sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

4 - A Crise da Bossa Nova no Brasil - 10ª Parte


10ª parte

Em 1980, João Gilberto faz mais um disco maravilhoso: JOÃO GILBERTO PRADO PEREIRA DE OLIVEIRA, é um disco ao vivo tirado de um especial da TV Globo em homenagem a João Gilberto, as músicas do disco são: Menino do Rio, de Caetano Veloso, Curare, de Bororó, Retrato em branco e preto, uma gravação espetacular de Chega de Saudade, cantando ao lado da filha Bebel Gilberto, Desafinado, O Pato, a belíssima Eu e a brisa, de Johnny Alf, Jou Jou Balangadás, de Lamartine Babo, ao lado da cantora Rita Lee, num inesperado e sensacional dueto a bela Canta Brasil, a sempre emocionante Aquarela do Brasil, Bahia com H, de Denis Brean, Tim tim por tim tim, de Haroldo Barbosa e Geralgo Jacques e o belíssimo bolero Estate, de Bruno Martino e Bruno Brighetti, cantado em espanhol.


Também em 1980, com 12 anos de atraso, o Brasil finalmente conhece uma cantora e compositora maravilhosa: a legendária Joyce. Joyce gravou seu primeiro disco em 1968, mas o sucesso popular só veio com esse maravilhoso disco chamado FEMININA. Nesse disco, Joyce mostrou aos brasileiros, que é um país machista, que uma mulher poderia ser não só uma grande intérprete, mas uma extraordinária compositora como ela é. As faixas desse disco são: a esplendorosa Feminina, o manifesto feminista da Joyce, que acabaria depois sendo sua música mais famosa em todo mundo, Mistérios, a bela e simples Clareana, uma espécie de canção de ninar para as filhas: Clara Moreno e Ana Martins, a brasileiríssima Banana, Revendo amigos, a maravilhosa Essa mulher que foi gravada pela Elis Regina, Coração de criança, Da cor brasileira, a espetacular Aldeia de Ogum, uma música instrumental que tem o espírito dos afrosambas de Baden e Vinícius de Moraes e no final tem a música Compor. Apesar do grande sucesso desse disco, especialmente das músicas Feminina e Clareana, Joyce hoje em dia evita gravar músicas desse disco. Ela falou em uma entrevista que não gosta de gravar essas músicas hoje em dia, pois ela quer gravar músicas novas e hoje acha essas músicas meio ultrapassadas especialmente Clareana, ela falou que atualmente não compõe músicas como naquela época. Outro motivo que ela explicou, é que quando essas músicas Clareana e Feminina fizeram um grande sucesso no Brasil, o diretor da gravadora dela na época falou que queria mais músicas como essas a cada três meses, o que ela ficou brava e saiu da gravadora e alguns anos depois ela sairia do Brasil e iria fazer uma carreira internacional fazendo grande sucesso mundial, especialmente na Europa e no Japão.

No mesmo ano é lançado o disco ARCA DE NOÉ, que era um programa infantil de televisão da Rede Globo, que foi baseado num livro de Vinícius de Moraes e só tinha músicas de Toquinho e Vinícius. O disco tem várias participações e as músicas são: A arca de Noé, cantada por Chico Buarque e Milton Nascimento, O Pato, numa gravação antológica do MPB-4, A corujinha, com Elis Regina, A foca, com Alceu Valença, As abelhas, com Moraes Moreira, A pulga, com Bebel Gilberto, Aula de piano, com as Frenéticas, A porta, com Fábio Júnior, a clássica A Casa, com o Boca Livre, São Francisco, com Ney Matogrosso, O gato, com a Marina Lima, O relógio, com Walter Franco, Menininha, com Toquinho e O final, orquestrado.



Também em 1980, Tom Jobim lança o belo disco duplo TERRA BRASILIS, que reúne todas as fases de sua carreira até então, as músicas do disco são: Dreamer, versão em inglês de Vivo Sonhando, Canta, canta mais, Olha Maria, Samba de uma nota só, Dindi, Quiet nights of quiet stars, Marina del Rey, Off key, versão em inglês de Desafinado, a linda Você vai ver, onde canta com a mulher Ana Lontra Jobim, uma versão instrumental belíssima de Estrada do Sol, uma versão meio soul de Garota de Ipanema com piano elétrico, Chovendo na roseira, Triste, Wave, Someone to light up my life, Falando de Amor, a fenomenal e até então inédita Two Kites, música originalmente em inglês onde ele fala das “coxas celestiais” da mulher amada, Modinha, Sabiá e Estrada Branca. Esse foi o último disco que o Tom fez com arranjos do Claus Orgeman. A bela capa do disco foi feita pelo filho Paulo Jobim.

No mesmo ano, no dia 9 de Julho, acontece mais um fato importante: morre o poeta Vinícius de Moraes, já vinha tempo que ele não estava bem, vivia mal por causa da bebida, várias vezes os médicos pediram para ele parar de beber, ele parava, mas quando melhorava tomava de novo. No dia 8 de Julho, ele e Toquinho, estavam na sua casa no Rio de Janeiro, fazendo os últimos reparos para a trilha sonora da Arca de Noé, já era bem tarde quando acabaram e Vinícius falou que ia tomar um banho e então Toquinho foi dormir. Ao amanhecer, a empregada de Vinícius o encontra esparramado em sua banheira e grita para a mulher de Vinícius e Toquinho para ir correndo, Toquinho ainda encontra Vinícius vivo, mas logo depois ele morre. Foi uma comoção nacional a morte do poetinha. No enterro, uma atriz joga uns goles de uísque no caixão, uns aplaudem, mas muitos vaiam. É sua última dose de uísque. Tom Jobim, seu grande amigo e parceiro não foi ao enterro, como os dois tinham combinados antes, quem morresse primeiro não iria ao enterro do outro. Ele sofreu muito com a morte do Vinícius, tanto que ele voltou a beber e só a companhia da família fez ele melhorar da tristeza da perda do poetinha. Vinícius viveu intensamente, mesmo sabendo que estava mal por causa da bebida ele continuava até a morte, tem uma frase de uma música do Vinícius em parceria com Toquinho, que reflete bem isso: “Quem já passou por essa vida e não viveu, pode ser mais, mas sabe menos do que eu. Porque a vida só se dá pra quem se deu pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu.”

Logo depois o escritor capixaba Rubem Braga, grande amigo do Vinícius, escreve:

Recado de primavera

Meu caro Vinicius de Moraes:

Escrevo-lhe aqui de Ipanema para lhe dar uma noticia grave: a Primavera chegou. Você partiu antes. É a primeira Primavera, de 1913 para cá, sem a sua participação. Seu nome virou placa de rua; e nessa rua, que tem seu nome na placa, vi ontem três garotas de Ipanema que usavam minissaias. Parece que a moda voltou-se nesta Primavera – acho que você aprovaria. O mar anda virado; houve uma lestada muito forte, depois veio um sudoeste com chuva e frio. E daqui de minha casa vejo uma vaga de espuma galgar o costão sul da Ilha das Palmas. São violências primaveris. O tempo vai passando poeta. Chega a Primaveira nesta Ipanema, toda cheia de sua música e de seus versos. Eu ainda vou ficando um pouco por aqui – a vigiar, em seu nome, as ondas, os tico-ticos e as moças em flor. Adeus.



terça-feira, 18 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 9ª parte

9ª parte

Na madrugada de 18 de março de 1976, o pianista brasileiro Francisco Tenório Jr. saiu do hotel que estava hospedado, em Buenos Aires, para comer um sanduíche e cumprar um remédio. Tenório Jr estava na Argentina como acompanhante do Vinícius de Moraes e do Toquinho, que faziam uma temporada em Buenos Aires. Ao sair para a rua, deixaa um bilhete na portaria dizendo o que fora fazer e avisando: Volto Logo. Tenório não voltou – nem naquela noite nem nunca. Na verdade, nunca mais foi visto por seus amigos. E seu corpo nunca foi encontrado, tinha 33 anos.

O “desaparecimento” de Tenório ocorreu na véspera do golpe militar contra a presidente Isabelita Perón. Nos anos seguintes, sob a ditadura do general Jorge Videla, a Argentina viveria cerca de 30 mil casos como o dele. Só que os “desaperecimentos” começaram antes do golpe e o de Tenório foi dos primeiros. Tenório era inocente. Com sua aparência, ee poderia ser confundido como um perigoso “intelectual.” Só em 1986, a história começou a se esclarecer: Tenório foi preso, torturado e morto pela Marinha argentina, com a conivência de elementos da embaixada brasileira em Buenos Aires. Ainda de madrugada, Toquinho e Vinícius deram pela sua falta no hotel. De manhã, apreocupação se transformou em pânico, mas com o golpe nas ruas, bombas explodindo e prisões em massa, Buenos Aires já tinha virado um caos. Vinícius foi procurar o embaixador do Brasi em Buenos Aires, Rodolfo Souza Dantas, que concedeu um hábeas corpus, que nunca tenha chegado ao seu destino. O que se passou a partir daí foi monstruoso: os funcionários brasileiros que deveriam procurar Tenório pra protegê-lo fizeram o contrário. Eles o acharam, mas juntaram-se aos seus algozes. Naquela época não se sabia da existência da “Operação Condor”, um esquema clandestino de cooperação entre os países do Cone Sul – uma troca de favores entre os governos brasileiros e demais países sul americanos, para seqüestrar, torturar e matar além fronteiras.

Em 1977, saiu o belo disco MIÚCHA & ANTONIO CARLOS JOBIM, um belo encontro da cantora Miúcha e do Tom Jobim. As músicas do disco são: Vai levando, de Caetano Veloso e Chico Buarque, com participação do Chico, Tiro Cruzado, de Márcio Borges e Nelson Ângelo, Comigo é assim, de José Meneses e Luiz Bittencourt, Na batucada da vida, de Ary Barroso, Sei lá, de Toquinho e Vinícius de Moraes, também com participação do Chico, Olhos nos olhos, de Chico Buarque, a lindíssima Pela luz dos olhos teus, de Vinícius de Moraes, o fenomenal Samba do Avião, do Tom, Saia do Caminho, de Evaldo Ruy e Custódio Mesquita, Maninha, do Chico e com participação do próprio Chico Buarque, Choro de nada, de Eduardo Souto Neto e Geraldo Carneiro e É preciso dizer adeus, do Tom e do Vinícius.

No mesmo ano há um encontro memorável envolvendo Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho e Miúcha, que rendem o histórico disco gravado ao vivo no Canecão: TOM, VINICIUS, TOQUINHO E MIÚCHA, realmente é um disco memorável que foi produzido pelo grande Aloisio de Oliveira, que disse: "Este show já nasceu feito. Estava somente esperando a hora de ser realizado. Quando a gente se encontra participando de uma realização dessa natureza, não se tem a mínima idéia do que ela representada. Tenho certeza de que mais tarde chegaremos à conclusão de que participamos de um dos maiores momentos de nossa música." Essas palavras foram proféticas. O disco começa com a música Estamos aí, que é o tema de abertura do show, depois entra o Vinícius declamando o seu belo e engraçado poema Dia da Criação, depois ele e Toquinho cantam a maravilhosa Tarde em Itapuã, depois Toquinho faz um belo solo no violão em Gente Humilde, do Garoto, com letra do Chico Buarque e do Vinícius, depois os dois cantam a também maravilhosa Carta ao Tom, a seguir entra o Tom e faz uma paródia engraçadíssima da música que se chama Carta do Tom, depois Tom canta a bela melodia de Corcovado e dá show tocando Wave, depois entra a Miúcha e os dois cantam a belíssima Pela luz dos olhos teus, a seguir os dois cantam Saia do Caminho, depois Toquinho e Miúcha cantam Samba pra Vinícius, numa bela homenagem ao poetinha, depois os quatros cantam Vai Levando, a seguir o Tom e o Vinícius cantam a clássica Água de Beber e a inevitável Garota de Ipanema, relembrando a bela Helô Pinheiro, a eterna Garota de Ipanema, depois os quatros cantam Sei lá, depois Vinícius e Miúcha cantam a também bela Minha Namorada, depois os quatros cantam as fenomenais Chega de Saudade e Se todos fossem iguais a você e encerram cantando de novo Estamos aí. Esse show fez tanto sucesso, que acabou sendo levado pra vários lugares do país e até no exterior.

Em 1979, Tom e a Miúcha lançam mais um disco junto: MIÚCHA & TOM JOBIM, as músicas do disco são: a engraçada Turma do funil, que é uma adaptação que o Tom e o Chico fizeram da clássica marchinha de carnaval do mesmo nome, a música tem participação do próprio Chico Buarque, Triste Alegria, da própria Miúcha, Aula de matemática, do Tom e do Marino Pinto, Sublime tortura, do Bororó, Madrugada, de Candinho e do Marino Pinto, Samba do Carioca, do Carlos Lyra e do Vinícius de Moraes, a bela Falando de amor, do Tom, Nó cego, de Cacaso e de Toquinho e a bela e surpreendente musica Dinheiro em penca, uma moda de viola do Cacaso e do Tom Jobim, com participação do Chico Buarque.

Também em 1979, Toquinho e Vinícius lançam o belo disco 10 ANOS DE TOQUINHO & VINICIUS, que comemora os 10 anos da brilhante parceria entre os dois. As músicas do disco são: um pout-pourri que mistura A benção Bahia, Tarde em Itapuã, Tatamirô, Meu pai Oxalá, Canto de Oxum, Maria vai com as outras e de novo A benção Bahia, depois há mais um pout-pourri, que mistura Um homem chamado Alfredo, Sei lá e O poeta aprendiz, depois há mais um pout-pourri, que mistura O velho e a flor, Veja você e Mais um adeus, depois eles cantam o belo Samba de Orly, a Tonga da Mironga do Kabuletê, depois há mais um pout-pourri, que mistura Como dizia o poeta, Testamento, Para viver um grande amor, Morena flor, Samba da volta e Regra três, depois há mais um pout-pourri, que mistura São demais um perigo dessa vida, As cores de abril e O filho que eu quero ter, depois há um último pout-pourri que mistura Chorando pra Pixinguinha, Choro chorado para Paulinho Nogueira e Carta ao Tom, o disco termina com Cotidiano n º 2.

No mesmo ano acontece um fato histórico: o governo militar aqui no Brasil concede anistia a todos os que foram exilados para fora do Brasil, com isso é o fim do AI-5. O hino da anistia é O bêbado e a equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, interpretado de forma brilhante por Elis Regina.


terça-feira, 11 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 8ª parte


8ª parte

Em 1973, João Donato volta ao Brasil e grava seu melhor disco: QUEM É QUEM. O disco foi produzido pelo Marcos Valle. As músicas do disco são: Chorou, chorou, Terremoto, a espetacular Amazonas, Fim de sonho, a também espetacular A rã, Ahiê, Cala boca menino, um hip hop de Dorival Caymmi (!), Nanã das águas, Me deixa, a maravilhosa Até quem sabe, Mentiras, com participação de Nana Caymmi e a bela Cadê Jodel, parceria com Marcos Valle. Nesse disco começa a parceria do João com o Gilberto Gil e o Caetano Veloso. Esse foi o primeiro disco do João Donato como cantor, na verdade ele nunca quis ser cantor, só instrumentista, quem o fez mudar de idéia foi o grande Agostinho dos Santos. O canto dele lembra muito do amigo João Gilberto, a inflûencia que um teve do outro não se restringiu as esquisitices e sim o canto e o talento musical, isso é o que importa. Anos mais tarde o João Donato falou: Comecei a fazer letra com um monte de gente. Eu ia gravar instrumental dentro de alguns dias e o Agostinho dos Santos falou: ‘Vai gravar tocando piano de novo? Todo mundo já ouviu isso. Se fosse você, eu gravaria cantando’. Como foi uma resolução apressada, colocamos quatro ou cinco letristas. Tinha uma semana para arrumar letras para 12 músicas. Tinha mais de uma pessoa fazendo letras para a mesma música, sem saber! Eu mandava as fitas para todo mundo e chegavam letras diferentes para a mesma música. Meu irmão (Lysias Ênio) fez a letra para "Até quem sabe" e o Dorival Caymmi tinha feito também. Quando ele leu a letra do Lysias, disse: 'Vou rasgar a minha, a dele está melhor'. E rasgou. Eu não devia ter deixado, devia ter ficado com a letra dele e feito outra música em cima (risos).”

Em 1974, acontece um encontro memorável entre Tom Jobim e Elis Regina, que surgiria um disco também memorável: ELIS E TOM. A direção da Philips verificou que a cantora Elis Regina estaria completando 10 anos no elenco da companhia. Depois dos estrondosos sucessos de “Casa no Campo” e “Águas de Março” nos anos anteriores, o então presidente André Midani perguntou a Elis o que ela queria de presente e logo ouviu: “Gravar um disco de músicas de Tom Jobim... com Tom Jobim”.
A inspiração para este projeto vinha de um velho LP de músicas de Tom e Vinicius de Moraes, lançado em 1959 pelo selo Festa - POR TODA A MINHA VIDA, da cantora Lenita Bruno (1926-1987), que reunia canções camerísticas em arranjos do marido Leo Peracchi (1911-1993), ex-professor de Tom. Então marido de Elis, o também arranjador Cesar Camargo Mariano há muito conhecia o LP. Quando o projeto foi proposto, a direção da gravadora convidou para a produção Aloysio de Oliveira (1914-1995), amigo de todos os envolvidos. O orçamento inicial não permitiria levar Elis, Cesar e Aloysio para os Estados Unidos, onde Tom morava há alguns anos. Seria mais barato trazê-lo para o Brasil, mas por algum motivo ele não poderia viajar. Elis e Cesar foram para Los Angeles, onde Aloysio tinha um apartamento, e foram recepcionados no aeroporto por Tom - que os levou para tomar café em seu apartamento e, claro, para uma primeira reunião.
Havia uma tensão no ar, fruto do constrangimento do jovem casal Elis e Cesar diante do ídolo internacional Tom Jobim. Aloysio havia sugerido algumas músicas, após uma primeira conversa em São Paulo, e já ligava para o maestro Bill Hitchcock - contratado para reger o quinteto de cordas porque, por uma norma do sindicato local, o estrangeiro Cesar não poderia fazê-lo sem uma autorização especial que a burocracia certamente retardaria. Mas, de repente, partiu de Tom uma pergunta: “Quem fará os arranjos?” Tom soubera do projeto através de Aloysio, e o aprovara em poucos dias, mesmo sem saber de muitos detalhes. Elis e Cesar já vinham amadurecendo-o há meses e, naquele instante, a pergunta caiu como uma bomba. Cesar lembra-se de que teve vontade de correr “pra casa da mamãe”. A resposta à pergunta de Tom foi dada por Aloysio, mas demorou como uma eternidade. “Quem vai fazer é o próprio Cesar, que trabalha com Elis desde 1970!”
Tom já ficara tenso no início da conversa, quando lhe fora dito que músicos chegariam do Brasil no dia seguinte. “Me explica direito, por que trazer músicos do Brasil? Aqui temos músicos excelentes!” Ao tomar melhor consciência do que o projeto representava, Tom tremeu. “Peraí, esse negócio é muito importante! É a maior cantora do Brasil! Eu não posso...” Segundo Cesar, o auge daquele misto de charminho e insegurança deu-se a partir da informação de quem faria os arranjos. “Você??!! Mas como?”, surpreendeu-se Tom, para o desespero de Elis e Aloysio. Sem pestanejar, Tom pediu à esposa que lhe passasse os telefones de Claus Ogerman e Dave Grusin, que revelaram-se assoberbados ao serem procurados para um projeto tão em cima da hora e não puderam aceitar. Acabou sendo o próprio Cesar que fez os arranjos, que, aliás, ficaram espetaculares. As músicas do disco eram: a mais famosa gravação de Águas de Março, num dueto inesquecível dos dois, Pois é, do Tom e do Chico, a maravilhosa Só tinha de ser com você, Modinha, Triste, a espetacular Corcovado, O que tinha de ser, Retrato em branco e preto, Brigas nunca mais, Por toda minha vida, Fotografia, Soneto da Separação, do Tom e do Vinícius, a maravilhosa Chovendo na Roseira, do Tom e do Aloisio Oliveira e a bela Inútil Paisagem. Findas as gravações, Tom ligou para Cesar e, numa de suas melhores metáforas, sentenciou: “Eu gosto de tomar banho de banheira, com água parada. Já vocês gostam de tomar banho de chuveiro, com água fresca. Fiquei um pouco assustado quando recebi tanta informação nova, trazida pelos jovens”. Foi sua forma de demonstrar simpatia pelo projeto e pela forma como fora realizado.

Em 1975, João Donato, lança um dos seus melhores discos: LUGAR COMUM. É uma espécie de continuação do sensacional QUEM É QUEM, de 1973. Assim como no anterior o Donato canta na maioria das faixas e a maioria das músicas em parceria com Gilberto Gil e Caetano Veloso. As músicas do disco são: a belíssima Lugar comum, Tudo tem, a maravilhosa A bruxa de mentira, a também maravilhosa Ê menina, a explendorosa Bananeira, que vira um clássico mundial, Patumbalacundê, Xangô é de bauê, a inglês Pretty Dolly, parceria com Norman Gimbell, a mais que espetacular Emoriô, que já foi gravada até em inglês, por ninguém menos que Sérgio Mendes, Naturalmente, a suingada com sotaque latino Que besteira e Deixei recado.


Em 1976, Tom Jobim lança mais um disco memorável o espetacular URUBU. O disco é todo inspirado em seu ídolo Villa-Lobos e é um disco totalmente ecológico. As músicas do disco são: Boto, do Tom e do Jararaca, com a participação de Miúcha, mulher de João Gilberto e irmã de Chico Buarque, a bela Lígia, a fenomenal Correnteza, do Tom e do Luiz Bonfá, Ângela, a também fenomenal Saudade do Brasil, uma música instrumental maravilhosa, Valse, do seu filho Paulo Jobim, a espetacular Arquitetura de Morar e o Homem, tirada do disco SINFONIA DA ALVORADA.


terça-feira, 4 de dezembro de 2007

4 - A crise da Bossa Nova no Brasil - 7ª parte


7ª parte

Também no início dos anos 70 surge a banda de rock Novos Baianos, que ficaria na história misturando Jimi Hendrix e Beatles com o Samba e a Bossa Nova. No primeiro disco deles foi todo de rock progressivo, que acabou não fazendo sucesso, mas o produtor Nelson Motta agendou um encontro que mudaria para sempre a cara do rock nacional: Novos Baianos com João Gilberto, quando João Gilberto chegou ao apartamento deles o Paulinho Boca de Cantor, que era o empresário da banda, foi abrir a porta e viu um homem de terno e gravata, com um violão pendurado no braço, achou até que era a polícia, era João Gilberto, quando João entrou tocou vários sambas e bossas e os deixaram embasbacados, especialmente na música Brasil Pandeiro, que ser transformaria no maior sucesso deles no disco ACABOU CHORARE, em 1972. Outra história interessante é que diz a lenda que o nome do dsco surgiu quando em uma das visitas do João no apartamento ele levou a filha Bebel, que nasceu em Nova York, ela não parava de chorar, já que ela não sabia falar português direito ainda, ela num portunhol teria falado quando acabou de chorar: Acabou chorare.

Ainda na década de 70, surge a chamada Era disco, mostrada no filme Nos embalos de Sábado à noite. Logo invade também o Brasil, que teria nas Frenéticas como seu maior ícone. Tudo era discoteca, até Tim Maia entrou na onda.

Em 1971, para comemorar seus dez anos de carreira, Nara Leão lança o disco DEZ ANOS DEPOIS. Por incrível que pareça, é seu primeiro disco totalmente cantando Bossa Nova. As músicas do disco são: Insensatez, Samba de uma nota só, Retrato em branco e preto, Corcovado, Garota de Ipanema, Pois é, Chega de Saudade, Bonita, Você e eu, Fotografia, O grande amor, Estrada do sol, Por toda minha vida, Desafinado, Minha namorada, Rapaz de bem, Vou por aí, O amor em paz, Sabiá, Meditação, Primavera, Este seu olhar, Outra vez e Demais. Ela gravou músicas do Tom, do Vinícius, do Carlos Lyra, do Johnny Alf, mas nenhuma do amigo Roberto Menescal. Isso explica porque quase todas as músicas do Menescal eram em parceria com Ronaldo Boscoli, mesmo casada com Cacá Diegues, Nara nunca esqueceu a traição de Ronal do que até 1961 era seu noivo, acabou virando namorado da Maysa e depois se casaria com Elis Regina.

Em 1972, no DISCO DE BOLSO, que foi lançado no jornal O Pasquim, do Rio de Janeiro, tinha a então inédita Águas de Março, de Tom Jobim e Agnus Sei, de João Bosco, um compositor até então desconhecido, que estava começando.

Também em 1972, Wilson Simonal, até então o cantor mais popular do Brasil, sofre um duro golpe. Houve um desfalque na empresa em que Simonal tinha. Seu contador foi acusado, supostamente, de ter praticado o roubo. Pra aumentar a polêmica ele teria contratado algumas pessoas pra bater nesse contador. Durante os interrogatórios, Simonal foi acusado de ser informante do Dops. Foi condenado em 1972. Simonal ficou desmoralizado no meio artístico-intelectual e cultural da época e sua carreira começou a declinar. O jornal O Pasquim acusou-o de dedo duro. No meio d repressão imposta pela ditadura militar, todos os jornalistas da época falaram que Simonal era informante do SNI. A imprensa o condenou. Ele negou veementemente todas as acusações. Naquela época ser acusado de dedo duro era a pior coisa que podia acontecer, com isso praticamente acaba a carreira de um dos maiores cantores do Brasil em todos os tempos. No ano 2000, depois da morte dele é que a OAB declarou que Simonal era inocente.

Para horror tanto de tropicalistas e desbundados quanto de intelectuais engajados Toquinho e Vinícius passam a produzir trilhas musicais para telenovelas. Começam na TV Tupi com Nossa filha Gabriela e, no ano seguinte, numa atitude que parece imperdoável à esquerda mais radical, já estão na TV Globo, musicando a novela O bem-amado.

Em 1975, voltam a gravar dois discos na Itália: TOQUINHO, VINÍCIUS E ORNELLA VANONI e VINÍCIUS E TOQUINHO, O POETA E O VIOLÃO.

Também em 75, a dupla, ao lado da cantora Joyce, fazem um show memorável em Punta Del Leste, no Uruguai.

Graças a sua nova mulher Marta Rodriguez Santa Maria, que é argentina, os dois começam a serem ídolos também na Argentina. Outras duas mulheres que seriam essenciais para o sucesso da dupla na Argentina foram as cantoras Maria Creuza e Marilia Medalha. Primeiro Vinícius convida Maria Creuza, que está casada com Dori Caymmi. Em 71, os três têm um show programado na Boate La Fusa em Buenos Aires, mas como está brigado com Dori, convida Toquinho para substituí-lo. A grife Brasil, apesar da insânia do regime militar, está em alta. O país acaba de conquistar o tri campeonato mundial de futebol. Exporta a imagem de uma nação grande e vitoriosa. Vende. O show em Buenos Aires é transformado no disco VINÍCIUS, TOQUINHO E MARIA CREUZA EM LA FUSA, sucesso nas paradas argentinas. Silvina Perez, empolgada, contrata o trio para uma temporada mais longa na sucursal da La Fusa, em Mar Del Plata.

Os dois parceiros fazem perto de cem shows em Mar Del Plata, acompanhados depois por Maria Bethania, mais tarde por Chico Buarque e, novamente, por Maria Creuza.

Logo depois os dois trocam a boate La Fusa, que se torna pequena para suas platéias, por imensos teatros da capital. Vinícius descobre que o sucesso chegou, em definitivo, numa noite em que ele e Toquinho, apesar da chuva e do frio, lotam sozinhos um ginásio na cidade de Córdoba. "Acho que nos tornarmos argentinos", comunica ao parceiro. "No Brasil, somos ultrapassados. Aqui, eles nos adoram”. Está tudo dito.