlos Jobim – Um homem iluminado; Nova Fronteira, 1996.

HOMEM DE MELLO, Zuza. A era dos festivais, uma parábola; Editora 34, 2003.

Encarte do disco Joyce, disponível no site www.joyce-brasil.com, acessado em 2004.

Faixas de discos tiradas do site www.cliquemusic.com.br

Faixas de discos tiradas do site www.jobim.com.br

Revista Veja, de 11 de dezembro de 1994.


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 15ª parte


15ª parte

No verão de 1992, acontece um momento mágico. Tom está tocando na praia do Arpoador, a sua praia de infância, para uma multidão maravilhada por aquelas canções, que eram, na verdade, a cara do Rio. Tom começou a cantar Samba do avião, acompanhado por milhares de pessoas na areia. Naquele exato momento, um aviãozinho da Ponte Áerea sobrevoou a praia, mais baixo que de costume e piscando luzes coloridas. A platéia foi ao delírio. Ninguém poderia ter produzido aquilo.

Em 1993 a Estação Primeira de Mangueira, homenageia o mestre Antônio Carlos Jobim no carnaval carioca. Naquela época, Tom estava sendo homenageado em todos os cantos do Brasil. O contato foi feito, Tom adorou a idéia, fez a música Piano na mangueira, junto com Chico Buarque, que acabaria sendo seu último sucesso. Momentos antes do desfile, Tom avisa que só entra na avenida com um comprimido de isordil debaixo da língua. O compositor até que tenta conter a emoção, mas todas as preocupações caem por terra quando ele sobe ao topo do carro alegórico. Do alto, o Tom da Mangueira, como canta a multidão de integrantes da verde e rosa, constata que não dá mesmo para segurar a emoção. Inclusive, Tom diz que foi a maior emoção de sua vida.

A letra da música do Tom da Mangueira:

Mangueira vai deixar saudade

Quando o Carnaval chegar ao fim

Quero me perder na fantasia

Que invade os poemas de Jobim

Amanheceu

O Rio canta de alegria

Aconteceu

A mais linda sinfonia

O sol já despontou na serra

Dourando o seu corpo sedutor

O mar beija a garota de Ipanema

A musa de um sonhador

É carnaval

É a doce ilusão

É promessa de vida no meu coração

Vem, vem amar a liberdade...

Vem cantar e sorrir

Ver um mundo melhor

Vem, meu coração está em festa...

Eu sou a Mangueira em Tom maior

Salve o samba de terreiro

Salve o Rio de Janeiro

Seus recantos naturais


No mesmo, Chico Buarque faz a belíssima música Paratodos, que é uma homenagem aos grandes nomes da música brasileira, especialmente Tom Jobim, a quem o chama com toda justiça de Maestro Soberano.

Também em 1993, sai o songbook do Vinícius de Moraes, as músicas do disco são: disco 1 - Chega de Saudade, Se todos fossem iguais a você, A felicidade, Estrada branca, Valsinha, Caminho de pedra, Carta ao Tom, Apelo, O velho e a flor/ Vejo você/ Mais um adeus, O nosso amor, Lamento, Soneto de Separação, Tempo Feliz, Teleco-teco e Samba da benção. Disco 2 - Onde anda você, Eu não existo sem você, Samba do pouso, Eu sei que vou te amar, Só danço Samba, Valsa sem nome, Samba em prelúdio, Chora Coração, Serenata do Adeus, Olha Maria, Arrastão, Canção do amanhecer, O morro não tem vez, Cartão de visita, Quando tu passas por mim e Formosa. Disco 3 - Tem dó, Sem você, Canto triste, Medo de amar, Janelas abertas, Derradeira Primavera, Modinha, Amor em paz, Insensatez, Garota de Ipanema, É preciso dizer adeus, Gente humilde, Valsa de Eirídicie, Água de beber, Por toda minha vida, O que tinha de ser, Eu te amo amor, Ela é Carioca e Bom dia tristeza. Os 3 volumes tem participação de músicos do naipe de: Tom Jobim, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Joyce, Miúcha, Quarteto em CY, Toquinho, MPB-4, Emílio Santiago, Carlos Lyra, Os Cariocas, João Bosco, Baden Powell, Edu Lobo, Leny Andrade, Roberto Menescal, Wanda Sá, Chico Buarque, Tim Maia, Caetano Veloso, Gal Costa e outros.

Começa o ano de 1994. Vários acontecimentos mudariam a história do Brasil e do mundo. No Brasil, surge o Real, uma moeda que na época valia mais que o Dólar, que foi o grande passo para o Brasil se livrar da inflação. No mesmo ano, o Brasil é tetra campeão mundial de futebol nos EUA. Ainda em 94, Fernando Henrique, que criou o Real, é eleito presidente da república. Morre o grande piloto Ayrton Senna. Na música, morre um dos maiores letristas da Bossa Nova: Ronaldo Boscoli, parceiro de Roberto Menescal, Carlos Lyra e Wilson Simonal. No mesmo ano, Tom Jobim, ao lado de sua Nova Banda, acaba fazendo uma turnê mundial, passando por Nova York, sendo que lá ele volta a se apresentar no Carneggie Hall, Londres, Jerusalém, Portugal, Rússia e Japão.

No mesmo ano, a cantora Leila Pinheiro lança o belo Cd: ISSO É BOSSA NOVA, também só com músicas de Bossa Nova. As músicas do Cd são: Ouverture, um pout-porri sensacional de abertura que tem: Desafinado, O pato, Ela é carioca, Vivo Sonhando e Garota de Ipanema, depois tem A primeira vez, Discussão, Amor certinho, Sem mais adeus, Caminhos cruzados, Este seu olhar, Folha de papel, Samba da pergunta, Por quem morreu de amor, Chega de Saudade, Rapaz de Bem, Sabe Você e uma gravação antológica de Samba do Avião.



Ainda em 1994, João Gilberto volta a lançar um Cd. O belo disco EU SEI QUE VOU TE AMAR, gravado ao vivo em São Paulo. O disco tem as músicas: Eu sei que vou te amar, Desafinado, Você não sabe amar, Fotografia, Rosa Morena, Lá vem a baiana, Pra que discutir com madame, Isto aqui o que é?, Meditação, Da cor do pecado, Guacyra, Se é por falta de adeus, Chega de saudade, A valsa de quem não tem amor, Corcovado, Estate, O amor em paz e Aos pés da cruz.

Também em 94, sai o songbook do Carlos Lyra. As músicas do Cd são: Samba do Carioca, Quando Chegares, Maria Ninguém, Coisa Mais Linda, Primavera, Ciúme, Canção que morre no ar, Feio não é bonito, Saudade fez um Samba, O negócio é amar, Minha namorada, Entrudo, Influência do Jazz, Marcha da Quarta-feira de Cinzas, Lobo bobo, Sabe você, Você e eu, Se é tarde me perdoa, Maria Moita e Maria do Maranhão. O Cd tem participações do naipe de: Tom Jobim, Caetano Veloso, João Bosco, Gal Costa, Tim Maia, Gilberto Gil, Joyce, Leila Pinheiro, Leny Andrade, Os Cariocas, Quarteto em CY, Emílio Santiago, Lisa Ono e outros.

Ainda em 94, tem o disco ELIS REGINA NO FINO DA BOSSA AO VIVO, três discos, com os melhores momentos da pimentinha no programa Fino da Bossa, na década de 60. As músicas do disco são: Disco 1 - um pout-pourri com Terra de Ninguém e Influência do Jazz, Formosa, junto com Baden Powell, Cyro Monteiro e o Zimbo Trio, um outro pout-pourri, com as músicas: Lá vem a baiana, Saudade da Bahia e Das rosas, todas do Dorival Caymmi com a presença do próprio, depois têm Pra dizer adeus, do Edu Lobo, Discussão, com a presença de Pery Ribeiro, um outro pout-pourri, com as músicas: Insensatez, Corcovado, A felicidade, Esse seu olhar, Só em teus braços, Garota de Ipanema e Se todos fossem iguais a você, todas do Tom, com a presença de Jair Rodrigues, depois tem Garota de Ipanema, com o Baden Powell, Aleluia, com o Edu Lobo, Samba do avião, com o Luiz Loy Trio e o Lennie Dalle, depois tem Vem balançar, do Walter Santos, também com o Luiz Loy Trio e por último um pout-porri, com as músicas: Roda de samba, Despedida da Mangueira, O morro não tem vez, Zelão e O morro com a participação do Agostinho dos Santos, da Elza Soares e o Lúcio Alves. Disco 2 - Devagar com a louça, com Elza Soares e o Luiz Loy Trio, Mulata assanhada, com o Ataulfo Alves, Lunik 9, também com o Luiz Loy Trio, Eu vim da Bahia, com o Gilberto Gil, um pout-pourri com as músicas Consolação, Carcará, Aleluia e Zelão, com o Baden Powell, o Jair Rodrigues e o Zimbo Trio, Tristeza em mim, com o Baden Powell e Rosinha de Valença, Amor em paz, com o Zimbo Trio, Bocochê, também com o Baden, Estamos aí, também com Luiz Loy, um outro pout-pourri com as músicas: Reza, Esse mundo é meu, Aleluia, Zambi, Tem dó, Tempo feliz, Arrastão e Menino das Laranjas, também com o Luiz Loy, Agora ninguém chora mais, com o Jorge Ben e o Zimbo Trio e um outro pot-pourri com as músicas: Falsa baiana e Imagem, com o Wilson Simonal. Disco 3 - Mas que nada, também com Luiz Loy, Você, com o Pery Ribeiro, Telefone, com Os cariocas, Zé não é João, com o Baden Powell e o Cyro Monteiro, Somewhere, com O quarteto, Sambou, sambou, com o Zimbo Trio e o Hermeto Pascoal, depois tem um pout-pourri, com as músicas: Saudosa maloca, Luz da Light, Provas de carinho, As mariposas, Um samba no Bixiga, Bom dia tristeza e Trem das Onze, todas do Adoniram Barbosa, com a participação do próprio, depois tem Eu só queria saber, com a Claudette Soares, depois tem outro pout-pourri com as músicas: Minha namorada, Primavera, Cartão de visita, Feio não é bonito, Maria Moita, Maria ninguém, Maria do Maranhão, Aruanda e Samba do carioca, todas do Carlos Lyra, com participação do Jair Rodrigues e do Zimbo Trio, depois tem Esse mundo é meu, também com o Zimbo Trio e por último, mais um pout-pourri, com as músicas: Se acaso você chegasse e Terra de ninguém, com a Elza Soares, o Jair Rodrigues e o Zimbo Trio.

Também em 1994, tem a volta ao Brasil de uma das suas maiores cantoras e compositoras: a Joyce, depois de uma bem sucedida excursão pela Europa e Japão, que se apresentou também em Londres, onde a sua música Aldeia de Ogum, faz um grande sucesso nas pistas de dança. Graças ao grande Roberto Menescal, ela lançca um disco expetacular chamado REVENDO AMIGOS, onde ela canta vários sucessos dela em duetos com grandes nomes da música brasileira. As músicas desse disco são: a bela Outras mulheres, parceria com Paulo César Pinheiro, que ela canta sozinha, depois tem Cartas do exterior, onde ela canta com Emílio Santiago, depois tem Stone washed, parceria com a Monique Hecker, onde ela canta com Sandra de Sá, depois tem a também bela Da cor brasileira, parceria com a Ana Terra, onde ela canta ao lado da Fátima Guedes, depois tem Mistérios, parceria com Maurício Maestro, onde ela canta com a Gal Costa, depois tem o super clássico internacional: a expetacular Aldeia de Ogum, sucesso nas pistas de dança européias, onde ela divide com o pianista Gilson Peranzetta, depois tem a também belíssima e famosa Clareana, parceria também com o Mauricio Maestro, onde ela canta junto com o grupo mineiro Boca Livre, depois tem a também clássica Monsieur Binot, onde ela canta junto com Gilberto Gil, depois tem a maravilhosa Minha gata Rita Lee, onde ela canta ao lado da filha Clara Moreno, depois tem Duas ou três coisas, onde ela canta junto com Ney Matogrosso, depois tem mais um grande clássico Essa mulher, parceria com a Ana Terra, que ficou famosa na voz de Elis Regina, nesse disco ela canta junto com a Wanda Sá, depois tem a também bela Mulheres do Brasil, onde ela canta junto com a Beth Carvalho, depois tem a também sensacional Feminina, que também é um sucesso mundial, que ela canta sozinha e no final tem a belíssima Capitão, que ela fez em parceria com Fernando Brant, onde ela divide os vocais com ninguém menos que Chico Buarque, numa interpretação maravilhosa, encerrando o disco com chave de ouro.

Em Setembro de 94, Frank Sinatra convida Tom Jobim para cantar uma música do seu Cd Duets 2, que tinha o Frank Sinatra, cantando ao lado de grandes nomes da música mundial. Tom Jobim escolhe a música Fly me to the moon, que acabaria sendo uma gravação antológica, por entre outros motivos, por ter sido a última gravação do Tom, Tom chegou a falar que fez essa música em péssimas condições, pois já não estava bem, sentia uma forte dor no peito, mas a gravação foi muito elogiada e ao lado de I`ve got under my skin, que Sinatra gravou com Bono Vox sãs as melhores do disco.

Em Novembro de 94, Tom lança o que talvez seja seu melhor disco: o espetacular ANTONIO BRASILEIRO, que é o nome que Chico Buarque o dá na música Paratodos. O Cd realmente é esplêndido e tem várias participações especiais. As músicas desse disco são: Só danço Samba, música que, aliás, o Tom não gostava, Piano da Mangueira, How Insesitive, um encontro inusitado e sensacional com Sting, um cantor de Rock, que é a melhor gravação dessa música, a bela Querida, tema da novela O dono do mundo, a sensacional e emocionante Surfboard, Samba de Maria Luiza, uma música feita para a filha caçula de até então sete anos de idade, com participação da própria, Forever Green, música feita para a ECO-92, com a Maria Luiza cantando em inglês (!) com o pai, Maracangalha, de Dorival Caymmi, com a participação do próprio, a belíssima e então inédita Maricotinha, também do Caymmi e com participação dele, Pato Preto, um forró ecológico do Tom, Meu amigo Radamés, uma música instrumental em homenagem ao grande maestro Radamés Gnatalli, que morreu em 86, Blue Train, a versão em inglês que Tom fez da clássica Trem Azul de Lô Borges, Radamés y Pelé, homenagem a dois de seus heróis Radamés e Pelé, Chora Coração, uma bela e rara música da parceria com Vinícius de Moraes, tirada da Crônica da Casa Assassinada e a complicada de cantar Trem de ferro, música tirada de um poema de Manuel Bandeira. Parecia que o Tom sabia, que esse era seu último disco, pois se juntou a amigos como Dorival Caymmi e Sting, aumentou a participação da família com a presença do neto Daniel Jobim e da filha Maria Luisa, reviveu antigos clássicos e colocou músicas novas.


Ainda em novembro de 94, Tom Jobim vai se tratar em Nova York por causa de um tumor maligno, e não para fazer uma angioplastia. Esta só foi feita porque os médicos americanos descobriram o grau de obstrução coronariana de Tom e decidiram começar logo a desobstrução, para só depois operar a bexiga. Tom não mudara radicalmente seus hábitos por causa das doenças. Seguia comendo o seu franguinho "atropelado", como batizou o grelhado da dieta, e tomava vinho na churrascaria Plataforma. Tom tentou mudar do uísque para a cerveja e, depois para o vinho, mas não conseguiu deixar de tomar pelo menos uma dose de scotch por noite. Além isso, ia traçando seus charutos. No dia 07 de dezembro, ele submeteu a cirurgia para extirpar dois tumores na bexiga. Eles foram eliminados depois de uma operação de pouco mais de uma hora. Segundo a família de Tom, a cirurgia foi um sucesso. Mas algumas horas depois ele começou a passar mal, com dificuldades para respirar, e morreu ás 8 horas da manhã, do dia 8 de dezembro de 1994, no hospital Mont Sinai, um dos mais famosos do mundo, por causa de um coágulo sangüíneo parado no seu pulmão. As últimas palavras ele disse ao enfermeiro, que lhe arrumava a grade da cama e tentava amenizar a crise respiratória: “Quero ir para a praia! Para junto do mar... respirar a maresia... respirar...’’”.

Tom Jobim foi enterrado na tarde do dia 09 de dezembro, no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, envolto nas bandeiras do Brasil e do Fluminense, depois que um caminhão do Corpo de Bombeiros conduziu o caixão pelo roteiro que o morto cantou em vida como nenhum outro - O Rio e suas praias, suas matas e mulheres, a Ipanema da Avenida Vieira Souto, que passou a se chamar Avenida Tom Jobim. Tanto o presidente do país onde nasceu e amava Itamar Franco, quanto o do país que conquistou com sua música e ao qual diziam ter vendido sua alma, Bill Clinton, manifestaram sua tristeza.

O cineasta Arnaldo Jabor falou: “A morte do Tom Jobim, não foi à derrubada de uma árvore, mas a de uma floresta inteira.”

Tom morreu na época que sua música mais famosa Garota de Ipanema, era a segunda mais tocada no mundo, só perdendo para Yesterday, dos Beatles.

Na época na revista Veja, João Gilberto falou: "Estou aqui, falando ao telefone sem fio, de frente para a janela que mostra o Rio de Janeiro. Estou vendo o mar, a Lagoa Rodrigues de Freitas, os morros. O Rio do Tom. O Rio de Janeiro do meu amigo Antônio Carlos Jobim. Mas agora onde está Tom? É Drummond, de quem ele gostava tanto, quem pergunta: E se todos nós vivêssemos?".

Foi uma comoção mundial, pois morreu o Tom maior da música mundial, Tom Jobim pode ter morrido em Nova York, mas ele sempre voltou ao Rio de Janeiro que tanto amou, mesmo na sua morte. Esse Rio de amor que se perdeu.




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 14 ª parte


14ª parte

No meio desse marasmo na música brasileira e na política brasileira, com sertanejo e Collor, entre outros, em 1990 sai o belíssimo livro Chega de Saudade – A história e as histórias da Bossa Nova, do Ruy Castro. Sem dúvida esse livro é a bíblia da Bossa Nova e ajudou muito os jovens descobrirem esse som maravilhoso. Esse livro ajudou até o João Gilberto a sair da “fortaleza” do seu flat no Leblon. João ficava recluso no seu flat, de pijama, vendo jornais, jogos e lutas de boxe com quase nenhuma visita. Têm varias histórias de pessoas que tentaram entrar no seu flat e não o conseguiram ver. Pouquíssimas pessoas conseguiram esse feito. O máximo que João fazia era atender o telefone, nisso ele ficava horas conversando, cantando, o próprio Ruy Castro falou que o João saía, ficava uma meia hora fora e depois voltava, as vezes falando em castelhano. Mas ninguém conseguia delsigar o telefone pois o João tem o magnetismo de prender as pessoas com quem fala.O Roberto Menescal falou pro Ruy Castro: “Cuidado com ele. É uma cobra, hipnotiza pelo telefone.” Tinha quase dez anos que ele não gravava um disco de estúdio, mas Mayrton Bahia, diretor artístico da Polygram afixara no quadro da gravadora o aviso com o dia e a hora do comparecimento do João ao estúdio. Ao ler os avisos, os funcionários da Polygram disfarçavam pra ninguém perceber seus risos. Porque era o João Gilberto e marcara a gravação para as 23:00. O pessoal da Polygram correu um bolão com apostas sobre se ele estaria ou não no estúdio. Pois quem apostou no João ganhou.


Ele compareceu no estúdio, a partir dali, naquela e nas noites seguintes gravou tranquilamente as doze faixas do disco que se chamaria JOÃO. Mas esse disco demoraria um ano pra sair, graças a incrível preciosismo do João nas gravações, chegando ao ponto de ter 10 gravações diferentes de uma mesma música, sendo que João escolheria a primeira. O disco demorou a sair, mas foi mais um belíssimo disco do João Gilberto, sendo que nenhuma música era Bossa Nova mesmo. Ele gravou três músicas bem conhecidas que já foram muito tocadas, quatro canções estrangeiras, também com longa experiência em embalar casais de namorados. Mas as faixas restantes é que eram as jóias da coroa – cinco preciosidades da música brasileira. As músicas do disco eram: a maravilhosa e rara Eu sambo mesmo, de Haroldo Barbosa e Janet de Almeida, a também bela e desconhecida Siga, de Fernando Lobo e Hélio Guimarães, depois tem a também rara Rosinha, de Jonas Silva, ex-integrante do Garotos da Lua, no qual foi substituído em 1950 pelo próprio João Gilberto, depois tem o bolero italiano Málaga, de Fred Bongusto, depois tem outro bolero: a bela Una mujer, do francês Paul Misraki, depois tem a rara Eu e meu coração, de Inaldo Vilarinho e de Toninho Botelho, colega de pescaria dos meninos da Bossa Nova,.depois tem o clássico You do something to me, de ninguém menos que Cole Porter, música maravilhosa de 1929, depois tem a também clássica Palpite infeliz, de Noel Rosa, numa gravação expetacular, o primeiro samba de Noel na voz de um nome importante da Bossa Nova, que abriu a porta pra muitos outros depois gravarem músicas do Noel, depois tem a belíssima Ave Maria no morro, clássico de Herivelto Martins, depois tem a também maravilhosa e clássica Sampa, de Caetano Veloso, sendo que essa música é a mais nova do disco de 1977, outra gravação expetacular do João, a também maravilhosa e rara Sorriu para mim, do lendário Garoto e no final o super clássico francês Que reste-t-il de nos amours, de Charles Trenet, música que ficou ainda melhor na voz do João.

No mesmo ano de 1991, o produtor Almir Chediak, funda a Lumiar discos e começa a produzir songbooks de grandes nomes da nossa música, interpretado por diversos músicos brasileiros dos mais diferentes estilos. O primeiro songbook é o do Noel Rosa e sai também em 91. Nesse disco têm duas gravações de Tom Jobim: a sensacional Três apitos e a também bela João Ninguém, pela primeira vez o Tom gravava músicas do Noel, uma paixão antiga que por causa da Bossa Nova e do enorme ligamento do Tom com Ary Barroso e Dorival Caymmi, tinha ficado no esquecimento. Mas Tom gravou essas músicas de uma maneira que deixou todos fascinados, sendo que Almir Chediak chegou a oferecer uma letra de uma música do Noel, pra o Tom colocar letra! Seria uma parceria e tanto: Tom Jobim e Noel Rosa, mas Tom acabou desistindo, o Tom chegou até a pensar em fazer um disco inteiro só de músicas do Noel, mas por problemas com a gravadora, Tom também teve que desistir. Foi uma pena.





Também em 1991, a maravilhosa Joyce é procurada pela lendária gravadora americana Verve pra lançar um disco nos EUA, com vários músicos de Jazz. Como era de se esperar, o disco foi espetacular e se chama LÍNGUAS E AMORES. O disco é uma belíssima ponte entre esses dois mundos: o Brasil e os EUA. O disco começa logo com a fenomenal Caymmis, música que a Joyce fez como é pra se imaginar em homenagem ao grande Dorival Caymmi, com citação da belíssima O mar, clássico de Caymmi, depois tem a faixa título a bela Línguas e amores, também da Joyce, uma música que fala as belezas da língua portuguesa, inglesa e outras pelo mundo, depois tem a expetacular Táxi driver, também da Joyce, uma música em inglês com pedaço em português, com direito a rap do cantor de jazz Jon Hendricks, que é um samba jazz maravilhoso, sem dúvida a melhor música do disco, depois tem a também bela Desafinada, do Mário Adnet e do Cláudio Nucci, inspirada, claro no clássico Desafinado, do Tom e do Newton Mendonça, depois tem uma surpresa, a Joyce cantando Chica-chica boom, que ficou famosa no mundo inteiro na voz da Carmem Miranda, depois tem a também bela Na casa do campeão, música também da Joyce, depois tem a instrumental Bailarina, também da Joyce, depois tem também a bela Duas ou três coisas, também da Joyce, depois tem a maravilhosa Arrebenta, também da Joyce e pra fechar o disco com chave de ouro tem a expetacular Chansong, do nosso maestro soberano Tom Jobim, que fala justamente de línguas e amores.

Em 1992, Tom Jobim lança ao lado da sua Banda Nova, o expetacular disco RIO REVISITED, lançado de um show no templo do jazz Wiltern Theatre ao vivo em Los Angeles em 1987, sendo que esse tour chegou até ao programa do David Letterman, que é o programa mais visto na TV americana. O disco tem participação especialíssima da Gal Gosta que Tom apresenta como “a pretty flower from Bahia: our friend Gal Costa” em excelente fase. As músicas desse disco são: One note Samba, Desafinado, Água de beber, uma interpretação maravilhosa de Dindi, feita pela Gal, Wave, também cantada pela Gal, uma maravilhosa gravação do Tom em Chega de saudade, outro show em Two kites, sendo que Tom, agradece a bela cidade de Los Angeles que ele morou durante dois anos e pede desculpas pelo seu inglês, Samba do Soho, em inglês cantada pelo Paulo Jobim, Sabiá, uma interpretacao de arrepiar do Danilo Caymmi em Samba do Avião, com direito a um “táxi”, falado pelo Tom no final da música, Águas de Março, em inglês, numa gravação também maravilhosa e Corcovado, cantada pelo Tom e pela Gal Costa.