sábado, 20 de setembro de 2008

7 - A Bossa Nova hoje - 9ª parte


9ª parte

Em 2007, é o ano de celebrar os 80 anos de nascimento do maestro soberano: Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o inesquecível Tom Jobim, que nasceu no dia 25 de janeiro de 1927.

No mês de janeiro, há um especial na TV Globo chamado Eu sei que vou te amar, tëm algumas coisas muito importantes das músicas do Tom, mas foi muito pouco, teve apenas 1 hora de duração, não falou nada da vida do Tom e ainda, com a maioria das músicas não deixou completar. Mas apesar de ser fácil meter a lenha na TV Globo, pelo menos foi o único especial que foi passado na TV aberta.

Mas, homenagem merecida que o Tom recebeu foi a caixa com três DVD chamada MAESTRO SOBERANO, que saiu no ínicio do mês de fevereiro pela gravadora Biscoito Fino. São três DVDs, dirigidos por Roberto Oliveira, que destacam aspectos fundamentais formadores da obra e do gênio de Tom.

O primeiro deles é CHEGA DE SAUDADE, com narração de Nelson Motta, mostra as primeiras músicas do Tom, enfoca a criação da Bossa-Nova, a disseminação planetária do movimento, e sua insuspeita permanência como um dos mais representativos estilos da música mundial. As faixas desse primeiro DVD são: Eu não existo sem você, Anos dourados, Lamento no morro, A felicidade, Se todos fossem iguais a você, Eu sei que vou te amar, Canta, canta mais, Chega de saudade, Carta ao Tom 74, Desafinado, Só tinha de ser com você, Água de beber, Você e eu, Só danço samba, Chega de Saudade e Imagina.

O segundo deles é ÁGUAS DE MARÇO enfoca a relação de Tom com a ecologia, narrado por Chico Buarque, que Tom já falou “que toda minha obra foi inspirada na Mata Atlântica”. Mostra a maravilhosa Floresta da Tijuca, o expetacular Jardim Botânico e as músicas ecológicas que o Tom fez, muitas antes até de existir essa palavra ecologia. Tom Jobim sempre foi muito preoucupado com essa questão, ele disse: “sem mato, ar e bicho, não há música”. As faixas desse segundo DVD são: Lenda, Águas de março, Chovendo na roseira, Estrada do sol, Correnteza, Gabriela, Borzeguim, Saudade do Brasil, Sabiá, Vento bravo, Luiza, O boto, O jardim abandonado, Águas de março, Matita perê, Passarim e Ai quem me dera.

O terceiro deles é ELA É CARIOCA, prioriza a ambientação da obra de Jobim no Rio de Janeiro e a paixão do maestro pela cidade, com narração de Edu Lobo. Tom circulava com desenvoltura pela cidade e gostava de fazer comrentários divertidos como este: “O Rio de Janeiro é uma cidade bastante dissipante, você vai a um lugar e acaba em outro”. As faixas desse terceiro DVD são: Ela é carioca, Surfboard, Corcovado, Wave, Retrato em branco e preto, Ela desatinou, Você vai ver, Falando de amor, Eu te amo, Insensatez, Lígia, Luiza, Garota de Ipanema, Samba de uma nota só, Ela é carioca, Samba do avião e Estrada branca.

Os documentários apresentam imagens clássicas de Tom – como o dueto com Elis Regina em “Águas de março” – e também momentos raros da filmografia sobre o maestro – como o espirituoso flagrante do encontro com Edu Lobo no estúdio, durante a gravação do álbum feito pela dupla em 1981. Dois shows antológicos de Jobim e a Banda Nova – um gravado em São Paulo, em 1990, outro no Rio, em 1985 – permeiam registros históricos com o melhor do criador. A herança de Jobim também é flagrada nas imagens do show de Revéillon de 1996, na Praia de Copacabana, em que Caetano Veloso, Chico Buarque, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Gal Costa e Gilberto Gil prestam tributo ao mestre. E também na apresentação do Quarteto Jobim-Morelenbaum, formado por Paulo e Daniel Jobim, Paula e Jaques Morelenbaum. Para os seguidores de Jobim, que têm na fé em Antônio o caminho da salvação pela música, o dia 25 de janeiro equivale a um segundo natal, 80 anos depois do nascimento do mestre e 60 desde o lançamento da pedra fundamental de sua obra.

Prepare-se pra “viver o momento dos momentos”, em Abril chegou o mais novo disco da Bebel Gilberto, que se chama MOMENTO, e é com essa frase na faixa título que Bebel convida a todos a ouvir seu terceiro disco. Esse disco já deu o que falar antes de chegar às lojas do mundo inteiro, pois ninguém sabe como, vazou primeiro pela internet e muitas pessoas no mundo copiaram o disco em MP3. O disco foi co-produzido pela própria Bebel e pelo Guy Sigsworth e é uma maravilha, aliás, como os dois discos anteriores, que levaram a Bebel a ser uma das maiores estrelas da música mundial na atualidade. O cd começa com a bela Momento, que dá nome ao disco, que foi feita pela Bebel, pelo Masa Shimizu e pelo Mauro Refosco, depois tem a maravilhosa Bring back to love, que explodiu nas pistas européias antes ainda do disco chegar, que é uma declaração de amor ao pé do ouvido sussurada pela Bebel, essa música foi feita pela Bebel Giberto, Didi Gutman e a Sabina Sciubba, depois tem a também bela Close to you, também da Bebel, só que em parceria com Guy Sigsworth, depois tem a que talvez seja a melhor música do disco a expetacular Os novos yorkinos, uma faixa bilíngüe com letra em português e em inglês, onde o título da música é uma variação aos Novos Baianos, ela divide o vocal com a Sabina Sciubba, lembrando que a Bebel também é uma nova yorkina, essa música foi feita pela Bebel Gilberto, Didi Gutman e a Sabina Sciubba, depois tem a bela Azul, também da Bebel, com o Guy Sigsworth, depois tem a expetacular Caçada, uma rara música do tio dela Chico Buarque, com direito a banda de pífanos pra reforçar o maracatu dessa música maravilhosa, sem dúvida é a mais surpreendente música do disco, a música ainda tem participação do João Helder e do grande Celso Fonseca, depois tem o super clássico Night and day, de Cole Porter, onde Bebel dá uma aula de como cantar cool jazz, depois tem a expetacular Tranqüilo, do Kassin, onde a Bebel divide a música com a maravilhosa banda brasileira Orquestra Imperial, música gravada no Rio de Janeiro num clima de total desconstração, essa participação da Orquestra Imperial só vem a brilhantar o cd ainda mais, depois tem a maravilhosa Um segundo, da Bebel, com Masa Shimizu, depois tem a bela Cadê você, uma balada com jeito de Nova Bossa Nova, que a Bebel sabe fazer como ninguém, mais uma música da Bebel Gilberto em parceria com Guy Sigsworth, e pra finalizar mais esse disco extraordinário da Bebel tem a bela Words, uma faixa acústica com jeito também de Bebel Gilberto, que fez em parceria com Masa Shimizu e com Erich Batista.

Ainda em 2007 chega depois três anos o novo disco da Clara Moreno, o maravilhoso MEU SAMBA TORTO, ao contrário do expetacular MORENA BOSSA NOVA, nesse cd a Clara Moreno deixa de lado a música eletrônica e volta para a Bossa Nova e alguns sambas antigos. Ela fala que no primeiro disco se inspirou mais na Bebel Gilberto e nesse segundo ela se inspira mais no João Gilberto, que ela gravou algumas músicas que ficaram famosas na voz do mestre. Além do João, fica nítido a semelhança ainda mais da mãe Joyce que consegue ser moderna sem precisar da música eletrônica e do grande Celso Fonseca, que, aliás, produziu o disco ao lado do Rodolfo Stroeter. Esse cd foi feito pela gravadora Farout Recordings, que é a mesma da mãe da Clara, Joyce. As músicas desse disco maravilhoso são: a bela Meu samba torto, que dá nome ao disco, uma nova Bossa Nova inédita feita pelo Celso Fonseca, que participa da faixa tocando violão, depois tem a expetacular Litorânea, também do Celso Fonseca, agora em parceria com Ronaldo Bastos, o Celso aparece nessa música dividindo os vocais com a Clara, depois disso tem a também inédita e expetacular Sabe quem? Feita em parceira da mãe Joyce com Zé Renato, ex integrante do Boca Livre, que tem grande importância na carreira da Joyce, a mãe que participa da faixa tocando violão e o padastro Tutty Moreno tocando bateria, depois tem a bela Sei lá, feita pelo pai da Clara: Nelson Ângelo, a quem ela dedica o disco, depois tem a francesa Mon manege a moi, de Norbet Glanzberg e Jean Constantin, com participação também da Joyce no violão e do Tutty Moreno na bateria, depois tem a clássica Moça flor, uma Bossa Nova maravilhosa do Durval Ferreira e do Lula Freire, que ficou famosa na voz do Tamba Trio, nesse disco cantada pela Clara e pelo Celso Fonseca, depois tem a também clássica Se acaso você chegasse, do Lupícinio Rodrigues e do Felisberto Martins, que ficou famosa na voz da Elis Regina, do Jair Rodrigues e da Elza Soares, no Fino da Bossa, depois tem a expetacular Bahia com H, do Denis Brean, grande clássico na voz de João Gilberto, talvez a melhor faixa do disco, com direito a citação de Chica chica boom, famosa na voz de Carmem Miranda, depois tem o samba Rosa de ouro, do Elton Medeiros, do Hermínio Bello de Carvalho e do Paulinho da Viola, cantada pela Clara Moreno e pelo Celso Fonseca, depois tem a maravilhosa Morena boca de ouro, do Ary Barroso, também famosa na voz de João Gilberto, depois tem o grande clássico Copacabana, do Braguinha, que morreu o ano passado, e do Alberto Ribeiro, depois tem a rara Vem morena vem, do Jorge Ben, tirada do seu primeiro disco SAMBA ESQUEMA NOVO, depois tem a bela Ela vai pro mar, do Celso Fonseca e do Ronaldo Bastos, também com Celso, dividindo os vocais com a Clara e no final a clássica Tenderly, do Walter Gross e Jack Lawrence, música em inglês, um belo jazz pra finalizar o disco.

A cantora e compositora carioca Joyce e o compositor e guitarrista mineiro Toninho Horta estavam se apresentando no Blue Note, em Tóquio, em maio de 1995, quando se deram conta que num certo momento do show, que eles chamavam de “baile” _ quando os músicos saíam do palco e ficavam só os dois _ empreendiam uma verdadeira “viagem” musical a partir de um simples acorde de violão. No repertório sobressaiam sempre as composições de Tom Jobim, falecido cinco meses antes.
Voaram para Nova York com a idéia de um disco dedicado ao maestro. Como só tinham um dia na cidade, gravaram 10 músicas em uma noite, com vocal de Joyce e violão de Toninho. Já no Rio, a pedido do produtor japonês Kazuo Ioshida, gravaram outras duas canções, Estrada do Sol e Frevo de Orfeu, estas incluindo também o violão-base de Joyce. Em Frevo de Orfeu e Esse Seu Olhar, Toninho também participa vocalmente. Com o título de SEM VOCÊ (uma das músicas do disco, de Tom e Vinicius), o CD _ que saíra anteriormente apenas no Japão pela Omagatoki, em 1995 _ está sendo agora em maio de 2007, lançado no Brasil pela Biscoito Fino. A escolha do repertório aconteceu na intuição. “Lembra desta?”, “E aquela? Ah, que bom que você sabe!”. Acostumados a tocar de improviso em shows, como aconteceu em Viena e Copenhagem, por exemplo, amigos desde o início de suas carreiras – participaram do mesmo conjunto musical, A Tribo, nos anos 70, com Nelson Ângelo e Novelli - começaram a gravar SEM VOCÊ na base do improviso, sem ensaio, “um disco de jam session”, como o define Joyce. Das parcerias de Tom com Vinicius de Moraes escolheram quatro: Ela é Carioca, com citação de Garota de Ipanema, Frevo de Orfeu, Só Danço Samba e Sem Você, que deu nome ao CD. Outras duas músicas são parcerias de Tom com Aloysio de Oliveira: Inútil Paisagem e Dindi. Correnteza tem a assinatura de Tom e Luiz Bonfá e Dolores Duran é a letrista de Estrada do Sol. O repertório foi completado com Lígia, Vivo Sonhando, Outra Vez, Este seu Olhar e em teus Braços, com música e letra de Tom. “Rola uma fraternidade entre Toninho e eu”, admite Joyce. “Temos o mesmo background como, por exemplo, o mesmo disco da Julie London com Barney Kessel, onde ela canta Cry me a River. Mais do que Julie London, eu e Toninho somos tarados pelo Barney Kessel. O Toninho mamou nele. E eu, na June Christy. E este disco saiu com a carga emocional pela perda do Tom”. SEM VOCÊ é o segundo disco de Joyce dedicado a Tom Jobim. Em 1987 lançou TOM JOBIM: ANOS 60, com Gilson Peranzzetta, aos 60 anos de vida do compositor, que escreveu ele mesmo o texto da contracapa. SEM VOCÊ acabou ganhando essa edição brasileira em mais uma belíssima homenagem aos 80 do nascimento de Tom Jobim.

Também em 2007, sai o belíssimo cd JOBIM JAZZ, feito pelo Mário Adnet. Jobim Jazz combina arranjos bem trabalhados de Mario Adnet com clássicos do repertório de Tom Jobim e de quebra ainda traz uma lista de músicos de dar água na boca a qualquer produtor e fã da boa música brasileira. Marcos Nimrichter (piano, acordeão), Eduardo Neves (sax tenor), Ricardo Silveira (guitarra), Nailor Proveta (clarinete), Jessé Sadoc (flugelhorn), Helio Delmiro (violão), Marcello Gonçalves (violão de 7 cordas), Andréa Ernest Dias (flauta), Armando Marçal (percussão), Joyce (voz), Vittor Santos (trombone), Romero Lubambo (violão) são apenas alguns dos nomes que você vai reconhecer neste trabalho.
Com arranjos e direção de Mario Adnet, Jobim Jazz apresenta clássicos bem conhecidos e ainda traz também composições mais raras tais como o samba Domingo sincopado de 1956, parceria com Luiz Bonfá. Esta primeira faixa é um samba com muito suíngue e um arranjo dando destaque ao naipe de metais. Até mesmo só com essa primeira faixa este álbum já se justificaria mesmo se o resto do CD não fosse de alta qualidade. Entretanto, conhecendo a qualidade do trabalho que Mario faz, você sabe que pode esperar muito mais. Na faixa seguinte, a mistura de baião e maracatu em Quebra pedra (Stone flower) é enaltecida com a percussão de Armando Marçal e o solo de acordeão de Marcos Nimrichter. Depois tem a rara e bela Sue Ann, tirada da trilha do filme The Adventurers, depois tem o samba jazz de Tema jazz, única música do Tom com citação direta do termo jazz, depois tem Rancho nas nuvens, a sensacional Surfboard, Meninos, eu vi, parceria com Chico Buarque, a clássica Só danço samba, a também rara e bela Paulo vôo livre, onde o Mário divide os vocais com a Joyce, Valsa do Porto das Caxias, Frevo de Orfeu, o choro Bate-boca e a raríssima Polo pny, também tirada do filme The Adventurers. Sem dúvida uma belíssima homenagem ao Tom.

No mesmo ano, sai nos EUA o belíssimo álbum SURRENDER, da cantora de jazz Jane Monheit. Esse cd é uma bela homenagem a música brasileira, especialmente a Bossa Nova e tem participação do Ivan Lins, do Toots Thielemans e do Sergio Mendes. As faixas desse cd são: If you went away, versão em inglês da maravilhosa Preciso aprender a ser só, do Marcos e Paulo Sergio Valle, Surrender, a bela Rio de maio, onde ela divide os vocais em português com Ivan Lins, autor da música, a maravilhosa Like a lover, versão em inglês da belíssima O cantador, de Dori Caymmi e Nelson Motta, o clássico Só tinha de se ser com você, do Tom e do Aloisio Oliveira, também cantanda em português, a também maravilhosa So many stars, com participação de Sérgio Mendes no piano, a clássica Moon river, a bela Overjoyed, de Stevie Wonder, a também maravilhosa Caminhos cruzados, do Tom e do Newton Mendonça, também cantada em português, com participação do gaitista Toots Thielemans e no final a também bela A time for love, Johnny Mandel e Paul Francis Webster.

Uma das melhores surpresas de 2007 foi o disco ONDE BRILHAM OS OLHOS SEUS, que traz a vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai, em sua estréia solo provando ser uma das melhores cantoras do país numa recriação de canções gravadas por Nara Leão. Com produção do marido e também parceiro de Pato Fu, John Ulhôa, que também toca todos os instrumentos, o álbum conecta dois grandes momentos da Música Brasileira, dois universos ricos e criativos, a fase áurea de Bossa-Nova e Tropicália e o momento atual, onde produção, composição e interpretação ganham alta qualidade com nomes fora da mídia e do grande mercado. Fernanda Takai dá nova alma a clássicos, como Insensatez de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e Com açúcar, com afeto de Chico Buaque e atualiza lindamente pérolas esquecidas, como Seja o meu céu, de Robertinho do Recife, uma das melhores do disco. Ciente de suas limitações, assim como Nara, Fernanda explora o sentimento através de sua voz doce e pequena. O resultado se encaixou de forma perfeita ao repertório de Nara, como se as canções tivessem sido feito para ela, como em Canta, Maria de Ary Barroso e Diz que fui por aí de Zé Ketti, outro destaque do álbum. Ao todo são 13 músicas, com versão particulares, numa desconstrução que às vezes causa até estranhamento. Não há fidelidade alguma às versões originais e esse é um dos maiores méritos do trabalho. A bossa, MPB, choro e samba de nomes como Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Caetano Veloso, Zé Kéti, Nelson Cavaquinho, Erasmo e Roberto Carlos e Ary Barroso se transformam em versões discretas e caprichosamente modernas. O cd também tem a primeira regravação de Lindonéia, clássico da tropicália de Caetano Veloso e Gilberto Gil, Luz negra, de Nelson Cavaquinho, a bela Debaixo dos caracóis dos seus cabelos, de Roberto e Erasmo Carlos, a maravilhosa Odeon, de Ernesto Nazareth com letra do Vinícius de Moraes, a espetacular Estrada do sol, de Tom Jobim e da Dolores Duran, Trevo de quatro folhas, que já foi gravada pelo João Gilberto, a belíssima Descança coração, música que pode ter sido a última gravada pela Nara, versão em português da clássica My foolist heart, feita pelo Nelson Motta e Ta-hi, sucesso na voz de Carmem Miranda. . Pop, rock, jazz, soul e em alguns momentos até um clima meio ambient music. Além de John, o disco conta com participações de Lulu Camargo, tecladista do Pato Fu, e Roberto Menescal, que gravou as guitarras de “Insensatez”. Em formato digipack e belo projeto gráfico, o CD vale a pena também pelo belo projeto gráfico, que inclui textos de Nelson Motta, letras das músicas e fotos. Co-produzido por Nelson Motta (que lançou a idéia do projeto), “Onde Brilham os Olhos Meus” foi eleito ‘Melhor Disco’ pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), na categoria popular Um daqueles discos que vale a pena ter em casa e que nos revela uma nova e bela faceta da carreira de Fernanda Takai.

No final de 2007, pela Biscoito Fino sai o belíssmo DVD A Casa do Tom. “Esse negócio de entender de uma coisa, tem que amar. Quando você ama, isso cria uma capacidade. Você se interessa pela coisa, você começa a olhar”. A frase de Tom Jobim foi tão bem entendida por Ana, sua mulher durante 17 anos, que ela lança agora um DVD, pela Jobim Biscoito Fino, com sua história de amor com o maestro, com a família e com a natureza que aprendeu a ver pelos olhos de Tom e tão bem registrou em fotos, publicadas em diversos livros sobre o compositor. A inspiração para este DVD veio do Ensaio Poético, livro que lançou em parceria com o marido em 1987 na Casa de Cultura Laura Alvim. Na época, Ana pensou em fazer um vídeo com Tom que pudesse ser exibido em diversos monitores enquanto durasse a exposição de fotografias do livro. Chamou o primo documentarista Luiz Eduardo Lerina, contratou uma equipe composta por cinegrafista e sonoplasta, e saiu em campo documentando o marido na intimidade. Tudo feito de maneira muito livre, como ela faz questão de dizer. Tom abordava os temas que tinha vontade no momento e ela seguia sua intuição, filmando-o na casa que estavam construindo no Jardim Botânico, no Rio, no sítio da família em Poço Fundo, na serra fluminense e em Nova York. O material resultou em oito horas de gravação. Guardado há exatos 20 anos, de vez em quando Ana se via às voltas com o pedido de alguma televisão que desejava exibir uma imagem ou trechos do trabalho. Ela sentiu que os empréstimos poderiam acabar com o ineditismo e a intimidade dos filmes: “Começamos a ficar meio ciumentos, porque se fosse fragmentado perderia o sentido”. Decidiu então que iria preservar toda a documentação para a hora certa. Não deve ter sido fácil mergulhar nesta memória com passagens muitos dolorosas. Mas ela conseguiu, de certo modo, fazer uma catarse e está feliz com o resultado. Além de lindo, o DVD é emocionante. Narrado pela própria Ana Jobim, tem como fio condutor o poema Chapadão, que Tom começou a escrever quando escolheram o terreno no alto do Jardim Botânico para construírem sua casa: “A casa levou quatro anos para ficar pronta e o poema, oito”, conta ela no DVD.

O poema vai intercalando falas, fotos em P&B e cor, filmes caseiros, filmes profissionais, uma grande entrevista com Tom feita por Ana e histórias saborosas de uma intimidade de amor: “No dia da mudança para o alto do Jardim Botânico”, conta Ana, “a única preocupação de Tom era o piano. Ele mesmo ligou para a transportadora, tomou conta de cada passo, desde a saída da casa antiga, à chegada na casa nova, até a posição do piano na sala”. As locações mudam. Tom pode estar no apartamento de Nova York ao piano e abandonar o teclado para carregar a filha Maria Luiza, ainda um bebê, ou brincando com o filho João Francisco no Central Park ou nos jardins de Poço Fundo. Ou conversando com Narciso, um empregado do sítio, que lembrava os personagens fantasiosos de Guimarães Rosa que Tom tanto amava: “Seu Tom, senhor acredita que eu meti tanta bordoada no lobisomem, que o lobisomem só olhava pra mim com a cara redonda, a orelhazinha curta e todo rupiado. Falei: vai me pegar...”. Esta conversa acontece debaixo de uma mangueira e Tom não perde a oportunidade de exercer seu fino humor: “Você vê: essa mangueira aqui, por exemplo, não dá manga, mas dá água...Isso na verdade, isso não é uma mangueira, isso é o pessoal de Hollywood que veio me filmar...são os cabos da CBS, da NBC”.
Musicalmente, A Casa de Tom - Mundo, Monde, Mondo também é intimista. Tema para Ana, a primeira faixa, é executada por Ryuichi Sakamoto e Jaques Morelembaum, numa gravação feita na própria casa de Ana e Tom. Sakamoto tinha loucura para conhecer o piano do maestro. Ana emprestou a casa – Tom havia morrido oito anos antes – e os dois músicos acabaram gravando todo um CD no piano encantado. Mas Ana guardou uma preciosidade. O próprio Tom interpretando Tema para Ana, que ele nunca gravou comercialmente e ela tinha guardado num gravador caseiro.
Ao todo são 24 músicas, algumas com participações (Dorival Caymmi, Chico Buarque, Maucha Adnet, a própria Ana Jobim, Danilo Caymmi, Paulo Jobim e a pequena Maria Luiza, acompanhando o pai em Samba de Maria Luiza, além da célebre gravação de Garota de Ipanema com arranjo de Eumir Deodato e participação de Jerry Doggion (sax-alto), Ron Carter (baixo), Joe Farrel (flauta) acompanhando o piano de Tom. Nos extras, mais seis canções e dois poemas. Além de Águas de Março, uma verdadeira homenagem a Dorival Caymmi (Maracangalha, Saudades da Bahia, Suíte do Pescador e Maricotinha), uma lembrança de Bororó (Curare) e os poemas Chapadão e Oda a Rio de Janeiro, de Pablo Neruda.
E voltando àquela história “esse negócio de entender de uma coisa, tem que amar”, Ana Jobim dedicou o trabalho aos dois filhos, João Francisco e Maria Luiza, sem esquecer de citar os dois mais velhos, de Tom com Tereza, Paulo e Elizabeth. A Casa do Tom é, principalmente, um resgate do pai para Maria Luiza, que tinha apenas sete anos quando ele morreu.