sábado, 21 de junho de 2008

7 - A Bossa hoje - 6ª parte



6ª parte

No inicío de 2004, finalmente chega ao Brasil o disco da Joyce A BANDA MALUCA, gravado pela Farout Recordings, o disco chegou ao Brasil graças a maravilhosa Biscoito Fino. O disco é extraordinário e mostra aos ingleses que o Brasil tem outras coisas maravilhosas, além da Bossa Nova. As músicas do disco são: a sensacional Banda maluca, onde ela fala do samba globalizado, o xote de Chuvisco, a surprendente e psicodélica Os medos, onde aparecem várias vozes faladas em inglês, alemão, japonês, espanhol, francês e português, a bossa zen de Na paz, a também psicodélica Samba do Joyce, em homenagem ao escritor James Joyce, o forró de For Hall, a francesa L`étang, o forró eletrônico de Galope, uma versão voz e violão espetacular de A hard day`s night dos Beatles, Cartomante, Mal em Paris, Pause bitte, Tufão, com direito a uma citação de O mar de Dorival Caymmi e na faixa bônus mais uma versão sensacional de A hard day`s night.

Também no início de 2004, sai finalmente o mais novo disco de João Gilberto, o nome do disco é JOÃO GILBERTO IN TOKIO, gravado ao vivo no Japão, é mais um disco ao vivo de João Gilberto onde ele grava as mesmas músicas de sempre? Mais ou menos, tem várias músicas que ele já gravou muitas vezes, há outras que ele não gravava faz tempo e até algumas músicas que ele nunca gravou (!), as músicas do disco são: Acontece que eu só baiano, de Dorival Caymmi, que ele nunca tinha gravado, a clássica Meditação, Doralice, que tinha tempo que ele não gravava, Corcovado, mais uma vez, Este seu olhar, outra que tinha tempo que não gravava, Isto aqui o que é, também gravada muitas vezes, a sempre emocionalmente Wave, a engraçada Pra que discutir com madame, Lígia, que também tinha tempo que não gravava, a rarísssima Louco, que ele nunca tinha gravado, de Wilson Batista, Bolinha de papel, que também tinha muito tempo que não gravava, Rosa morena, mais uma vez, a extraordinária Adeus América, que também tinha tempo que não gravava, Preconceito e Aos pés da cruz. Apesar de ter várias músicas famosas e dele gravar pela milésima vez, para os japoneses isso não importa, tanto que quando acabou o show, eles aplaudiram "O Mito" João Gilberto, por exatos 25 minutos. Recorde mundial da história da música. Muita gente aqui no Brasil não gosta que o João cante as mesmas músicas, mas nos Estados Unidos ninguém reclamou do Frank Sinatra gravar Night and day e Fly me too the moon milhões de vezes. E tem gente que diz que os breganejos fazem sucesso no Japão, isso a grande mídia brasileira não fala.

No mês de Julho chega ao Brasil o disco mais esperado no ano na Europa: o cd da Bebel Gilberto, que tem o nome simplesmente de BEBEL GILBERTO. Depois do sucesso mundial do seu disco TANTO TEMPO, em 2000, no qual ela vendeu quase 1 milhão de cópias no mundo todo, ela volta e trás um novo disco tão maravilhoso quanto o anterior. Nesse cd ela privilegia mais ainda a sua porção lounge music e também quase todas as músicas são de composições dela. O cd começa logo com uma versão bem Bossa Nova em inglês de Baby, do Caetano Veloso, que virou clássico na Europa graças a versão dos Mutantes, depois tem Simplesmente, uma bela canção dela, feita um pouco em inglês e um pouco em português, depois tem Aganju, uma música feita pelo marido da prima dela: Carlinhos Brown, com a mãe nos backing vocal, depois tem a belíssima All around, toda em inglês, a Bebel falou que essa foi a melhor musica que ela compôs, depois tem River song, também dela, apesar do nome ela é toda feita em português, depois tem a canção Every day you`ve been away, toda em inglês, feita por encomenda pelo Pedro Baby, filho da Baby do Brasil e o Daniel Jobim, neto do Tom, depois tem Cada beijo, dela também, que ela canta de uma maneira bem sensual, depois tem O caminho, também dela, com o lendário João Donato no piano, ele que é o melhor amigo do pai dela, depois tem Winter, feita em inglês também dela, apesar do nome tem um clima bem de verão, depois tem Céu distante, feita em português também dela, depois tem Jabuticaba, toda feita em inglês também dela, relembrando os tempos de quando ela criança e visitava a casa da avó que tinha um pé de jabuticaba, aliás o disco foi dedicado a ela e no final tem a música Next to you, também dela e em inglês. O cd foi produzido pelo francês Marius de Vries, empresário de Madonna, aliás, foi ela que o indicou para Bebel. O cd é mais uma prova que aquela menina na década de 80 que começou cantando sem sucesso, que só era conhecida por ser filha do João Gilberto e da Miúcha e sobrinha do Chico Buarque, que depois virou a melhor amiga do Cazuza, cresceu e se transformou na maior estrela da música brasileira da atualidade no mundo e está cantando e compondo cada vez melhor, isso sem contar que virou um mulherão.

O ano de 2004, também foi para lembrar dos 70 anos de João Donato, um dos maiores mestres da música brasileira em todos os tempos. Nesse ano saiu dois discos maravilhosos para homenageá-lo.

O primeiro deles é WANDA SÁ COM JOÃO DONATO, uma das maiores musas da Bossa Nova, fazendo um disco fantástico com o mestre João Donato, nem todas as músicas do cd são dele mais a maioria foi ele que compôs. As músicas do disco são: a sensacional Minha saudade, parceria rara com o amigo João Gilberto, Não tem nada não, um medley que mistura Perdido, música dele e Samba torto, de Tom Jobim e Aloísio Oliveira, nada mais natural, pois o Tom falou mais de uma vez o Donato foi um de seus maiores mestres, tem também Falta de ar, Cartão de visita, There will never be another you, Receita de samba, a explendorosa Sambou, sambou, dele com a Joyce, O que é amar, do Johnny Alf, outro grande nome que foi influenciado pelo Donato, a clássica A rã, But not for me, Daquele amor nem me fale, É com esse que eu vou e Quem diz que sabe.

O segundo deles é o belíssimo disco EMILIO SANTIAGO ENCONTRA JOÃO DONATO, um disco mais que esperado pois Emilio Santiago sempre gravou músicas do Donato, e ele o considera um dos seus compositores favoritos. Esse disco que tem participação do próprio Donato no piano. O Emílio decidiu gravar só músicas que ele ainda não tinha gravado, as músicas do disco são: Vento no canavial, a espetacular E vamos lá, em parceria com a Joyce, E muito mais, Nunca mais, as belas Então que tal e Até quem sabe, Sambolero, Everyday, Os caminhos, Pelo avesso, a também bela Mentiras, Surpresa, Clorofila do sol e a sempre emocionante A paz. Sem sombra de dúvida esse foi o ano de João Donato.

Também em 2004, sai o disco CHILL:BRAZIL 3, depois do sucesso dos dois primeiros discos que tiveram músicas selecionadas por Marcos Valle e Joyce, respectivamente. Agora nesse terceiro volume as músicas foram selecionadas por ninguém menos que o ministro da Cultura: Gilberto Gil. O cd, assim como os dois primeiros, são duplos. As músicas do disco são:

Cd 1 – Só tinha de ser com você, com Tom Jobim, Zíngaro, com João Gilberto, Slow motion bossa nova, com Celso Fonseca, Lá vem a baiana, com Jussara Oliveira, Cara valente, com Maria Rita, Você já foi a Bahia, com Nana, Dori e Danilo Caymmi, Circo Marimbondo, com Chico Buarque e Mestre Marçal, Princesa, com Jorge Ben Jor, Teco Teco, com Gal Costa, Cada macaco no seu galho, com Caetano Veloso e Gilberto Gil, Preciso, com Margareth Menezes, Amor meu grande amor, com Barão Vermelho, De repente Califórnia, com Lulu Santos, A Novidade, com Paralamas do Sucesso, Preciso dizer que te amo, com Leo Jaime,
Não me deixe só, com Vanessa da Mata, Refazenda, com Marcelinho da Lua e Rio de Janeiro, com Elza Soares.

Cd 2 – Sampa, com Gilberto Gil, Caminhos Cruzados, com João Gilberto, Só vendo que beleza, com Elis Regina, A Rita, com Chico Buarque, Canto de Ossanha, com Baden Powell, Tudo de bom, com Fernanda Porto, Mais feliz, com Bebel Gilberto, Só deixo meu coração na mão de quem pode, Vestido Vermelho, com a Preta Gil, Socorro, com Arnaldo Antunes, Busca a vida, com Renata Arruda, Se eu não te amasse tanto assim, com Ivete Sangalo, Devolva-me, com Adriana Calcanhoto, Sozinha, com Sandra de Sá, Estácio Holly Estácio, com Luiz Melodia, Navilouca, com Pedro Luis e a Parede, Segredos, com Frejat e Go Back Remix , com Titãs.

Ainda em 2004, sai a belíssima coletânea dupla ANTOLOGIA, do Marcos Valle, onde mostra as músicas em versões orginais que Marcos Valle fez para os discos da Odeon, de 1963 a 1974. Essa coletânea mostra além dos grandes sucessos, de um dos maiores nomes da música mundial na atualidade, várias raridades.

As músicas do disco são:

Cd 1 – Amor de nada, E vem o sol, Tudo de você, Razão de amor, a de sempre Samba de verão, A resposta, Gente, Não pode ser, Preciso aprender a ser só, Viola enluarada, num dueto espetacular com Milton Nascimento, Próton Elétron Nêutron, Bloco do eu sozinho (alguém lembrou aí de Los Hermanos?), uma interpretaçao maravilhosa de Terra de ninguém, num dueto com os Golden Boys (!), Ultimatun, Beijo sideral, Os dentes brancos do mundo, Samba de verão 2 e no final a sempre maravilhosa Mustang cor de sangue.

Cd2 – Batucada surgiu, a espetacular Os grilos, Quarentão simpático, Freio aerodinâmico, Com mais de 30, Que bandeira, Garra, a maravilhosa Black is beautiful, com um dueto com a desconhecida Marizinha, Wanda vidal, O beato, Malena, Revolução orgânica, Não tem nada não, Mentira, Nem paletó nem gravata, Casamento filhos e convenções, Nossa vida começa com a gente e no final Meu herói.

Ainda em 2004, saiu o cd MORENA BOSSA NOVA, da cantora Clara Moreno, mas quem é Clara Moreno? Vocês devem estar se perguntando. Clara Moreno é carioca da gema. Filha de dois artistas consagrados da música brasileira – a expetacular Joyce e o compositor e violonista Nelson Ângelo. Vem atuando na cena brasileira de música desde a década de 90, tendo lançado CLARA MORENO e MUTANTE os dois pela gravadora japonesa Avex e pelo selo brasileiro Cucamonga em parceria com a Avex, que também lançou este CD com remixes de DJs, entre eles: Ashley Beedle e Joe Claussell, obtendo com os mesmos, expressivas críticas da imprensa e apresentações aqui no Brasil e no exterior como o Bossa Getz Festival em Tóquio, e o Jazz Café em Londres.
MORENA BOSSA NOVA
marca o encontro de Clara com o produtor e músico Rodolfo Stroeter e com o selo Pau Brasil/ YB music. O CD apresenta um repertório que abrange composições de Joyce, Celso Fonseca, Rodolfo Stroeter, Gilberto Gil, Tom Jobim e Henry Salvador. Em MORENA BOSSA NOVA o ecletismo musical de Clara se mescla com arranjos inéditos e a sonoridade do CD prima pela originalidade da criação destes. Interpretando duas canções inéditas da mãe Joyce: as maravilhosas Heavy Telecoteco e Morena Bossa Nova, além de regravar a explendorosa Aldeia de Ogum, também de Joyce, que virou um samba-house pra ninguém botar defeito. Clara passeia pelo samba, pela new bossa e pela música cantada sem palavras. Do compositor carioca Celso Fonseca, Clara recebeu uma composição inédita Outras Praias, além de regravar a já clássica Slow Motion Bossa Nova e a maravilhosa Samba é Tudo, do mesmo Celso Fonseca e de Ronaldo Bastos. Já as inéditas composições Eletromblé, Mercado da Mãe Preta, Kabrum
e Feiticeira, de Rodolfo Stroeter contribuem para a variação temática e rítmica do CD. Completando o repertório, a conhecida composição Ela, de Gilberto Gil, além de Solidão, uma rara música de Tom Jobim e o sucesso de Henry Salvador Dan Mon Ilê, com citação de Garota de Ipanema, recebem também arranjos diferenciados.A colaboração de Clara em MORENA BOSSA NOVA com alguns dos melhores músicos brasileiros da atualidade como Marcos Suzano, Joyce, Teco Cardoso, Robertinho Silva, Tutty Moreno, Nailor “Proveta”, Webster Santos, Celso Fonseca, Rodolfo Stroeter, Zé Pitoco – além da presença do tecladista norueguês Bugge Wesseltoff – eleva a condição de modernidade e de espontaneidade que permeia o CD. A bossa de Clara Moreno é carioca e cosmopolita, vai do Rio para o mundo em uma parabólica esperta. Sim, é bossa. Mas o tempo é outro, o clima é novo e o som é globalizado. Clara Moreno sabe disso. Saindo da Joyce, realmente não podia esperar coisa diferente, pra os saudosistas Clara é a primeira metade da música Clareana.

Também em 2004 sai a bela colêtanea RETRATOS – WILSON SIMONAL. Uma bela homenagem a um dos maiores cantores que o Brasil já teve. O disco começa com o clássico Lobo bobo, de Carlos Lyra, depois tem a bela e pouco lembrada Chuva, de Durval Ferreira e Pedro Camargo, depois tem Inútil paisagem, do Tom,.monstrando uma fase bem Bossa Nova e um pouco diferente da habitual do Wilson Simonal, onde se lembra da voz do grande Agostinho dos Santos, depois tem Lágrima flor, do Billy Blanco, depois tem a expetacular Sá Marina, uma das músicas mais famosas cantadas pelo Simonal, depois tem o “samba jovem” da desconhecida Juca bobão, de Del Loro, depois tem a primeira música de pilantragem de todos os tempos: Mamãe passou açúcar em mim, do Carlos Imperial, depois tem o clássico Tributo a Martin Luther King, do Simonal com Ronaldo Boscoli, o hino negro que ele dedicou ao filho dele Wilson Simoninha, depois tem a bela e desconhecida Meia volta (Ana Cristina), do Antonio Adolfo, depois tem Telefone, do Roberto Menescal, depois tem Balanço Zona Sul, do Tito Madi, depois tem Nanã, outro hino negro, do mestre Moacir Santos, que na voz do Simonal virou um clássico mundial, depois tem a belíssima Duas contas, do Garoto e finalizando esse belo cd a fenomenal Rapaz de bem, do Johnny Alf, a primeira Bossa Nova de todas.

O ano de 2004, também é o ano de relembrar os 10 anos da morte de Tom Jobim. A Som Livre lança o belo disco TOM JOBIM LOUNGE, produzido e remixado pelo Dj Grecco. Na verdade o cd é uma remixagem do OLHA QUE COISA MAIS LINDA, mas tirando algumas músicas. O cd, com certeza, é daqueles para se fazer caixa, mas como sempre gosto de dizer: é melhor fazer caixa com músicas que prestam de que fazer com músicas horríveis, como tem vários por aí. As músicas do disco são: Corcovado, com Daniela Mercury, Garota de Ipanema, com Simone, Luiza, com Carlinhos Brown, How Insensitive, com Paulo Ricardo, Eu sei que vou te amar, com Paulinho Moska, Lígia, com Orquestra Som Livre, Samba do avião, com o MPB-4, a única do disco que não estava no cd OLHA QUE COISA MAIS LINDA, A Felicidade, com Martinho da Vila, Wave, com Lenine, Triste, com Zé Renato, Desafinado, com Quarteto em CY, Águas de Março, com João Bosco, Sem você, com Leila Pinheiro e O amor em paz, com Ivan Lins.

O ano de 2004 lembrou os 30 anos de um dos maiores discos de todos os tempos: ELIS & TOM. E essa data não podia ser esquecida, a Trama, do João Marcelo Boscoli, filho da Elis e a Universal, dona dos direitos do disco se juntaram e chamaram César Camargo Mariano, na época marido da Elis e produtor do disco, para remixar, no caso mixar de novo. ELIS & TOM foi remixado no Estúdios Trama pelo engenheiro Luis Paulo Serafim sob a supervisão de Cesar Camargo Mariano, a partir dos masters originais de 8 canais das sessões de gravação - realizadas na Califórnia, nos Estúdios da MGM, em março de 1974.

Para ficar o mais fiel possível ao disco original, César chamou o mesmo que mixou o disco e colocou todos os instrumentos na mesma ordem do lp original. Ele fez além, fez com que 30 anos depois pudessémos ouvir as conversas impagáveis do Tom e da Elis, além até da respiração da Elis enquanto cantava, tudo isso em formato de DVD – Aúdio, que fez com que a qualidade sonora ficasse muito melhor do que a de um cd normal. Além dos clássicos do disco que são: Águas de Março, Pois é, Só tinha de ser com você, Modinha, Triste, Corcovado, O que tinha de ser, Retrato em branco e preto, Brigas nunca mais, Por toda a minha vida, Fotografia, Soneto de separação, Chovendo na roseira e Inútil paisagem. O DVD – Aúdio tem duas faixas bonus: uma outra versão de Fotografia e Bonita, música que Elis não quis colocar no disco, pois não gostou do seu sotaque em inglês, além de tudo ela era modesta (!). A caixa vem o DVD – Aúdio e um cd normal. Nunca “Elis & Tom” soou tão bem, mantendo fidelidade ao trabalho original e só oferecendo como diferencial a QUALIDADE do áudio - preservado da melhor forma para as futuras gerações.

Em 2004, finalmente saiu o mais novo disco do Bossacucanova: UMA BATIDA DIFERENTE. Como nos dois discos anteriores o cd tem várias participações especialissímas. Como no BRASILIDADE, eles tocam todas músicas, mas ao contrário do anterior, em que quase todas as músicas são instrumentais, nesse disco todas são cantadas. As músicas desse belíssimo cd são: a inédita Bom dia Rio, cantada pelo Roberto Menescal e a Cris Dellano, parceria do BCN e do Nelson Motta, uma delícia de bossa lounge, com um sampler de uma entrevista do Menescal de 1968, depois tem O samba da minha terra, clássico de Dorival Caymmi, cantada pela banda holandesa (!) Zuco 103, depois tem Essa moça tá diferente, do Chico Buarque, cantada brilhantemente pelo Wilson Simoninha, depois tem a inédita Previsão, parceria da Adriana Calcanhoto com o BCN, cantada pela própria Adriana e com Léo Gandelmann no sax, depois tem Eu quero um samba, do Haroldo Barbosa, que ficou famosa pelo João Gilberto, cantada pela Cris Dellano, com o grande Bebeto no violão, depois tem a inédita Just a samba, parceria do Celso Fonseca, com a BCN, cantada pelo próprio Celso Fonseca, depois tem a também inédita Queria, feita em parceria do BCN com ninguém menos que o maior mestre dessa Nova Bossa Nova: Marcos Valle, cantada pelo próprio Marcos, depois tem a clássica Waters of March, cantada pela Cris Dellano, depois tem Bonita, também do Tom, com o Roberto Menescal no violão, que foi transformada num delicioso samba-house, depois tem a maravilhosa Feitinha pro poeta, do mestre Baden Powell, feita por encomenda a Vinícius de Moraes, cantada pelo Menescal, depois tem Onde anda meu amor, do Orlan Divo, cantada pela Cris Dellano e pelo próprio Orlan Divo, também com o Bebeto no violão e no final, Vai levando, do Caetano Veloso e do Chico Buarque, cantada pelos mestres do samba-rock: Trio Mocotó. O cd conseguiu ficar ainda melhor que o excelente BRASILIDADE, com certeza o Bossacucanova veio pra ficar.

Também em 2004, saiu finalmente o disco do Marcos Valle CONTRASTS, que foi produzido por um DJ (Roc Hunter) e, inicialmente, foi lançado apenas na Europa e no Japão, pelo selo inglês Far Out. Agora, ganha lançamento nacional, via gravadora Trama. Se tem algum motivo de o Brasil ser hype na Europa atualmente, o compositor Marcos Valle e seus relançamentos que saíram nos anos 90 têm boa parcela de culpa disso. Ele foi responsável por influenciar muitos DJs a misturar MPB com eletrônico, principalmente drum'n'bass.

CONTRASTS deixa nítido em suas 11 faixas inéditas a principal marca de Marcos Valle: fortes melodias e sofisticação harmônica envolvidas em ritmos que sempre influenciaram suas composições como o samba, o baião e o funk. O violão é presença forte no álbum, fazendo o contraponto com sutis grooves eletrônicos, que ficaram por conta do DJ inglês Roc Hunter.
Além de produzir e fazer os arranjos de CONTRASTS, Marcos Valle canta, toca violão, piano acústico, Fender Rhodes, órgão Hammond, piano Wurlitzer, escaleta e teclados no álbum. O irmão e parceiro de sempre Paulo Sérgio Valle comparece com a deliciosa Água de Coco, que lembra a clássica Água de Beber, do Tom e do Vinícius e em Passatempo, um surpreedente baião, a excepcional cantora e compositora Joyce com Besteiras de Amor e na expetacular Valeu, (na qual também canta), que é a melhor faixa do disco e o letrista Ronaldo Bastos com Disfarça e Vem, a maravilhosa Nega do Balaio e My Nightingale, única música em inglês do disco, tem também Contrasts, faixa que dá nome ao trabalho, é um belo tema instrumental, o cd ainda tem o Tema do Tiago, mais uma música instrumental, a expetacular Parabéns (Dança do Daniel), essa música e a anterior são em homenagens aos seus filhos: Tiago e Daniel, a última música do disco é o baião-funk Que que tem. E como faixas-bônus foram incluídos no álbum três remixes de DJs europeus, que já eram tocadas em clubs antes mesmo do CD ser lançado por lá. As músicas remixadas foram: Valeu, remixada pelo 4 Hero, Parabéns (Dança do Daniel), remixada pelo Daz I-Kue e Bugz in the Attic e a última é Nega do Balaio, remixada pelo Buscemi`s Jungle Jazz. Esse cd é uma prova que Marcos Valle está cada vez mais integrado com a música eletrônica e cada vez melhor. Sem dúvida é o melhor disco que Marcos Valle fez pela Farout.

Ainda em 2004, pela Farout Recordings saíram duas coletâneas maravilhosas glorificando a música brasileira. A primeira é BRAZILIAN LOVE AFFAIR 5, é o 5º lançamento dessa série maravilhosa. As músicas do disco são: O sonho, com Democústico, A paz, com a Nina Miranda e Troblemann, Suspeita, com Os Ipanemas, Te querendo, com Azimuth, Estação Verão, com Sabrina Malheiros, Chuva, com Vertente, Galope, com a Joyce, Tarde em Itacuruca, com José Roberto Bertrani, Ida e volta, com Grupo Batuque, Água de coco, com Marcos Valle, Sob o mar, com Friends from Rio, Neon Dawn, com Viper Squad e Café Sem, com Mamound.

A 2ª coletânea é a também maravilhosa BRAZILICA, com algumas músicas brasileiras que fizeram sucesso e marcaram a história dos 10 anos da Farout, remixadas pelo dj Kenny Dop. As músicas do disco são: Sertão, com Os Ipanemas, Taruma, com Grupo Batuque, Fibra, com Paulo Moura, Escravos de Jó, Sob o mar e Zona Sul, as três com Friends from Rio, Ponteio, com Da Lata, Fundo falso, com Marcos Valle, Icaraí, com Os Ipanemas, Percussion breakdown, A sereia, com Democustico, Pregiciman, com Mamond, Água, com Nina e Crhis, Estação verão, com Sabrina Malheiros, Las luces del norte, com Los Ladrones, Without words, com Natures Plan, Vera cruz, com Friends from Rio, Torcida do Flamengo, com Grupo Batuque, Apaixonada por você, com Marcos Valle e Sunderley Samba, com Azimuth.

Também em 2004, sai o mais um disco do Marcelo D2: MARCELO D2 ACÚSTICO MTV, com músicas do seu primeiro disco solo que foi EU TIRO É ONDA, o seu segundo que foi A PROCURA DA BATIDA PERFEITA, mais duas músicas do Planet Hemp. Sai o cd e o DVD. As músicas do disco são: Vai vendo, a maravilhosa A maldição do samba, A procura da batida perfeita, Eu tive um sonho, 1967, com Canto de Osanha, como música incidental, Batidas e levadas, Contexto, com Bnegão, do Planet Hemp, com citação da maravilhosa Mentira, do Marcos Valle, o samba-jazz de Samba de primeira, com citação de Tim dom dom, Encontro com Nogueira, Profissão MC, Pilotando o bonde da excursão, Batucada, a expetacular Espancando o macaco, do João Donato, com o próprio no piano, a clássica Mantenha o respeito, do Planet Hemp, também com João Donato no piano, CB (Sangue Bom), com o americano Will I am, da banda Black Eyed Peas, Sessão, uma versão reggae de Lodeando, com o filho Stephan e a já clássica Qual é. Realmente é um dos melhos discos do ano e Marcelo D2 já pode se considerar um verdadeiro arquiteto da música brasileira.

Também em 2004, só que nos EUA sai o disco BOSSA CUBANA, com o grupo cubano Sexto sentido e “the king of Bossa Nova” João Donato, como saiu na capa. Esse disco reforça mais a idéia de que verdadeiramente foi João Donato que começou essa onda latina na música americana ainda nos anos 60. As músicas desse disco são: Bossa cubana, uma versão latin lover de The girl from Ipanema, Come together, The secret life of plants, Vento no canavial, Baby don’t cry, It`s probably me, Michelle, a clássica Bananeira, que ganhou o mundo graças a Bebel Gilberto, Jungle fever, Es nuestra cancion, Wait for me, Crazy, Lush life e Send one your love.

Em novembro pela gravadora Biscoito Fino sai o belíssimo disco inédito TOM JOBIM EM MINAS AO VIVO PIANO EM VOZ. Foi durante as águas de março de 1981 que o público presente no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, assistiu pela primeira vez, em 20 anos, a um recital de Antonio Carlos Jobim na capital mineira. Ainda tocado pela perda do poetinha Vinicius de Moraes, que morrera há menos de um ano, Tom recriou de maneira particularmente emocionada algo essencial de seu cancioneiro e homenageou seus principais parceiros de vida e música.
Só com o piano, Tom cantou, tocou e conversou, soberano das artes seja em que palácio for, como se estivesse na sala de visitas de sua própria casa – ou na sala de qualquer um de nós. São 18 músicas, duas com Newton Mendonça, duas com Dolores Duran, duas com Aloysio de Oliveira, uma com Chico Buarque, sete com Vinicius, quatro só de Tom. Era o segundo e último dia de apresentação do maestro em Belo Horizonte, a convite de uma fundação local.

De saída, Tom demonstrou que a noite seria mesmo confessional: “Não sou muito de fazer show. Quem me levou pra este negócio foi o Vinicius, o Toquinho, A Miúcha”. E prosseguiu: “É fácil fazer show escorado em músicos, parceiros, orquestra grande. (Desta vez) preferimos fazer uma coisa mais íntima porque a gente não pode ser aquele menino tímido pra sempre, né?”, gracejou o maestro, no plural, como se falasse também pelo piano, antes de dedicar o show aos parceiros, “que muito me ajudaram”.
O primeiro parceiro citado foi Newton Mendonça, em Desafinado e Samba de uma Nota Só, dois dos maiores standards internacionais da obra de Jobim. Sobre a primeira, contou o maestro que a princípio “ninguém quis gravar, os editores não queriam editar e nem João Gilberto quis nada com ela”. Em seguida, Jobim falou de “uma moça chamada Dolores Duran. Eu tava fazendo uma música com Vinicius. Fomos à rádio nacional e lá estava a Dolores. Toquei a música, ela tirou o lápis de sobrancelha da bolsinha, em cinco minutos escreveu a letra e botou assim: Vinicius, dois pontos. Outra letra é covardia”. Tom tocou Por Causa de Você, a obra prima tirada da caixa de maquiagem de Dolores Duran, e engatou outra parceria com Dolores, Estrada do Sol, a única de todo o concerto executada em versão instrumental. O início da parceria com Vinicius de Moraes já foi esmiuçado por diversos pesquisadores. Mas nada como ouvir contada por Tom. “Ele era diplomata e veio de Paris com a idéia de fazer uma peça de teatro chamada Orfeu da Conceição. Chegou no Rio e procurou um músico para compor com ele as músicas da peça”, disse, como quem confidencia ao ouvido de cada espectador. Confirmou que o primeiro a ser procurado por Vinicius foi o veterano Vadico que, adoentado, recusou a oferta. Até que se deu o mitológico encontro no Bar Vilarino, no centro do Rio, numa noite de 1956. “Lucio Rangel me apresentou ao Vinicius, que me levou ao grande mundo carioca, em casas com pianos de cauda e senhoras bem lavadas. Eu andava com uma pastinha cheia de arranjos, competindo com o aluguel. Perguntei: Escuta tem um dinheirinho nisso? Lucio ficou escandalizado: ô Tom Jobim, esse aí é o poeta Vinicius de Moraes. Eu digo, ah bom” recorda, sob a cumplicidade de risos radiantes. Tom mencionou “alguns sambas meio bobos jogados na lata do lixo, até que apareceu um samba bom”, e iniciou uma seqüência de tirar o fôlego: Se Todos Fossem Iguais a Você, Água de Beber, Eu não Existo sem Você, Modinha, Chega de Saudade. Dindi e Eu Preciso de Você representam a parceria com Aloysio de Oliveira. Depois de Aloysio, Tom falou de um certo “parceiro meu de olhos azuis, que dizem que são verdes, depende da luz do dia. O rapaz é um gênio, é craque mesmo, tipo Pelé, Garrincha”, situa, antes de proporcionar ao público uma apresentação magistral de Retrato em Branco e Preto. No piano, o contraponto dos graves, com as teclas agudas solando a melodia, deram a medida dos dias tristes e noites claras propostas pela letra de Chico Buarque de Hollanda.

Conhecedor das pedras do caminho, Jobim anunciou, por fim: “um rapaz aqui um tanto dispersivo. Meu parceiro também, um tal de Tom Jobim”. A introdução de Corcovado fez Belo Horizonte vislumbrar o Redentor de alguma janela do Palácio das Artes. Os olhos de LígiaFalando de Amor. No final, a enxurrada melódica e poética de Águas de Março e o bis de Garota de Ipanema. ANTONIO CARLOS JOBIM EM MINAS nos transforma em testemunhas auditivas e sensoriais de uma das mais felizes noites da história da música brasileira, isso 10 anos depois da morte do nosso maestro soberano, o Tom maior da música brasileira. abrangem versos pouco conhecidos antecipando o samba-choro

No final de 2004 a gravadora Dubas, de Ronaldo Bastos, deu um grande presente para quem gosta de um som moderno, pesado e suingado: o CD do raro primeiro LP do baterista Dom Um Romão, gravado no Rio no nunca demais celebrado (para a música instrumental) ano de 1964. E DOM UM (Dubas/Universal) traz, além de sua evidente exuberância musical, muita das características desse som brasileiro de 1964. Traz, em primeiro lugar, aquele lance de pratos inconfundível do estilo de Dom Um (e de Edison Machado) que, das sessões de jazz do Beco das Garrafas, tanto influenciaria os bateristas de samba, bossa nova e jazz brasileiro. É o vibrante “samba no prato” que caracteriza o som do Beco, do samba-jazz. Logo na primeira faixa, Telefone (de Roberto Menescal), e por todo o disco o estilo de Dom Um está íntegro, os pratos na frente, a marcação firme com o pé no bumbo e a baqueta “deitada” sobre o aro da caixa num balanço incrível.
Depois do estilo, o repertório é também tipicamente 1964. Convivem Bossa Nova (Telefone, Zona Sul, esta inspirada melodia de Luiz Henrique) e canção de protesto (o samba de morro, de Zé Ketti, Diz que fui por aí, e a nordestina Fica mal com Deus, de Geraldo Vandré); temas inspirados no candomblé, como Samba nagô, Consolação, de Baden Powell, e Birimbau (Capoeira), de João Mello e Codó, e um refinado standard como Vivo sonhando (de Tom Jobim), este aliás com arranjo de sopros originalíssimo de Waltel Branco, com solos vigorosos de Paulo Moura no sax soprano e do trombonista Edson Maciel “Maluco”; brincadeiras formais do sambalanço de Orlandivo, Jangal (parceria com o percussionista Rubens Bassini) e Zambezi (com Roberto Jorge), interessantíssimas para bateria; e complexos temas jazzísticos de Waltel Branco, África e Dom Um Sete, verdadeiros desafios técnicos.
Por fim, mais 64 impossível, há os músicos que acompanham Dom Um, comuns aos grandes discos de samba-jazz, achados nos Moacir Santos, Meirelles, Sérgio Mendes, etc. Como os trompetistas Pedro Paulo, Maurílio, Hamilton e Formiga; J.T. Meirelles e Jorginho nas flautas e sax altos; a seleção brasileira de tenoristas: Paulo Moura, Cipó (autor de dois arranjos), Zé Bodega (da Tabajara), Sandoval, Juarez e Bijou, e, curiosamente solando em Dom Um Sete, o chorão
K-Ximbinho; Bassini e Jorge Arena nas percussões e muitos outros grandes músicos da época, com destaque para o solo de sax barítono de Aurino Ferreira em Fica mal com Deus.
Idealizado e produzido por Armando Pitigliani — produtor que um ano antes lançara o igualmente seminal, e muito mais popular, SAMBA ESQUEMA NOVO, de Jorge Ben, também com Dom Um Romão na bateria — DOM UM carrega o espírito da época. Hoje sendo reverenciado pelos djs londrinos.